Capítulo 31

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Diziam que a dor de um amor passava com o tempo, mas ela tinha certeza que a sua aumentaria. Não precisava de meses para entender isso, um dia já era suficiente para entender que essa dor a acompanharia para o resto da vida. Estava na Brás, algumas pessoas a olhavam estranho por ter voltado a empresa ainda como secretária de Fernanda, mas ela não aceitaria qualquer outra coisa.
Fernanda estava em uma reunião e ela estava aproveitando para olhar suas fotos no celular. Fotos de uma viagem que certamente seria inesquecível. Miguel estava tão lindo, leve e sorridente. Tão apaixonados.
Angélica foi rápida em largar o celular e secar uma lágrima teimosa, olhou para o lado para ver se alguém tinha visto seu momento de fraqueza, mas todos estavam muito envoltos em seus próprios problemas.
Seu celular apitou, era uma mensagem de Berenice. Angélica resolveu então ligar para a amiga.
— Como você está? — foi a primeira que Berenice perguntou quando atendeu.
— Péssima. — Angélica respondeu sem negar.
Berenice olhou de relance para Miguel e suspirou.
— Ele não está muito melhor que você.
— Eu fiz o que era o certo a se fazer.
— Amiga...
— Marquei o teste do Caio para sábado! — Angélica tratou logo de desviar o assunto.
— Vou avisar para ele, o garoto já está todo animado!
A ruiva sorriu.
— Acho que vai ser bom para ele.
— Muito obrigada pela força, de verdade. — Berenice agradeceu antes de se despedir da amiga e desligar o telefone.
A morena se aproximou do patrão devagar. Ele estava sério, não tinha sorriso nem por um segundo.
— Ela está péssima, Miguel.
O agrônomo suspirou e olhou para Berenice.
— Eu vou resolver isso, logo as coisas vão voltar ao que eram... não vou desistir de Angélica.
— Mas a Fabiana?
— Eu vou resolver isso com meu advogado, pode ter certeza.
Angélica tinha ido almoçar em um restaurante próximo a Brás. Queria ficar sozinha, pensar um pouco. Fernanda e Tobias tinham a chamado para almoçar, mas Angélica escolheu tirar esse tempo para ela. Caminhava devagar pelas ruas até chegar em um ambiente que pareceu acolhedor, um restaurante de comida caseira.

Sentou-se à mesa. Olhou tudo ao redor, uma decoração delicada. Nas mesas, amigos, famílias e casais se reuniam, comemoravam o bom da vida. Sentiu inveja. Sinceramente tinha pouco para comemorar. Seu celular apitou com uma mensagem de Ramiro. Sorriu, ele era tão preocupado.
Mas seu momento durou poucos minutos, depois que fez o pedido de sua bebida e passou a olhar o cardápio, uma voz que há tempos não ouvia apareceu atrás dela para assombra-la.
— Que prazer te encontrar aqui, Angélica.
Olhou para o lado como diabo que foge da cruz. Seus olhos pareciam que iriam saltar, seu coração explodir. O sangue fugiu de suas veias. Era ele.
— Bernardo...
Ele arrumou o terno e se sentou na cadeira na sua frente com um sorriso sínico.
— Faz tempo que não nos vemos. Como tem passado?
Angélica o olhava assustada.
— Vai embora, Bernardo.
— Deve estar muito bem, filha de Ramiro Viana... acho que o desemprego não te assola mais?
A ruiva fez como quem iria se levantar, mas Bernardo foi rápido em tirar três fotos de dentro do terno. Colocou-as em cima da mesa como cartas de baralho. Uma a uma bem devagar, chamando a atenção de Angélica. Se para a ruiva o sangue já tinha ido embora, agora seu coração parou.
— O que é isso... — ela sussurrou para si mesma.
Na sua frente havia uma foto de Berenice, uma de Miguel e a última era Ramiro.
— Eu disse para você não me desafiar... eu sempre ganhou... se você tivesse ficado quieta naquela noite... nada disso teria acontecido.
Angélica o olhou nos olhos rapidamente.
— Eu nunca contei para ninguém! Eu juro!
— Quer que eu acredite? Eu vi que você parece ter feito ótimos amigos...
Ela então entendeu.
— Você me seguiu...
— Claro... tenho que cuidar do que é meu. — Angélica sentiu o estômago embrulhar com as palavras. — Confesso que me surpreendi quando descobri que tinha virado prostituta.
Angélica não tinha condições de falar naquele momento, o medo ia a congelando aos poucos.

— Mas achei bom... assim você bem com mais experiência para mim. — ele soltou uma risada nojenta. — Inclusive te mandei um cliente?
Ela o olhou sem entender.
— Queria saber se o produto era bom mesmo, acho que você deve se lembrar... imagino que tenha sido um cliente bem marcante.
Bernardo fez um sinal aponto para o próprio olho. Ele tinha mandado o cliente que a docou naquele noite chuvosa.
— Foi você...
— Ele agiu certo, pagar e não receber o serviço.. eu teria feito o mesmo. — ele respondeu com uma voz sombria.
Depois Bernardo olhou para a foto de Miguel.
— Agora... imagine a minha surpresa quando eu descobri que o Miguel é pai do filho da minha sobrinha?
Só faltava essa, Angélica pensou, sentindo o corpo tremer.
— Fabiana é sua sobrinha?
— É! A tenho como uma filha, já que nunca tive nenhum. — Bernardo pegou a foto de Miguel e olhou bem. — Fiquei sabendo que esse foi seu cliente fixo nos últimos dois meses?
Angélica pareceu entender onde isso ia chegar, e foi rápida e direta ao ponto a fim de tornar essa conversa a mais curta possível.
— As coisas entre eu e Miguel acabaram. Pode falar para ela ficar tranquila, eu não vou atrapalhar.
Bernardo sorriu.
— Angélica, Angélica... você trabalhou comigo... sabe que eu não sou homem de me contentar com pouco... — ele olhou de novo para a foto de Miguel e sorriu. — Eu sei que você vai deixar o caminho livre, mas eu não quero só isso.
— O que você quer, Bernardo? — ela disse em um sussurro com medo da resposta.
— Que case comigo.
Angélica deu salto na cadeira. Seu estômago queria expulsar toda a comida que tinha dentro, ela sentiu a visão escurecer por breves segundos, seu cérebro desligando para não ter que raciocinar o que tinha acabado de ouvir.
— Você está louco? Só pode ter batido a cabeça...
— Não, Angélica... nunca estive tão certo... e eu acho que você vai concordar comigo.
Bernardo pegou a foto de Berenice e estendeu a ela.

— Olhe bem para sua amiga... ela tem um filho lindo, não tem?
Angélica pegou a foto com pressa e se inclinou.
— Deixa o Caio fora disso, ele é só uma criança...
— Uma criança que sonha em jogar futebol... foi o que eu descobri.
— Está espionando um menino de sete anos também?
— Não, na verdade o técnico que vai avaliá-lo no sábado é meu amigo. — Bernardo disso com um sorriso vitorioso. — Seria uma pena se por um capricho seu você destruísse o sonho de uma mãe e um filho... Berenice te ajudou tanto...
Angélica sentiu o corpo gelar mais ainda, a respiração ficando acelerada. Bernardo então pegou a foto de Miguel.
— Esse homem tem um sítio lindo... pelas fotos que a minha sobrinha me mostrou parece ser o sustento dele... seria uma pena se tudo virasse cinza.
A ruiva encontrou os olhos do monstro e ela sabia que ele não estava blefando. Bernardo seria capaz de destruir tudo ao seu redor se não tivesse o que queria. Ela não conseguia acreditar que isso estava mesmo acontecendo.
— Bernardo...
— E claro, temos o seu querido pai.
Angélica pegou a foto de Ramiro e apertou junto ao seu peito com a foto.
— Seu pai tem um grande segredo que eu sou doido para revelar. Se isso vier a tona, Seu Ramiro perde tudo em um piscar de olhos.
— Eu não acredito em você.
Bernardo olhou para os lados antes de se inclinar na mesa.
— Eu nunca menti para você, então vou ser bem direto. Teu pai é um filho bastardo, se os advogados da família ficam sabendo disso, Ramiro perde tudo.
— E como você sabe disso? — Angélica o desafiou, a raiva tomando conta dela.
— Eu tenho meus meios, mas tudo é Deus... as coisas só chegam para mim. — Bernardo então se levantou da mesa, fechando o terno. — Bom, eu acho que você tem mais que motivos suficientes para entender o que eu quero.
— Eu jamais vou fazer o que você quer, Bernardo.
Ele riu, olhou para a saída do restaurante com um sorriso maldoso. Bernardo então se inclinou até estar com o rosto colado no seu. Sem reação, Angélica esperou.
— Eu vou te dar um tempo para pensar, meu amor. Mas não demora, eu sou impaciente.

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