Capítulo 34

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Ela acordou aos poucos, seus olhos tentavam procurar o teto da mansão, mas olharam para o teto tão conhecido da casa de Miguel. Eles estava na cama. Angélica se sentou em um pulo, pouco se importando com a nudez. Olhou no relógio e viu que já eram duas da manhã. Ramiro ia lhe matar. Angélica olhou uma última vez para Miguel, ele estava deitado de barriga para baixo, suas costas expostas mostraram a marca de suas unhas. Ela sorriu tímida, mas logo depois o sorriso foi tomado por um semblante preocupado. Tinha que ir embora, apesar da noite incrível... tinha que ir embora.
Angélica se levantou da cama devagar e foi para a cozinha se vestir. Pegou a bolsa no sofá e olhou para a casa uma última vez. Deixaria aqui dentro para sempre a Angélica sonhadora, apaixonada e delicada que Miguel tinha conhecido. Que ele tinha cuidado com tanto amor. A partir de agora ela teria que tomar uma posição em que a delicadeza não lhe ajudaria em nada.
Olhou uma última vez e pediu perdão em seus pensamentos.
Chegou até o carro com um pesar, Xavier estava dormindo de boca aberta no banco do motorista. Angélica bateu suavemente no vidro, ainda assim assustando o homem, que acordou em um salto. A ruiva entrou no carro.
— Desculpa, Xavier, eu prometo te recompensar.
O motorista apenas sorriu e disse não precisar, e o caminho até o Morumbi foi feito em silêncio. Eles chegaram uma hora depois devido ao transito livre da cidade. Angélica entrou em casa devagar, em passos curtos, deixou as malas ao lado da porta para não fazer barulho, as pegaria pela manhã.
— Eu posso saber por que demorou tanto? — ela escutou a voz de Ramiro vindo da sala e o coração quase saiu pela boca.
Se virou depressa e viu Ramiro sentado na poltrona, de costas para ela. Angélica caminhou para ficar na frente dele.
— Eu cheguei, não cheguei? — ela perguntou levemente revoltada.
— Chegou, mas podia ter mandado uma mensagem falando que ia demorar. — ele disse sério.
Angélica olhou para cima emburrada. Logo voltou os olhos para o homem.

— Eu fiquei 24 anos sem um pai, me dá um desconto. — Angélica disse isso e se afastou para a escada, mas Ramiro a chamou.
— O que há te errado? Você está esquisita...
Angélica nada respondeu, apenas balançou a cabeça e foi para o quarto.
Miguel abre os olhos devagar, tentando se acostumar com a claridade que entrava no quarto. O cheiro dela o rodeava e isso o fez sorrir, se virando para achar ela na cama ao seu lado, mas o que encontrou foi um lençol vazia. O agrônomo abriu os olhos na mesma hora. Nenhum sinal dela, nem um barulho indicando que ela estivesse na cozinha.
Miguel se enrolou no lençol e se levantou rapidamente, indo até a sala. Como esperava, tudo vazio, as roupas na cozinha sumiram. Ele foi logo até a mesa de centro pegar seu celular, rápido em discar o número dela. Mas a mensagem foi clara, ela tinha bloqueado sem número.
Fernanda dirigia enquanto Angélica estava perdida em pensamentos. Ela sentiu um clima tenso entre a ruiva e seu pai no café da manhã, mas pela cara que a irmã fazia, resolveu não questionar o que tinha acontecido. Foi quando sua irmã desligou a estação de rádio quando elas estavam chegando da Brás que Fernanda não se aguentou mais.
— Tem algo que queira falar, Angélica? — Fernanda perguntou devagar.
— Não.
Por volta do meio dia, Angélica decidiu que não iria almoçar. Não sentia fome. Fernanda e Tobias tentaram arrastá-la para um almoço, mas ela recusou com um sorriso, dizendo que preferia adiantar umas coisas. Terminava de preencher uns documentos quando viu o celular tocando. Era Berenice.
— Posso saber o que aconteceu para o Miguel não aparecer no trabalho hoje? — Berenice perguntou direta, sem nem lhe dar um oi.
— Oi para você também, amiga. Eu não sei, não tenho um rastreador de Miguel.
— Miguel nunca falta sem avisar.
Angélica sabia disso muito bem.
— Talvez ele teve algum compromisso, não sei.
— Você não falou com ele ontem? — Berenice perguntou.
— Não, por que?
— Hugo disse ter visto um carro chique chegando no sítio tarde da noite ontem, achamos que era você.

Angélica tinha que desconversar essa história logo.
— Devia ser Fabiana, ela tem motorista.
Depois de mais alguns minutos de conversa, Angélica desligou o telefone. Não pôde evitar a onda de preocupação, será que Miguel estava bem?
A mulher se sentou devagar na mesa, fazendo um charme para o agrônomo. Não cabia em si de felicidade quando Miguel a chamou para almoçar. Colocou seu melhor vestido, um perfume que sabia que ele gostava e conseguiu um horário as pressas no salão para fazer a unha. Por isso ela não conseguiu conter a cara fechada quando viu um homem de terno se sentando ao lado de Miguel segundos depois.
— O que é isso, Miguel? — ela perguntou, olhando para o homem.
— Esse é Rogério, um grande amigo e meu advogado. — ele falou firme.
— Advogado? — ela falou surpresa.
— Sim, hoje vamos acertar nossa vida, Fabiana. — Miguel falou de braços cruzados. — Pede alguma coisa para comer, no seu estado não é bom pular refeições.
— Acredite, perdi a fome. — Fabiana olhou para o advogado que sorria e depois para Miguel. — Você pode me dizer que história é essa?
— Meu cliente quer fazer um acordo com a Senhorita. Algo que garanta os direitos dele sobre o filho, de visita à guarda compartilhada quando a criança tiver a idade.
— E ele vai ter isso... quando nos casarmos! — ela olhou firme para Miguel.
— Chega, Fabiana. Chega dessa loucura, não tem casamento nenhum. — Miguel falou. — Vamos pensar nessa criança que é o melhor que fazemos.
— Você vai fazer dessa criança uma piada com pais separados.
— Dificilmente, diversas crianças no Brasil tem pais separados e são muito mais felizes assim.
— Eu não aceito!
— Então eu te encontro no tribunal, Fabiana, porque eu não vou ficar longe do meu filho.
Miguel se levantou da mesa e o advogado o seguiu. Fabiana não conseguia acreditar no que estava acontecendo, como poderia estar perdendo Miguel tão fácil assim.
Agora ela se encontrava no escritório do tio, com um copo do chá e chorando seus problemas a um homem que no fundo não gostaria de estar ouvindo nada disso.

Chão de GizWhere stories live. Discover now