Capítulo 23

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Ramiro olhava para a foto em suas mãos com um peso em seus ombros. Carregava todo o sentimento de anos, parecido com o sentimento do mundo. Na fotografia os cabelos ruivos que tanto os hipnotizaram, hoje não faziam mais efeito. Os olhos escuros como os seus hoje lhe passavam uma frieza sem tamanho, mesmo depois de momentos de tanto calor. A foto lhe dava angústia e ele se sentia merecedor desse sentimento.

Amanda foi seu erro. E como todo erro veio com sérias consequências. A decepção de sua esposa sendo a que mais pesava até hoje. Ana tinha sido compreensiva com seu deslise, mas ele sabia que a dor a acompanhou até o túmulo, ainda que ele tivesse tentando compensar de todas as maneiras possíveis.

Em vão, ele sabia.

O pior de tudo isso provavelmente era a morte de sua filha bastarda, comunicada a ele pela própria Amanda anos depois de sua partida para Deus sabe lá onde. De maneira tão casual como conversar sobre o tempo.

Angélica tinha morrido de alguma infecção, foi o que Amanda disse.

— Pai? — escutou a voz de Fernanda em sua porta.

Ramiro guardou a foto rapidamente em sua agenda e colocou na gaveta. Viu sua filha entrar em seu escritório com um sorriso.

— O que manda, minha filha? — ele perguntou casualmente.

— É domingo, eu e Pedro almoçar com Tobias e Donatella, vamos com a gente?

— Claro, me dá só um minuto.

— O que tanto faz? — perguntou ela com os braços cruzados, olhando para o computador do pai.

— Estou organizando umas questões pra resolver depois do feriado.

— Sempre trabalhando, não é?

— Eu gosto, me faz bem. — ele respondeu com um sorriso. — Me diga, e aquela jovem que começou a trabalhar com você? Vai bem?

— Ótima! É uma pena o senhor não a ter conhecido ainda.

— Você insistiu tanto que o universo conspira contra.

Algo dentro de Ramiro o inquietou. O homem olhou para a filha.

— Tem uma foto dela? Às vezes eu já a vi rapidamente e nem sei.

Fernanda pegou o celular na hora.

— Tenho sim! Mas acredite em mim, se a visse não iria se esquecer.

Miguel e Angélica voltaram para o hotel no final da tarde. O dia tinha sido ótimo, mas ele tinha dito que hoje sairiam para jantar para conhecer a vila.

— É algum lugar chique? — ela perguntou.

— Não muito, é uma pizzaria em um pier, é bem bonito.

Angélica entrou no banho e caprichou na arrumação. Colocou o vestido vermelho que Berenice tinha dito ser bonito. Colocou uma rasteirinha, algo bem leve. Deixou os cabelos soltos, colocou um perfume fresco e uma maquiagem leve. Quando saiu do banheiro, Miguel estava separando a roupa dele para tomar um banho rápido.

O agrônomo perdeu a fala ao a ver. Angélica estava linda, como sempre, mas havia um brilho diferente no olhar dela. Queria que a noite fosse perfeita, era praticamente o primeiro encontro deles, tudo tinha que sair impecável.

Miguel se arrumou rápido, mas com capricho. Colocou uma camisa branca de linho, uma bermuda preta, passou o perfume que tinha percebido que ela tanto gostava.

Quando ficou pronto, ficou feliz em ver o olhar dela sobre ele. Angélica tinha gostado da sua roupa, e ele se sentiu amado no olhar dela. Juntos eles saíram do hotel em direção ao centro. Miguel parou o carro em frente a uma sorveteria.

Chão de GizWhere stories live. Discover now