Capítulo 30

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— E então, o que me conta? — Bernardo perguntou, se sentando confortável em sua cadeira.
— Estou grávida, tio! — Fabiana exclamou com um sorriso.
— Meus parabéns! Quem diria que o verdureiro comparecia... — ele disse em um comentário sarcástico e Fabiana riu da acidez do tio. — Eu achava que vocês tinham terminado...
— Na cabeça dele terminamos, mas agora é claro que ele não tem escolha a não ser se casar, Miguel é certinho demais para fazer as coisas do jeito errado.
Bernardo olhou bem para a sobrinha. Ela era como ele, determinada no que queria, decidida. Não aceitava desaforo e o não.
— E você já falou com ele? — Bernardo perguntou com um sorriso.
— Claro! Foi a primeira coisa que eu fiz... e você acredita que eu encontrei uma prostituta dentro da casa dele? Vivendo como se fosse dali já.
Um alerta acendeu dentro de Bernardo. Ele esteve observando Angélica de longe há meses. Seria muita coincidência se o verdureiro fosse o homem que ele tinha visto com Angélica tantas vezes? Que era ele que estava ao lado dela no evento da Brás há uma semana atrás? Ele tinha olhado bem as fotos na rede social da empresa desde que descobriu que ela estava trabalhando lá.
De todos os lugares que a vagabunda podia ter ido trabalhar, ela escolheu logo a empresa de seu rival dos negócios.
— Bom, você viajou por um tempo, é normal que um homem precise de companhia... — Bernardo disse.
— O senhor não conhece Miguel.
Bernardo viu sua deixa ai.
— Você nunca me mostrou uma foto dele.
— É verdade! — Fabiana pegou o celular e achou rapidamente uma foto. — Aqui.
Era ele, Bernardo pensou, mas nada disse. Se isso estava realmente acontecendo, então era coisa de Deus mesmo. Deus estava ao lado dele, era muita coincidência sua sobrinha estar grávida desse homem mesmo.
— Você disse que ele é muito certinho... esse filho é mesmo desse homem, Fabiana?
— Claro, tio! Você acha que eu ia mentir sobre algo tão sério? É dele sim! — Fabiana disse séria. — A gente usou camisinha, então eu furei algumas e deixei o destino agir...
Bernardo sorriu pela inteligência de sua sobrinha.

— Então você tem que ser firme, esse homem tem que casar...
— Ele está obcecado com essa tal de Angélica!
Bernardo sorriu ao ouvir o nome tão aguardado.
— Eu vou te ajudar, confie no seu tio.
Fernanda entrou em casa naquele domingo à noite com a cabeça leve e o coração apaixonado. Sinceramente pouca coisa poderia estragar sua noite. Tinha vivido momentos incríveis no sítio com Pedro e sua família. Mas foi a cara de seu pai que a fez parar no meio da sala.
— O que foi, pai, que cara é essa?
— Sua irmã está aqui.
— Aqui? — Fernanda perguntou com um sorriso.
— Uma coisa muito séria aconteceu entre ela e Miguel, o homem não para de me ligar, ela passou a tarde no telefone com Berenice. — Ramiro falou em um só suspiro. — Elas estão lá em cima.
Fernanda subiu rapidamente até o quarto de hóspedes. Lá entrou Angélica nos braços de Berenice. A morena acariciava os cabelos da ruiva. Fernanda se aproximou delas rapidamente, se sentando na cama.
— Minha irmã... o que aconteceu?
Angélica contou a mesma coisa que contou ao seu pai e a Berenice. Cada vez que contava, as coisas pareciam pesar mais ainda em sua mente. Ela tinha que se afastar de Miguel para que ele fizesse o certo, que assumisse Fabiana e esse filho. Para que ele não se tornasse como seu pai, como Cecília disse que Alberto fez.
Miguel jamais se perdoaria.
— Isso não está certo! Miguel estava separado e todo mundo sabia! Deixa ele te explicar as coisas...
— Mesmo se ele explique... mesmo que ele esteja certo, entende que não tem nada que eu possa fazer? Está claro que Fabiana não vai aceitar Miguel longe dela, é a história se repetindo toda de novo... eu não vou deixa a história se repetir!
— A história vai se repetir? — Fernanda perguntou sem entender.
— Finge que o Miguel é seu pai... e a Fabiana é minha mãe, entende a merda que isso vai dar?
— A história não se repete, minha amiga... — Berenice disse tentando consola-la.
— Na minha vida ela se repete sim...

No dia seguinte, um comunicado oficial foi liberado pela assessoria de imprensa de Ramiro Viana sobre o parentesco com Angélica Viana. A segunda feira amanheceu agitava para os diretores de relações externas das empresas do empresário. Todo mundo queria entender essa história, mas Ramiro se limitou em dizer que era uma filha que ele procurava há tempos e agora achou.
Bernardo ria em sua sala. O que era isso? Sua vida estava ganha com esse grau de parentesco. Há tempos queria afetar Ramiro de alguma forma, tinha a faca e o queijo na mão, mas nunca a oportunidade.
Agora ele só precisava achar um jeito de tirar aquela outra amiga prostituta de seu caminho. Ela protegia Angélica, precisava de um jeito dessa relação se romper.
No café da manhã da mansão dos Viana, Ramiro lia os sites com atenção.
— Muitas pessoas estão felizes por eu ter te achado. — Ramiro disse sorrindo.
Angélica sorriu para ele e bebeu seu suco, sua mente a quilômetros dali, em um sítio muito específico de Mogi das Cruzes. O celular de Ramiro tomou mais uma vez. Angélica olhou para Fernanda antes de olhar para Ramiro.
— É ele, não para de ligar, já deve imaginar que você está aqui. — Ramiro disse. — Converse com ele para resolver essa história.
Fernanda balançou a cabeça concordando com o pai.
— Resolve isso, e se for o caso nós vamos até o sítio pegar o resto das suas coisas.
— Minhas... coisas?
— Claro. — Fernanda exclamou. — Você vai ficar aqui, não vai?
Angélica olhou para ela e para o pai.
— Eu pensei em ir para a casa de Berenice... — Angélica falou, meio sem graça.
— De jeito nenhum! — Ramiro interviu. — Sua casa é aqui!
— Concordo com nosso pai! Fique aqui, é sua casa.
A discussão foi encerrada ali. Fernanda não a deixou ir para a empresa naquele dia. Ramiro tinha atendido o telefonema de Miguel, dizendo que sua filha estava na mansão. Nem deu tempo de Ramiro falar muito, Miguel foi logo pedindo o endereço.

Antes de Ramiro e Fernanda saírem para o trabalho, o empresário passou no quarto de Angélica. Sentou-se na cama com ela, pegando a sua mão.
— Os seguranças e Joana ficarão de olho em vocês, e qualquer coisa você pode me ligar. — Ramiro falou firme.
Angélica tocou em sua mão.
— Pode deixar, Ramiro. Obrigada.
A ruiva tomou um banho quente e vestiu um moletom que Fernanda tinha lhe emprestado. Soltou o cabelo e se olhou no espelho. Nem parecia aquele mulher feliz e apaixonada de dias atrás. Agora sua alma estava destruída com a decisão que tinha tomado.
Não demorou muito para Joana aparecer em sua porta.
— Sr. Aguiar chegou, minha querida. — a senhora chamou sua atenção.
Angélica respirou fundo e desceu as escadas devagar. Olhar para ele fez suas forças sairem de seu corpo. Ele estava com o olhar tão perdido quanto o seu. Desceu, seus passos chamando a atenção dele. Miguel a olhou e suspirou aliviado. Ele se aproximou logo que ela chegou ao pé da escada.
Miguel sentiu o coração apertar com a visão dela. Seus passos largos a alcançaram, e Miguel a envolveu em seus braços. A abraçou com força.
— Angélica... — ele suspirou seu nome. — Eu fiquei tão preocupado com você, meu amor.
Ele segurou o rosto dela em suas mãos. Aproximou os lábios dos dela como um imã, mas Angélica o afastou com a mão.
— Melhor não, melhor não...
Miguel se afastou no mesmo instante e a olhou magoado.
— Vamos nos sentar. — ela disse, apontando para a sala.
Ele a seguiu e viu ela se sentar no sofá, ele escolheu ficar na poltrona. Miguel a olhou sério.
— Eu imagino as coisas horríveis que a Fabiana deve ter lhe dito... peço que ignore tudo.
— Eu já estou acostumada a ouvir coisas horríveis, Miguel... mas tem coisas que não dá para ignorar, dá?
Miguel abaixou a cabeça.
— Ela está grávida, sim. — ele disse em um suspiro.
— Pois bem. Eu acho que isso já diz muito.
— Como assim? — ele perguntou sem entender.
— Você deve ficar com ela e assumir a responsabilidade, é o certo..

Miguel a olhou sem entender. Onde ela queria chegar?
— Eu vou assumir esse filho, sem sombra de dúvidas, mas me casar com a Fabiana não está nem perto dos meus planos.
Angélica o olhou atenta.
— Eu amo você, Angélica. Como espera que eu me case com outra? — ele perguntou firme.
— Eu só quero que sua vida seja certa.
— E ela é certa... com você. Um filho não é uma sentença pra união perpétua.
Angélica se levantou do sofá, ficando de costas para ele. Uma mão na cintura e a outra no rosto indicavam um nervosismo.
— Eu sinto que não vai ser assim, Miguel...
Miguel se levantou na poltrona e se colocou bem atrás dela, afastou os cabelos delicadamente e a abraçou. Sentiu o corpo dela relaxar contra o seu, como se reconhecesse algo que seu cérebro se negava a aceitar. A verdade é que não conseguiria negar o amor que sentia por muito tempo.
— Pode ser... se estivermos juntos, enfrentando isso juntos. — ele disse contra seus cabelos.
Angélica se afastou dele e se virou com lágrimas no olhar.
— Eu sei... eu sinto... que se ficarmos juntos...
Miguel a puxou para ele, não a deixando terminar a frase. Angélica sentiu a respiração fugir, e seu corpo se aquecer com a proximidade.
— Eu vou assumir esse filho... mas não pense que eu vou desistir de você... porque eu não vou...
Angélica se deixou render quando sentiu a boca dele se aproximar da dele. Se entregou ao beijo, se fosse o último queria aproveitar ao máximo, marcar o gosto dele em sua boca.
Sentia a mão dele em sua cintura, firme, a deixando segura. Sabia que se continuasse ia ser tarde demais. Desse jeito o afastou. Os dois ofegantes, Miguel com um olhar dolorido.
— Vai embora, Miguel... esquece isso, acabou.
— Não acabou... eu não vou desistir de você.
Quando ela viu Miguel sair por aquela porta, uma dor intensa tomou conta de seu peito, é um choro apertado saiu de dentro dela. Angélica se permitiu cair no chão da sala, chorava sua alma para fora. Ouviu passos rápido e logo sentiu os braços de Joana ao seu redor, a consolando. Dentro dela algo dizia ser só o começo e que para além de garantir que Miguel tivesse contato com essa criança, ela estava protegendo Miguel.

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