Capítulo 28

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No domingo cedo, Angélica foi para a Brás junto com Miguel. Os organizadores podiam levar um convidado, e ninguém melhor do que ele, que esteve do seu lado nessa loucura, para ver o resultado de seu trabalho. Todo o ambiente estava montado perto de um dos campos de futebol onde o rapaz iria fazer um ensaio técnico para o time e assinar seu contrato. A ideia de fazer essa demonstração tinha sido de Angélica e o clube contratante tinha adorado, trazendo um de seus jogadores titulares pra o evento.
Ramiro já estava a postos junto com seu filho Tobias e sua esposa. Angélica se aproximou deles.
— Bom dia, minha filha. Acho que agora tudo bem te chamar assim? — Ramiro falou com um sorriso animado, olhando para Miguel e ela.
— Acho que sim, vamos aos poucos. — ela respirou com um sorriso sem graça.
— Angélica, essa é minha esposa, Donatella.
Angélica a cumprimentou com um beijo no rosto.
— Muito prazer em te conhecer. — Donatella falou enquanto segurava a mão do marido. — Você tem um sobrinho também, mas ele teve que ficar em casa hoje.
— João, não é? — Angélica perguntou. — Fernanda já tinha me falado, eu inclusive comprei um presentinho para ele na viagem.
Tobias ficou emocionado e sorriu.
— Então vocês têm que ir lá em casa conhecer ele, podemos almoçar lá depois do evento, o que acham?
Angélica olhou para Miguel um pouco apreensiva, mas o olhar dele a acalmou. A ruiva olhou para o irmão e sorriu.
— Podemos ver.
Logo Angélica ouviu Fernanda a chamando e Miguel ficou ao lado de Ramiro conversado sobre o time que estava contratando o jovem e o potencial dele no campeonato paulista. Miguel não era muito de futebol, mas conseguiu surpreender o sogro com algumas colocações pontuais. Teria que agradecer Oxente e os meninos, se não fossem eles falando de futebol, provavelmente sua reputação já cairia com o sogro.
A manhã correu bem, o evento foi um sucesso e um prato cheio para os jornalistas. Tanto a Brás quanto o time paulista teriam ótimas repercussões na mídia. No final, os diretores agradeceram a ideia de Angélica, todos a cumprimentaram. Miguel estava tão orgulhoso que a beijou também, mesmo na frente do sogro.

— Vamos todos lá para casa? — Tobias falou em tom de comemoração.
Miguel e Angélica pegaram o presente que estava no carro. João adotou, e até a comida ser servida não saiu dos braços do agrônomo e a namorada. O menino era fácil de agradar. Fernanda olhava os dois interagindo sabendo que se continuassem juntos não demoraria muito para formarem uma família.
Ao longo da semana seguinte, as coisas ficaram mais tranquilas. Miguel e Angélica voltaram a um ritmo tranquilo no trabalho, quando dava almoçavam juntos e sempre que voltavam para casa a rotina era cheia de carinho e cumplicidade. Dividiam as tarefas como dava, e sempre que um estava mais apertado de tempo o outro assumia. Era uma parceria gostosa que Miguel esperou muito para ter. Sua mãe tinha ligado já duas vezes para saber deles, e Miguel tinha deixado claro que as coisas estavam melhores do que nunca. Para a mãe aquilo era claro o que significava.
Angélica estava terminando de arrumar a casa, era uma sexta feira a tarde, Fernanda tinha saído mais cedo e por isso tinha a liberado também. Essa folga fez com que ela tivesse tempo de arrumar algumas coisas antes de Miguel chegar. Era sexta e ele sempre buscava pizza para eles jantarem. Geralmente chamavam Berenice e a família, mas eles tinham ido para o interior até a casa dos pais de Duplex.
O tempo estava feio em São Paulo, uma chuva forte caia sem parar desde que chegou em casa, estava torcendo para a luz não acabar, caso o contrário jantariam a luz de velas. Ela estava concentrada na arrumação da geladeira que nem se voltou para a porta quando escutou o som de um carro de aproximando. Ouviu passos calmos entrarem na casa.
— Chegou mais cedo, meu amor? — Angélica falou.
— Eu posso saber quem é você e o que está fazendo na casa do meu namorado?
Angélica deixou a caixa de ovos em sua mão cair com o susto. Se virou rapidamente para ver de quem era essa voz. Angélica deu de cara com uma mulher de cabelo escuros na altura do ombro, roupa impecável e maquiagem mais ainda.

Tentou se lembrar de onde ouviu uma descrição assim, e arregalou os olhos ao se lembrar de Berenice descrevendo a mulher que estava com Miguel na noite em que ela o viu pela primeira vez.
— Ein, garota? — Fabiana a olhou firme e séria.
Analisava cada centímetro dessa ruiva para tentar entender. Foi então que algo clicou em sua mente. Aquela era a mesma prostituta loira que tinha visto meses atrás? Ela levou as mãos ao rosto sem acreditar.
— Eu não acredito que foi eu virar as costas dois meses que o Miguel me enfia uma prostituta de beira de estrada dentro de casa!
— Mas... ele disse que vocês... — Angélica tentou argumentar, mas seu coração começava a bater rápido demais para ela gerar um raciocínio.
Fabiana olhou para ela com ódio.
— Falou o que? Que terminamos? — Fabiana riu com raiva. — Pois esqueça as promessas vazias o meu noivo fez a você!
Noivo? Angélica sentia a cabeça girar, seu coração mais apertado que a chuva forte que caia lá fora.
— Noivo...
— Não é nada oficial ainda... mas afinal, eu sei que Miguel jamais teria um filho fora do casamento.
— Filho...
— Estou grávida, sua vagabunda. — Fabiana então pegou o celular dentro do bolso da calça e discou um número qualquer. — Anda, pega suas coisas, você vai embora agora mesmo.
Angélica se sentia tão desestabilizada que não contestou. Correu para o quarto e pegou o máximo de roupas que cabia em sua mochila, seu celular e seus documentos. Olho para a cama que dividiu com Miguel nessas semanas e se perguntou se tudo isso tinha sido uma mentira de fato... não... Miguel tinha sido tão verdadeiro. Mas essa mulher estava grávida e estava na cara que ainda tinham coisas entre eles.
Por dentro a ruiva estava destruída. Dentro de sua cabeça a voz de sua mãe era irônica, rindo de sua desgraça. ''Quem mandou acreditar em homem? Eu te avisei'' era o que ela dizia. Ou que Angélica dizia para si mesma. As coisas estavam dando muito certo para ela para ser verdade.
Saiu do quarto com pressa, as lágrimas teimavam em querer sair.

Quando voltou para a sala, Fabiana a pegou pelo braço e a colocou no meio da chuva. O táxi já se aproximava.
— Eu não sei o que o Miguel te falou para te manter só com ele como parece que ele fez, mas esqueça, ele é meu namorado, eu estou grávida e logo vamos nos casar.
Angélica entrou no táxi rapidamente. Dentro dela uma dor insuportável. Ela queria voltar lá, questionar tudo, mas que direito ela tinha? A mulher parecia muito certa do que ela estava falando. O motorista perguntou para onde ela ia, mas Angélica só disse São Paulo e voltou o foco para a casa do sítio. Miguel tinha mentido para ela? Como podia? Será que ela realmente tinha sido tão cega e burra? Será que tudo estava explícito na sua cara e ela não tinha visto?
— Moça? — o taxista chamou sua atenção. — Estamos passando pelo centro de São Paulo, algum lugar que queira ir?
Angélica olhou ao redor com a vista turva, nem tinha percebido que estava chorando. Olhou para o celular, queria ligar para Berenice, mas preocupar a amiga em um momento tão importante para ela e Duplex não valia a pena. Pensou em Fernanda, mas agora ela devia estar no sítio de Pedro. Ela então viu o último número que poderia pensar, mas que lhe pareceu a melhor coisa a fazer. Abriu a mensagem que tinha com ele e leu o endereço para o motorista, que confirmou com a cabeça.
— Vamos pegar um transito, moça. — ele falou.
— Não tem problema.
Miguel estacionou a caminhonete com pressa. As pizzas no banco estavam esfriando e ele não via a hora de dar um abraço apertado em sua ruiva. Correu até a porta de casa, a chuva estava cada vez mais forte. Entrou e sentiu o ambiente quente. Colocou as pizzas no aparados e retirou a jaqueta, indo para a cozinha com as caixas logo em seguida.
— Angélica, cheguei! — ele disse com a voz alta.
— Que bom que chegou, Miguel.

A agrônomo se virou assustado como se tivesse cometido um crime. Ouvir a voz de Fabiana dentro de sua casa era a última coisa na vida que queria.
— O que você está fazendo aqui? Cadê a Angélica? — ele perguntou agitado, indo até o quarto e vendo os armários abertos e cabides na cama.
Miguel voltou para a sala nervoso.
— O que você fez, Fabiana? — ele gritou.
— Você diz com aquela prostituta de beira de estrada que você colocou dentro na nossa casa? Coloquei ela na rua, que é o lugar dela! — ela rebateu nervosa.
— Você fez o que? — Miguel gritou mais alto.
— Abaixa o tom para falar comigo, Miguel!
— Abaixar o tom? Você entra na minha casa sem ser convidada e expulsa a minha namorada! Quem você pensa que é?
— A mãe do teu filho!
Miguel sentiu a estômago afundar.
Ramiro estava confortável em sua sala lendo um livro quando viu sua funcionária se aproximar. Olhou para Joana com um sorriso. A senhora retribuiu, mas parecia nervosa.
— O que foi, Joana?
— É que tem uma moça ai fora perguntando pelo senhor... Angélica...
Ramiro que levantou na hora do sofá. De repente a casa foi iluminada por um raio, a chuva não dava trégua.
— Mande entrar imediatamente, Joana! — ele exclamou enquanto corria até seu quarto para pegar uma toalha.
Momentos depois, Angélica apareceu na sua porta acompanhada de um segurança. Ela estava enxarcada, chorava copiosamente e quando o viu pareceu perder as forças, se ajoelhando no chão. Ramiro a seguiu para o chão e a envolveu com a toalha e um abraço forte.
— Pronto... pronto, minha filha... está com seu pai agora.

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