Capítulo 5

42 8 0
                                    

Miguel voltou seu olhar para o homem mais velho que ele tinha como uma figura de pai. O olhar duro que Oxente tinha no rosto não era algo que ele estava acostumado, e até achou estranho.

— Que isso, Oxente? — Miguel perguntou.

Oxente puxou o homem para um canto para uma conversa, Miguel respirou fundo e cruzou os braços, esperando o julgamento que viria.

— Olha homem, eu vou ser sincero... porque com você eu sempre fui... — Oxente começou e Miguel apenas concordou. — Eu fiquei muito feliz quando Hugo me disse sobre o que aconteceu entre você e Fabiana.

Miguel já estava esperando, mas ainda assim ouvir essas palavras de Oxente o deixou surpreso.

— Mas meu amigo... mal a mulher saiu de tua casa e você já enfiou outra? — Oxente falou indignado. — E ainda por cima um mulher da vida?

— Oxente!

— Só pode ser, Miguel! Quando perguntamos como ela era e estava vestida, pensamos que só podia ser. E estou decepcionado, viu? — o homem mais velho disse balançando a cabeça.

— Oxente, não é nada disso que você está pensando. — Miguel começou. — Não me conhece, meu amigo?

— Justamente por te conhecer é que estou te estranhando! Uma facinha, Miguel?

— Não, Oxente! — Miguel exclamou, um pouco nervoso com a maneira como o homem se referiu a Poderosa. — Você está entendendo tudo errado.

— Então me explique.

— A Poderosa é diferente. Você não a viu, mas se a visse ia entender do que eu estou falando. — Oxente o olhou confuso e esperou o agrônomo continuar. — Eu a vi pela primeira vez e percebi que ela tinha medo do que fazia.

— Mas ainda assim faz.

— Por necessidade, Oxente! Por um acaso pensa igual Fabiana? Acha que essas mulheres vendem seus corpos por prazer?

Oxente se calou e esperou o homem continuar.

— Ela tem um medo e uma desconfiança no olhar, algo que eu nunca vi... ela faz isso mas é como se dentro dela tivesse uma inocência intocada, algo que não foi quebrado ainda. — Miguel olhou para o nada e suspirou. — Por isso a salvei ontem, um homem ia a levar e eu intervim... eu sinto que a salvei ontem de alguma forma.

Oxente pareceu tocado pelo relato do amigo, mas sua desconfiança coma vida era maior e ele não podia deixar de dar sua opinião pelo assunto. A amizade deles dava essa liberdade.

— Olha, Miguel, você é um homem que gosta de ajudar, mas pensa, tu salvou ela ontem, mas não pode salvar todo dia. — Oxente tocou seu ombro com carinho. — É a vida que ela leva.

— O alívio que eu vi nos olhos dela quando eu não a toquei ontem, Oxente...

— Entenda... ela pode ser novata nisso aí, mas pura ela com certeza não é mais, meu amigo.

Angélica estava terminando de arrumar a casa, deu comida para Caio e chamou Duplex, o vizinho que era um grande amigo das duas, para levar o garoto para o colégio. Berenice estava dormindo, descansando da noite. Duplex já era amigo de Berenice antes de Angélica chegar no conjugado, mas a ruiva já tinha entendido que a admiração do amigo pela morena ia além do que os outros homens estavam acostumados a ver. Duplex sabia exatamente o que Berenice fazia para viver, mas não se intimidava com isso e nem a julgava.

Duplex era o príncipe de Berenice, ainda que a amiga se recusasse a enxergar isso.

Depois que se despediu de Caio, viu a amiga se levantando da cama.

Chão de GizOnde histórias criam vida. Descubra agora