Capítulo 9

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No dia seguinte, Miguel acordou com uma dor no braço. Entendeu o motivo alguns segundos depois quando sentiu o peso da cabeça dela prendendo sua circulação. Eles estavam de conchinha e seu braço estava servindo de travesseiro. Com um sorriso, ele se desvencilhou dela devagar para não acordá-la. Saiu do quarto na ponta do pé, a cortina deixando a luz natural entrar devagar.

Foi para o banheiro escovar os dentes e lavar o rosto. Na cozinha ele fez o café e preparou um pão na chapa, não sabia porque, mas achava que ela ia gostar do básico. Junto com o café pronto na bandeja, ele colocou um comprimido de analgésico do lado da xícara. Sentiu que faltava alguma coisa, então pegou uma florzinha da sua planta da cozinha e colocou ao lado do prato. Acho que está bom, pensou ele.

Caminhou devagar até o quarto, empurrou a porta com o quadril e foi até a cama. Colocou a bandeja ao lado da cama e se sentou. Ela tinha se virado no sono, agora seu rosto estava de frente para ele. Os cabelos em total desalinho, o olho inchado como ele já esperava. A mão pequena agarrava o travesseiro que ele dormia, provavelmente ela achava que era ele.

Miguel tocou sua mão devagar, apertando com delicadeza. Ela foi despertando aos poucos, os olhos se acostumando com a claridade e o local desconhecido. Assim que se focaram nos seus, ela se tranquilizou. Foi se sentando devagar. Colocou a mão no olho em sinal de dor. Miguel olhou triste.

— Está muito roxo? — ela perguntou.

— Está sim... — ele disse sem mentir. — Dormiu bem?

— Dormi, graças a você. — ela disse com um sorriso tímido que ele retribuiu. — Obrigada por ter ficado comigo ontem.

— Sempre que precisar. — Miguel respondeu, pegando a bandeja e colocando no colo dela. — Fiz seu café, o analgésico está do lado da xícara.

— Obrigada. — quando ela viu o pão na chapa, sorriu. — Como sabia que eu amo pão na chapa?

Miguel ficou extremamente contente com a informação.

— Não sabia, mas que bom que acertei. — respondeu ele, vendo ela dar a primeira mordida com gosto.

Ela bebeu um gole do café e sorriu para ele. Miguel se levantou da cama para pegar sua roupa do dia. Ela o observou atenta, viu que dentro do armário só tinha roupa preta. Peculiar...

— Vou para o mercadão, quer vir comigo? — ele perguntou enquanto separava uma camiseta.

— Não, obrigada. — ela disse sem jeito. — Acho que vou ficar.

Miguel a olhou surpreso.

— Não quero que me vejam assim. — ela esclareceu apontando para seu olho.

Ele se sentou na cama ao lado dela e tocou sua perna.

— Entendo totalmente.

— Você pode avisar a Berenice? Eu tenho certeza que ela deve estar preocupada que eu não cheguei.

— Aviso sim. — ele se levantou da cama e pegou sua roupa para ir para o banho. — Quer que eu te deixe onde?

A pergunta a surpreendeu, se lembrava dele ter pedido para ela ficar ontem a noite e tinha quase certeza que ela o respondeu. Será que já estava arrependido do convite? Não era possível que ela tinha sido tão burra.

— Em lugar nenhum. — ela respondeu sem jeito. — Você viu minha peruca?

Miguel respirou fundo e olhou para ela.

— Está na lavanderia. — ele respondeu seco.

— Você pode jogar fora para mim? — ela perguntou, se permitindo dizer mais uma vez que queria ficar aqui, se ele não a queria teria que dizer agora. — Eu quero ficar aqui, por favor...

Chão de GizWhere stories live. Discover now