Capítulo 16

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Um mês se passou. E um mês para eles foi a sensação de anos. O convívio era tão leve, tão único. Tinham uma vida de casal sem serem um casal. Tinham a cumplicidade, amizade, respeito. Para Miguel era um ótimo teste sobre como seria se casar com ela, algo que a cada dia que passava era uma certeza cada vez maior.

Em um mês era claro que Angélica era a mulher da sua vida.

Sem mas, sem poréns.

Ela era.

Mas eles andavam em passos curtos e lentos. Depois do beijo eles nunca mais haviam se tocado. Ele não sugeriu e ela muito menos.

Ele aproveitou esse tempo para descobrir mais dela. Coisas que ela gostava, a história de vida dela. Tudo. Ela lhe contou tudo nos inúmeros jantares que fizeram juntos, as coisas que gostava ela lhe contava no caminho para São Paulo. As coisas chatas ela lhe contava na volta.

Ele lhe contava sua vida aos poucos também. Aos poucos ela sabia mais dele e se encantava ainda mais por ele.

Angélica olhava para a tela do computador, mas seu foco estava em outro lugar. Berenice vinha lhe enchendo a cabeça de ideias, de possibilidades de que Miguel pudesse sim estar sentindo algo por ela, algo que ela retribuía de alguma forma. As borboletas em seu estômago faziam festa sempre que ele estava por perto e seu corpo começava a reagir de outra forma com a proximidade. Como hoje pela manhã em que ele grudou em suas costas para alcançar o armário em cima da bancada. Suas pernas ficaram moles, sua respiração acelerou e a novidade da vez foi a pontada entre suas pernas. Berenice tinha lhe dito que era isso que a gente deveria sentir quando desejávamos alguém de verdade. Era assim que ela se sentia por Duplex, seu agora namorado.

Angélica apertou a mão no mouse. Se estava começando a desejar Miguel... as coisas estavam saindo de seu controle aos poucos. Como podia desejá-lo? Não sabia desejar um homem. Berenice lhe disse que isso fluía naturalmente, mas como ser natural se sua "sensualidade" na verdade vinha da Poderosa, alguém que ela havia abandonado faz tempo.

— Angélica? — ouviu a voz de Fernanda a chamando.

Sorriu para a loira. Fernanda e ela trabalharam tão bem nesse último mês, suas ideias se completavam, elas se entendiam às vezes só no olhar. Fernanda nunca teve uma funcionária tão boa, em que teve tanto entrosamento. Isso fazia o trabalho fluir como nunca, aumentando o rendimento do departamento de Fernanda.

— Hoje você pode sair mais cedo, viu? Se quiser ir para casa se arrumar ou encontrar o Miguel.

Hoje era o aniversário da ruiva e apesar de todo mundo saber para onde iam, para ela ainda era uma surpresa. Miguel disse que eles iriam um lugar animado, mas ela duvidava muito que o agrônomo fosse fã de boate.

Oxente e sua família também estavam envolvidos na surpresa. Nesse último mês a aproximação entre ela e a família foi inevitável. Ainda bem. Zenaide a ajudava muito com a vida do campo, ao mesmo tempo em que Maria Antônia era uma companhia agradável para ser ter durante um dia tedioso. Os meninos de Seu Oxente eram um caso à parte, cada um com uma personalidade distinta acabaram ganhando sua amizade aos poucos.

— Obrigada, dona Fernanda. — Angélica respondeu com um sorriso agradecido.

— Quantas vezes já te falei que é só Fernanda? Desse jeito parece que tenho a idade do meu pai. — a loira riu.

— Desculpa, é força do hábito.

— Só é engraçado que mais uma vez você não vai conseguir se encontrar com meu pai. Ele está doido para te conhecer e agradecer seu trabalho aqui na Brás.

Angélica sorriu ao ouvir Fernanda falar do pai, eles pareciam muito unidos, uma família sólida. Ramiro Viana era o nome dele, e Angélica não tinha tido a chance de conhecê-lo ainda, apesar da tradição dele sempre entregar o primeiro salário pessoalmente para seus novos funcionários. Na ocasião, Fernanda disse que ele estava no Rio de Janeiro a negócios e por isso ela fez a entrega por ele.

Chão de GizWhere stories live. Discover now