Capítulo 41

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Lucien sentia-se exausto, a cobrança por ter exaurido sua magia descontando anos de raiva naquela maldita caixinha milenar. No entanto, o ato valera a pena.

Os pequenos pergaminhos ali contidos, preservados por magia, intocados pelo espaço e pelo tempo, pareciam brilhar para ele. Sua curiosidade inerente fazendo-se valer sobre a exaustão conforme o macho levantava o braço com certa dificuldade e removia os fios ruivos do rosto. Maldição, até mesmo levantar-se e caminhar até o ponto onde a caixa jazia aberta, meio tombada de lado, era um esforço inacreditável. Mas lá estava ele, ofegante, pálido, enjoado, lutando contra o cansaço que ameaçava fechar seus olhos. Sem saber exatamente como, pegou a caixinha com cuidado, algo dentro dele dizendo-lhe que ali estaria as respostas que procurava - que precisava.

Com a mão trêmula, apoiou a caixinha em sua mesa de estudos improvisada, puxou a cadeira caída e desabou sobre ela. Estudou o conteúdo: os pergaminhos estavam dispostos em uma aparente ordem: os que pareciam mais velhos estavam, de fato, acima dos demais, o papel antigo - feito de algum tipo de planta que ele não conseguia identificar - um pouco menos amarelado conforme chegava ao fundo raso da caixa. Deveria ser uma espécie de ordem de leitura, concluiu Lucien. A escrita era de um alfabeto feérico que deixou de ser usado há muito, mas que, por sorte, Lucien estudara durante a infância - uma obrigação como filho do Grão-Senhor. Então, após sentir que a respiração normalizara e sem conseguir conter a sede por informação, o macho se pôs a ler os conteúdos.

"Annia está pior a cada dia. As visões, antes esparsas e sem nitidez, agora se revelam com uma frequência maior, mais focadas e direcionadas. Ela sente muita dificuldade em retornar ao tempo presente. Zombei de minha parceira quando insistiu que eu começasse a anotar meus pensamentos e sentimentos mas, agora, fico feliz em ter começado a fazê-lo. Os pensamentos me atormentam dia e noite, a impotência diante da maldição que o poder de oráculo trouxe consigo consumindo-me talvez mais do que a ela.

Passo as noites em claro, observando-a, pois sei que as piores visões se mostram durante seu sono. Mas minha Annia é forte e corajosa. Minha parceira, minha benção do Caldeirão.

E é por ela que decidi que deixaremos a Corte Outonal, meu lar de nascimento, e partiremos para a Corte Primaveril, onde ela nasceu, de onde nunca deveria ter saído. Os malditos Grão-Senhores não podem sequer desconfiar do poder confinado dentro dela.

Espero que as flores que ela tanto ama a ajude de alguma forma."

Lucien pensou ser um começo promissor, então estendeu a mão para o pergaminho seguinte.

"Estou preocupado. Realmente preocupado. Estamos vivendo na Corte Primaveril há dois meses agora. Uma pequena cabana em meio ao Bosque dos Jacarandás, que pertenceu ao pai de Annia, se tornou nosso lar. Mas as coisas nunca ficam bem por muito tempo. Annia fez amizades. Eu ficaria feliz com o fato, se os 'amigos' não fossem humanos. Malditos humanos escravos do Grão-Senhor da Corte Primaveril. E ela os convidou para jantar em nossa cabana!

Não sou nenhum clarividente, mas prevejo que isso não dará certo."

"Detesto quando ela fica brava comigo. Aquela fêmea pode ser pequena e delicada, com os cabelos castanho-dourados e os olhos castanhos mais gentis da face do planeta, mas quando brigamos, aqueles olhos se tornam tristes, e isso faz com que eu me sinta um imbecil. Mas não cederei dessa vez. Não quando sei que estou certo.

Veja bem, eu disse a ela que o maldito jantar com escravos humanos não acabaria bem, mas ela os convidou mesmo assim. Agora eles estão sendo punidos, acusados de roubar comida de Grão-Feéricos. Eu avisei a ela que isso aconteceria, e o que Annia respondeu?

Corte de Flores FlamejantesWhere stories live. Discover now