Capítulo 21

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A primavera deu lugar a um verão escaldante, e o povo de Velaris fervilhava na cidade recém reconstruída.

Não havia mais jardins para reconstruir. Todas as casas que foram destruídas pelo ataque de Hybern muito tempo antes ou foram reconstruídas, ou os escombros cederam lugar a parques e praças. Era uma cidade viva, alegre e enchia de orgulho seu povo e seus Grão-Senhores.

Muito embora Elain não partilhasse da animação daquele povo, tinha que admitir que era muito bom sentir o Sol beijando sua pele durante o verão; era quase como uma carícia, arrepiando os pêlos de seu braço tamanho era seu prazer em ficar sob aquele calor.

Uma daquelas novas praças se tornara seu segundo lugar favorito na cidade - atrás apenas da colina onde jazia a lápide de seu pai. Elain passava muito tempo sentada nos bancos daquela praça, sozinha. Ela lia ou ficava apenas ali, absorvendo a luz do Sol. Tentava não pensar no que havia se passado naquela noite, na fortaleza de Graysen, nem na proposta que ele lhe fizera. Muito menos em Lucien - do qual não tivera mais notícias desde então. Havia trancado tudo no fundo da mente e lutava para que permanecessem lá.

Até mesmo suas visões - se é que eram isso mesmo - haviam mudado junto com a estação. Não tinha mais nenhuma visão com Lucien, nenhum sonho perturbador. Ao invés disso, seus sonhos vinham sendo sempre de lugares, os quais ela nunca vira na vida. Um em especial era recorrente, e Elain estava ficando intrigada. Aquele lugar parecia chamar por ela. Queria descobrir onde ficava, mas não fazia ideia de como começar a procurar.

Sem os jardins para ocupar seus dias, Elain procurou uma nova ocupação: estava aprendendo botânica e herbologia com Madja, a curandeira pessoal de Rhysand. Ele não ficou muito feliz quando Feyre sugeriu a ideia, mas também não se opôs, então, há mais ou menos dois meses, Elain vinha absorvendo tudo o que podia sobre plantas medicinais - era outra coisa que ela sentia que precisava fazer, por isso foi até a irmã mais nova questionar sobre o assunto. Então agora seus dias se dividiam entre: ajudar Nuala e Cerridwen na cozinha, cuidar de Nyx, aprender com Madja, e tentar desesperadamente não pensar em Lucien.

Sabia que ele havia sumido do mapa. Nem mesmo Feyre tinha notícias do macho de cabelos ruivos. Certa noite, há cerca de quinze dias, ela ouviu a Grã-Senhora solicitando à Azriel que fizesse uma busca por Lucien, o que deixou o mestre espião muito - muito - descontente. Mesmo que detestasse admitir, Elain estava ficando preocupada. Sentia o Laço - ao menos ela pensava que era isso, mas estava fraco. Aquela pulsação na boca no estômago já não a cutucava, aquele fio de luz que se instaurou nela estava perdendo o brilho. E ela sabia o motivo: ele estava tentando esquecê-la, deixá-la para trás.

Não podia culpá-lo.

Mas também não sabia como se sentia a respeito disso. Elain sabia que era muito egoísta de sua parte. Tinha que deixá-lo livre, não podia forçar essa ligação sendo que ela nem mesmo queria aquilo. Prometera a si mesma que o rejeitaria na próxima vez que o visse. Vassa havia dito que era o melhor para ele, e Elain estava disposta a retirar de Lucien o fardo da parceria.

Tendo tomado essa decisão, respirou fundo e levantou-se do banco onde estivera sentada nas últimas duas horas, o vestido leve de linho era de um tom de verde bem clarinho, com duas alças finas e um decote em V, as saias ondulavam até metade de suas panturrilhas - o mais curto que Elain já usara na vida. Era lindo e refrescante, e os sapatos com pequenos saltos que ganhara de Mor no último Solstício combinavam perfeitamente. Elain se sentia um tanto fútil por pensar em coisas assim, mas os deuses sabiam que ela andava precisando de um pouco de futilidade e divertimento, embora nunca fosse se permitir ir além do que algumas roupas compradas em Velaris. Tentava desesperadamente não pensar em nada muito profundo: não pensaria em seu filho perdido, não pensaria em Graysen, não pensaria em Azriel, e não pensaria mais em Lucien. Guardaria aquilo para quando estivesse sozinha - não queria as pessoas a olhando com pena ou preocupação. Desejava apenas um pouco de normalidade.

Corte de Flores FlamejantesWhere stories live. Discover now