Corte de Flores Flamejantes

Capítulo 1

O silêncio reconfortante das gêmeas sempre fora como um bálsamo para a mente turbulenta de Elain. Desde os primeiros dias em que teve coragem suficiente para se aventurar por fora do quarto delegado a ela na Casa do Vento. 

As meio espectro não a julgavam. Não a enchiam de perguntas. Se ela quisesse conversar, as três conversariam por horas a fio. Se não quisesse, apenas trabalhariam em silêncio. Elas a ensinaram a cozinhar, assar pães, bolos e biscoitos, algo que Elain aprendera a amar quase tanto quanto jardinagem. Algo em que ela precisava se concentrar, o que não permitia que os pensamentos saíssem vagando sem rumo como geralmente acontecia quando estava ociosa. Algo que os outros poderiam admirar, que o fariam se sentir confortados. Assim como trabalhava ajudando na reconstrução dos jardins de Velaris que foram destruídos após a invasão de Hybern, ela cozinhava sempre que podia. 

O fato de Elain acordar antes que todos os outros também havia ajudado na construção daquela amizade. Seus sonhos - ou visões, não sabia ao certo - nunca a permitiam dormir muito. E, novamente, Nuala e Cerridwen nunca a julgavam por esconder dos outros que seu poder ainda estava ali. Na Casa da cidade não haviam tantos quartos quanto naquela, a Casa do rio que Feyre construira. Era muito menor - embora ainda grande o bastante - e Elain encontrou facilmente a cozinha quando estava perambulando pela casa antes mesmo de o dia alvorecer. Foi então que conheceu as irmãs meio espectro. 

Elas foram gentis e atenciosas, e comemoraram com ela quando assou seu primeiro pão comível - verdade seja dita, foram inúmeras tentativas frustradas antes que finalmente conseguisse algo decente. Desde então, as três desenvolveram uma sólida amizade. 

E é justamente essa amizade que fez com que Nuala olhasse para Elain enquanto ela atravessa a porta da cozinha na casa do rio e declarasse: 

- São os sonhos novamente? 

Cerridwen levantou os olhos do chá que estava preparando e, sem uma palavra, pegou outra xícara para preparar uma porção para Elain também, enquanto esta última acomodava-se na cadeira da mesa da cozinha. 

- Estão ficando cada vez mais nítidos. - Resmungou, passando as mãos pelos cabelos para prendê-los no alto da cabeça  e não deixar que algum fio solto caísse sem querer em algo que seria servido à família. 

Cerridwen colocou a xícara fumegante em frente à Elain e Nuala antes de se sentar ao lado da irmã, com sua própria xícara em mãos. Elain agradeceu antes de bebericar um pouco do conteúdo doce. 

- Morrigan chega hoje? - Questionou distraidamente, soprando por cima da borda de porcelana. 

- A princípio, sim. - Nuala deu ombros. 

- Ela não perderia a cerimônia de parceria de Cassian, a menos que algo de muito grave tenha acontecido. - Cerridwen ecoou o gesto da irmã. 

Gêmeas, sim, mas o que quase ninguém sabia era que, apesar de serem gêmeas idênticas, Nuala e Cerridwen tinham personalidades muito distintas, a primeira sendo mais expansiva e comunicativa do que a segunda, que preferia calar e observar, apenas expressando sua opinião quando tinha certeza absoluta do que dizia. 

- Espero que isso não aconteça. - Elain respondeu. - A família sente falta dela. 

As fêmeas sentadas à mesa com ela se entreolharam, um olhar cheio de significado, que deixou Elain preocupada. 

- Pela Mãe, aconteceu algo a ela? - Sobressaltou-se. 

- Acalme-se, não houve nada. - Cerridwen esticou-se e pôs a mão sobre a de Elain. - As sombras estão agitadas, apenas isso. Não deve ser nada.

A menção às sombras fez Elain se contrair imperceptivelmente, pensando em Azriel. Os dois se distanciaram desde a noite do último Solstício de Inverno, quando eles ousadamente trocaram presentes às escuras, e poderia jurar que ele a beijaria, mas então foi recusada de maneira brusca. Sentia-se envergonhada pelo ocorrido e tentava evitar Azriel desde então. Verdade seja dita que ele também mantinha o máximo de distância possível dela, especialmente quando Lucien estava por perto. Elain se arrependia de ter devolvido o presente que recebera, embora não pudesse realmente ficar com ele depois de Az deixar claro que o que estava acontecendo entre os dois era um erro. Não podia deixar que ele gastasse dinheiro com ela, mas gostaria de ter algo dele, apenas pela lembrança.