Capítulo 32

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Elain tinha achado a Corte Diurna fantástica. Linda em toda a sua glória dourada e movimentação frenética. Mas a Corte Primaveril...

Assim que puseram os pés naquela Corte, ela ficou sem fala. Atravessaram bem no meio de um bosque. Seus olhos foram bombardeados com uma infinita gama de cores e plantas e cheiros. O caminho onde eles estavam era sombreado por árvores de jacarandá, cuja profusão de flores era tão densa que várias delas já haviam perdido seu posto nos galhos e formavam um tapete azul e lilás por todo o caminho de terra batida. Elain não conseguia se mover, tamanha era sua admiração. Por onde quer que olhasse, encontrava plantas e árvores e frutos e flores. Ela poderia passar o resto de seus dias catalogando, cheirando, admirando, cuidando daqueles jardins...

- Nunca vi nada tão maravilhoso em toda a minha vida. - Ela arfou, girando ao redor do próprio corpo, sem conseguir conter o sorriso.

Elain ouviu o risinho que escapou dos lábios de Lucien, mas não se importava de parecer boba. Aquele lugar era tudo o que ela havia imaginado pelo que ouviu das histórias de Feyre, muito tempo antes.

- Espere até ver o resto da Corte. - Lucien sorriu quando ela se virou para ele novamente. - Algum dia levarei você a todos os melhores lugares daqui. Mas por hora... - Ele pegou a mão da fêmea e fez um gesto com a cabeça. - Vamos, temos trabalho a fazer.

Lucien a guiou através da trilha de terra batida. As flores de jacarandá que estavam no chão se misturavam a outras folhas e galhos, e estalavam sob seus pés conforme Elain caminhava. Ela não pôde deixar de notar que Lucien caminhava tão suavemente que nem mesmo movia os resíduos no chão. A fêmea estava aprendendo com Nuala e Cerridwen a ser silenciosa desse jeito, mas ainda não havia chegado ao nível que Lucien e as gêmeas exibiam. Estava prestando tanta atenção ao seu entorno que vislumbrou a clareira adiante assim que a luz do Sol ficou mais intensa, indicando que o bosque estava chegando ao fim.

De fato, um entremeado de cipós, galhos e flores de tumbérgia azul formavam um portal de cerca de três metros, indicando a entrada da clareira, que era perfeitamente redonda em um raio de cinquenta metros. Um rio calmo e largo projetava o som de água corrente que aguçaram os ouvidos de Elain. A grama baixa parecia ter sido cortada recentemente - embora Elain achasse que isso se devia mais à magia do que a qualquer outra coisa. E lá, no canto mais distante da clareira, ela viu... Uma pequena cabana de madeira e pedras.

A sensação de voltar no tempo a atingiu com força conforme Elain se lembrava de quando viu pela primeira vez a cabana em que passaria seus anos mais difíceis, mas também os anos em que ela de fato podia dizer que tinha uma família. Era uma família complexa e difícil de lidar na maior parte das vezes, mas era sua família. Elain foi tomada pelas memórias de seu pai entalhando madeira em frente à lareira, ela e as irmãs se aconchegando uma a outra durante os rigorosos invernos. As flores que Feyre tão docemente pintou nas pernas da mesa bamba e na gaveta onde ficavam as coisas de Elain.

Enquanto Lucien e ela caminhavam para aquela cabana, milhares de lembranças passavam por sua mente. O que teria acontecido a elas se, naquele dia, muito tempo atrás, Feyre tivesse recolhido a flecha e não tivesse matado aquele lobo? Com certeza suas vidas seriam muito diferentes do que são hoje. Será que seu pai ainda estaria vivo? Será que elas estariam vivas, ou a fome já teria levado alguma das irmãs Archeron?

- Desculpe, é uma cabana simples, um posto de sentinela. Eu usava de refúgio quando precisava de um tempo sozinho. - Lucien a tirou de seus devaneios.

Apenas agora Elain notou que já haviam entrado na cabana. Era simples, de fato, apenas um enorme cômodo contendo tudo o que era preciso para passar os dias confortavelmente. Havia uma área central contendo uma pequena cozinha com uma mesa de madeira e três cadeiras, bem como a lareira, que cobria metade da parede externa, um sofá de veludo marrom confortável em frente. Uma prateleira contendo uma vasta gama de livros ocupava uma outra parede. A decoração era rústica, apenas algumas almofadas e tapetes. Mais adiante, ao fundo da cabana, havia um local para descanso, com uma cômoda e uma cama simples, mas grande o suficiente para duas pessoas dormirem tranquilamente. Não ousou ir até lá. Caminhou até o sofá e passou a mão nele, notando uma manta dobrada sobre um dos braços.

Corte de Flores FlamejantesWhere stories live. Discover now