Capítulo 24

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Aceitar aquele convite para jantar havia sido um erro dos grandes.

Sua amiga estava obstinada, e não escondia o desejo de que Lucien e Elain, nas palavras dela, se aproximassem. O que a fêmea não percebia - ou fingia não perceber - era que Elain não dirigira uma única palavra a Lucien durante todo o jantar, o qual fora extremamente desconfortável. "Um jantar em família", havia dito a Grã-Senhora, e Lucien inocentemente achou que ela se referia a família inteira, até mesmo a víbora da irmã mais velha. Porém, foi com imensa consternação que percebeu, tarde demais, que por família Feyre quis dizer ela, Rhysand, Nyx e Elain. E, claro, Lucien. Nem mesmo a fêmea loira, Morrigan, estava presente. Céus, seria grato pela presença de qualquer um - Cassian, Amren, até mesmo Azriel, se isso o livrasse do desconforto de presenciar a família feliz sentada à mesa.

Feyre tentava dar mingau à Nyx, que batia as mãozinhas e espalhava o conteúdo por toda a mesa, sujando sua mãe e um pouco de Rhysand, que ria, os olhos cheios de um amor infinito. Lucien, apesar de saber que era errado, não podia deixar de sentir certa inveja do pequeno illyriano; nunca conhecera o amor de uma família, jamais brincou à mesa com os pais. Sua mãe fora a única pessoa em toda sua infância que lhe agraciou com carinho e amor, e mesmo assim apenas quando estavam à sós. Nem começaria a falar sobre o pai, aquele velho odioso que amava apenas uma coisa: poder. Lucien não via a hora de aquele maldito jantar acabar para ele poder voltar a ignorar o Laço, como vinha tentando fazer nos últimos três meses.

Olhou novamente para Elain, que encarava o prato, ainda vestida com a mesma roupa verde-claro de mais cedo, remexendo o macarrão espaguete à carbonara - que, Lucien tinha que admitir, estava delicioso, embora o macho tenha reparado que ela não havia tocado muito em sua comida, exceto por uma garfada ou outra de vagem quando Feyre olhava em sua direção. De fato, a fêmea nem mesmo levantou os olhos. Aquilo o estava irritando.

- Lucien, sabia que Elain está tendo aulas com nossa curandeira pessoal? - Feyre tentou novamente, limpando o resto de mingau da bochecha direita.

- Hmmhmm. - Ele não sabia o que responder, então sorriu educadamente e pôs uma última garfada na boca.

- Botânica e herbologia. - Feyre continuou, a voz transbordando orgulho. Elain esticou o braço e pegou um copo de água, bebendo um pequeno gole.

Isso surpreendeu Lucien, que olhou na direção da parceira. Os olhos deles se encontraram pela primeira vez na noite, apenas por um breve momento, antes de ela desviar o olhar para o prato novamente. E a porcaria do jantar continou assim por, pelo menos, mais um quarto de hora. Então Feyre sugeriu - embora coagiu fosse uma palavra mais adequada - de que tomassem chá na sala de estar. Até mesmo Rhysand estava desconfortável com a tentativa quase desesperada de Feyre de juntar Lucien e a irmã.

Todos se acomodaram nos sofás, com Nyx brincando no chão entre eles. Mais um quarto de hora se passou nessa balela. Lucien estava tentado a mandar Feyre calar a boca e abrir os olhos, pois apenas ela não enxergava o que estava diante de todos. O bebê começou a bocejar e ergueu as pequenas mãozinhas, pedindo pelo colo da mãe. Era a deixa perfeita. Lucien levantou-se, esticou a coluna e declarou.

- Bom, acho que estamos todos cansados. Se me derem licença, vou para meus aposentos, parto cedo pela manhã. - Olhou significativamente para Feyre; seu jantar havia passado e o trato estava selado. Ele não tinha mais obrigações com a Corte Noturna.

- Está certo. - A fêmea respondeu desconcertada, olhando para Elain e Rhys.

Rhysand também se levantou de seu assento e caminhou calmamente até onde a esposa e o filho estavam, dando um beijinho na testa de cada um. Lucien desviou os olhos, desconfortável. Não podia nem imaginar como Elain conseguia suportar essa melação todos os dias, ainda mais depois de ter perdido o próprio bebê. Mas, olhando de esguelha para a parceira, ela não parecia se importar muito. Se tivessem mais intimidade, Lucien perguntaria à ela, questionaria. Queria saber tudo o que havia para saber sobre a parceira. Mas sabia que seria inútil verbalizar qualquer pergunta; seria respondido com o mais puro silêncio.

Corte de Flores FlamejantesWhere stories live. Discover now