— É sério isso? Qual é a de vocês dois, em?

— Qual é o seu problema, Tiago? Tudo bem você não concordar com minha sugestão, mas eu não admito que me diminua desse jeito!

Os dois ficaram se encarando com expressões raivosas. Camila não lembrava de ter tido alguma vez uma discussão assim com Tiago. Não sabia se o motivo disso era porque todos estavam aflitos, ou porque ele não aceitava sua nova maneira de ser. Talvez os dois.

— Heliberto, eu sei que a Camila é nossa amiga. — Ximú começou. — Mas eu não vou deixar que você se arrisque assim.

— Pois é, Heliberto. — Tiago disse com ironia. — Talvez devesse escutar ela. Melhor não dar palpite onde não é chamado. Acha que não sei que está concordando com ela apenas porque é afim dela?

— JÁ CHEGA, TIAGO! — Camila o defendeu. — Não vou deixar você tratar ele assim!

— Eu sabia, vocês têm alguma coisa!

— Se temos ou não, não é da sua conta!

A raiva no rosto de Tiago pareceu aumentar ainda mais.

— Você é uma medrosa! Como quer liderar um grupo de viajantes interdimensionais e comandar um plano tão arriscado assim?

— Eu não quero liderar ninguém, foi apenas um palpite! E mesmo que eu quisesse, qual o problema? Eu não sou mais aquela garota medrosa que você conhecia; que ficava calada e aceitava tudo que lhe era imposto. Que aceitava tudo o que você falava, e tenho orgulho de dizer que mudei. E se você não gostou disso, o problema está em você. Se não gostou do meu plano, ótimo, mas não vou permitir que você me diminua e trate mal os meus amigos!

— Seus amigos? E eu sou o quê?

— Não sei se posso considerar alguém me define como uma incapaz e medrosa, um amigo.

Eles se encararam novamente por bastante tempo. Dois olhares raivosos e inconformados. Camila, apesar de querer simplesmente chorar e colocar para fora toda a raiva que estava sentindo naquele momento, manteve-se firme.

Tiago saiu da sala e se dirigiu para o quarto, sem dizer nada. Quando o garoto passou pela cortina colorida de bambus, Camila se sentou no sofá e colocou as mãos sobre o rosto, sentindo uma lágrima rolar por ele. Nunca gostou de estar brigada com Tiago, ainda mais depois de tanto tempo longe dele. Sentia mais tristeza do que raiva.

Seu próprio amigo não acreditava que ela era capaz de lidar com aquilo. Ele sempre a viu desse jeito? Sempre a enxergou como inferior? Ele não viu o que ela teve que passar no último ano, não sabia nada sobre sua vida naquele mundo. Quem ele achava que era para julgá-la assim, desse jeito?

Passou a mão sobre o pingente que seu amigo havia lhe dado, e começou a deslizar os dedos sobre ele. Isso a acalmou um pouco, de certa forma. Viu Heliberto caminhar até ela e se sentar ao seu lado. Tudo o que ele fez foi colocar as mãos em seu ombro, como sinal de conforto. Heliberto era o único que parecia sempre tentar entendê-la.

Um barulho estrondoso de madeira quebrando foi escutado. Camila rapidamente limpou as lágrimas e levantou a cabeça para ver o que havia acontecido.

Viu dois homens carecas e pálidos usando ternos pretos igual a seus óculos escuros adentrarem na residência. A porta principal estava derrubada no chão. Gritos foram escutados.

— É A O.P.U! — Kari gritou, parecendo amedrontada. — ELES NOS ACHARAM!

— EU FALEI PARA NOS ESCONDERMOS! — Pedro pareceu em pânico.

A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora