Memórias de uma vida antiga

2 0 0
                                    

Próximo ao morro, 18:22

Rico e Luísa estavam escondidos atrás de uma caçamba de lixo, ao redor tinha bastante lixo e entulho.

Rico inclinou um pouco a cabeça para poder ver alguma coisa da favela, havia um número considerável de pessoas indo de um lado para o outro.

Os dois discutiram novamente o plano, como ambos concordaram, continuaram adiante.

Luísa saiu de trás da caçamba primeiro, ela estranhou a demora do Rico, mas depois de alguns segundos, ele saiu de trás e correu até a Luísa, se desculpando pelo atraso.

Luísa ainda não estava entendendo o porquê ele estava carregando aquele bendito manto azul desbotado.

- Meu amigo, por que diabos você tá com esse pano?- Ela cochichou no ouvido do Rico.

- Você sabe que este belo rosto que me pertence já está nos jornais, né?- Ele indagou.

- Claro, principalmente quando você explode sei lá quantas coisas em menos de não sei quantos dias.-

- Então, isso aqui é um disfarce.- Rico disse, colocando o pano nas suas costas, ficando uma boa quantidade de pano em sua cabeça.

- Mas eu ainda consigo te reconhecer.-

- Não quando faço isso.- Rico colocou parte do pano na frente do seu rosto, deixando uma parte aberta para continuar enxergando.

- Wow, incrível, parecendo um certo Deus do Trovão.-

- Não me compare a aquele chorão, nunca na minha vida fui humilhado por um Zeus mais falso que nota de 3 reais.-

Luísa deu uma pequena risada e os dois continuaram andando.

Conforme caminhavam pela favela, viam as condições horríveis que aquelas pessoas se encontravam, além de viverem no meio do lixo e em casas que pareciam que iriam cair a qualquer momentos, muitos estavam extremamente desnutridos, deprimidos e de certa forma, conformados com o inferno em que se encontravam.

- De que adianta essa maldita guerra civil?- Um dos moradores indagou para si mesmo - Não importa quem vencerá essa guerra, nós sofremos, acreditamos que alguém seja nossa salvação, temos esperança e na primeira oportunidade, a opressão volta cada vez mais forte, não temos salvação.- Disse o senhor desnutrido.

Luísa ficou meio desnorteada com o que o senhor disse, algumas memórias do passado vieram a sua mente, várias memórias rasgavam sua mente como facas afiadas.

Como não tinha como lutar contra elas, ela deixou acontecer naturalmente...

Muitos anos atrás...

Uma memória tão mas tão antiga que parecia que foi há milhares de anos.

Os gritos e os sons dos tanques disparando e dos soldados atirando nos manifestantes.

- Não fiquem assustados, o papai vai chegar e nos tirar daqui!- Uma mãe exclamou, enquanto abraçava seus filhos, os protegendo com seu corpo, os três choravam naquela situação desesperadora.

- Mamãe?- A garotinha indagou - Porquê está acontecendo isso? O Manoel disse que teríamos paz! O que fizemos para merecer isso!?-

A memória iria continuar por mais tempo, se Rico não tivesse a chamado.

De volta ao tempo presente...

Garota, alooou, você tá bem?- Rico indagou, preocupado com ela.

Ela não respondeu de primeira, ela achou que se passou horas, mas apenas 4 segundos se passaram.

- Desculpe, eu apenas estava... Esquece.- Ela disse, bem tristinha, Rico percebeu aquele olhar.

- Luísa, por favor, me diga o que está acontecendo, se quiser, claro.-

- Bom... É que faz sentido o que aquele senhor disse... Quem garante que a democracia será reestruturada? Isso aconteceu nas últimas duas vezes.

Primeiro com o Manoel Lopes, depois que o exército derrubou o filho da puta, achávamos que as forças armadas da Venezuela iriam nos ajudar, achávamos que elas eram patriotas.

Erramos por querer comparar nossas forças armadas com as dos nossos vizinhos, principalmente do Brasil, ficamos tão maravilhados com o que elas fizeram nos últimos 10 anos, que pena que o nosso exército já tinha sido corrompido pelo Bartolomeu...- A voz dela começou a ficar embargada, seus olhos começaram a se encher de lágrimas, Rico percebeu.

- Meus pais foram assassinados por terem lutado contra o Bartolomeu através de manifestações, aí veio as rebeliões, todas foram sufocadas.

Eu tento sempre ajudar meus amigos, eu fico sempre nos bastidores, auxiliando eles a uma distância segura, eu amo isso, amo criar equipamentos para eles... Por mais que a gente esteja lutando e lutando, até ganhando algumas das batalhas, não sei se temos muitas chances...- Luísa começou a chorar, discretamente, mas ainda, chorando.

Rico sentiu como se aquela situação fosse um punhal de obsidiana sendo cravado e torcido em seu peito, ele se aproximou calmamente da garota, ela não percebeu.

Rico levantou seu braço, mas ficou meio sem jeito, ele não sabia se subia ou descia o braço, mas conseguiu colocar seu braço no ombro dela, a puxando calmamente para mais próximo dele.

Ele tentava acalmar, fazendo um cafuné na sua cabeça, esse era o máximo de carinho que conseguia se recordar, ele conhecia outras formas de demonstrar afeto, mas desse jeito que estava fazendo era o que o deixava mais conectado com sua família.

- Escute, Luísa, é mais que normal sentir medo, tristeza ou insegurança, você só deve impedir que estes sentimentos a domine.

Eu juro, não importa o que aconteça, desta vez, a rebelião irá derrotar este governo, vocês saberão o que deve ser feito após isso.

Eu vejo em você um tipo de pessoa muito boa, altruísta, seus pais iriam estar muito orgulhosos da mulher que você se tornou e do homem que seu irmão se tornou.

Independente do que aconteça durante essa guerra ou ao final dela, saiba que além de contar com meu apoio, contará com a minha amizade.- Rico disse, calmamente, ele estava meio triste com tudo isso que estava acontecendo com ela.

Luísa rapidamente o abraçou como se fossem amigos a muitos anos, ela o agradeceu animadamente e com um sorriso em seu rosto.

Rico ficou com seu coração um pouco aquecido, além de soltar um pequeno sorriso.

Os dois ficaram abraçados por mais 4 segundos, até que ela o soltou, ainda sorrindo e o mostrou que a boate estava bem perto, então continuaram a caminhar, os dois estavam felizes, Rico aos poucos começava a vê-la como uma irmã, que outrora teve há mais de 35 anos.

Just Cause: O Diabo EscarlateWhere stories live. Discover now