38.

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Acariciou sua coberta e perguntou:

— Tem folheado-a?

— Sim, sinto muito. Senti curiosidade. Mas encontrei uma coisa muito interessante.

Dulce abriu o livro. Na primeira página escrito a mão com letra elegante, figurava o nome de sua avó de solteira. Ryan passou uma página e ela leu uma inscrição. Estava escrita com a mesma letra: — "Para Ellen Kahleen Sheehan, em ocasião de sua primeira comunhão". Pergunto-me se será a letra de minha bisavó — disse Dulce embargada de emoções contraditórias.

As lembranças de sua avó estavam cheias de medo, de respeito, de ressentimento. Sua avó sempre tinha lhe falado com dureza, com ira, com desaprovação. Se Ellen Sheehan Reilly tinha querido alguma vez a sua neta bastarda, tal e como a tinha chamado numa ocasião, seus sentimentos desde então estavam enterrados no mais fundo de seu coração. Tanto, que Dulce jamais tinha podido afastá-los. Mas Dulce jamais deixaria que ninguém chamasse assim seus filhos. Se sentiriam queridos. Prometeu-se.

— Sabe, acho que minha avó me detestava.

— Dulce, eu...

— Não, Christopher, estou convencida disso. Você cresceu no seio de uma família cheia de amor, e não se dá conta do que significa conviver com uma mulher como ela. Tinha uma forma de ser muito estranha. Minha mãe e meu avô eram como sombras. Mal recordo algo de minha mãe. Não parece triste?

— Sinto muito — disse Christopher aproximando sua cadeira à dela e tomando uma mão de Dulce entre as suas.

— Mais sinto eu. Não só por mim, senão também por minha avó. Não teria sido mais fácil perdoar minha mãe, se sentir feliz de ter uma neta sã?

— Sim, claro que sim. Quem dera pudesse mudar o passado, Dul.

— Quem dera pudesse fazê-lo eu — sorriu Dulce tratando de esquecer —. Era isto o que queria me ensinar?

— Não exatamente — contestou Christopher abrindo a Bíblia pelo centro, onde tinham umas páginas dedicadas à genealogia familiar, com anotações sobre nascimentos, mortes e casamentos —. Olha.

Dulce ficou atônita. Naquela página estavam escritos todos os dados de três gerações pelo menos, anteriores à de sua mãe. Tudo anotado com detalhes, cronologicamente. Nomes, lugares de nascimento, datas. Estavam também o nome da mãe de Dulce e o seu. Dulce jamais se tinha sentido herdeira de nenhuma tradição familiar, nem sequer sentia que tivesse uma verdadeira família. As lágrimas vieram em seus olhos. Então observou que Christopher assinalava um dado. Dulce leu cuidadosamente. A anotação dizia: "Ellen Kathleen Sheehan, nascida em Boston em 9 do 9 do 18". A data da morte estava em branco, igual a da mãe de Dulce. Não ficara ninguém para anotá-las, exceto ela.

Dulce leu a linha seguinte: "Shannon Mary Sheehan, nascida em Boston o 9 do 9 do 18.Falecida em Boston o 27 do 9 do 18". Dulce alçou a vista atônita.

— Minha avó tinha uma gêmea!

— Sim, e era menina também — assentiu Christopher sorrindo —. O que aposta que eram idênticas?

— Não posso crer — declarou Dulce se deixando cair no respaldo da cadeira e pegando um copo de água —. Pobre menina! Só viveu dezoito dias. Leu todas as anotações? — perguntou endireitando-se de novo.

— Não. Fiquei estático, quando vi isto — sacudiu Christopher a cabeça —. Deixei o livro e fiquei andando de um lado para outro, um bom tempo. Em algum dia teremos que advertir nossas filhas de que elas também podem ter gêmeos — acrescentou com um sorriso malicioso.

Dulce pegou a Bíblia e leu cuidadosamente todas as anotações.

— Vamos ver se há mais, em outras gerações. Olha, há outro casal de gêmeos, teve-os a irmã de minha bisavó! Não posso crer que não tivesse notícia de uma coisa assim. Como pode ser que nunca me dissessem nada.

— Pode ser que nem sequer sua mãe soubesse — assinalou Christopher.

— Sim, é possível. Muito provável, de fato — contestou Dulce afastando a Bíblia e suspirando, cheia de frustração —. Talvez o fato de saber que a família era propensa a ter gêmeos tenha mudado muitas coisas.

— Como que, por exemplo? — perguntou Christopher colocando-se por trás dela e apoiando pesadamente as mãos em seus ombros, para começar à acariciar e lhe fazer uma massagem —. Eu não penso em mudar nada. Dentro de uns meses você e eu teremos duas preciosas meninas. Suponho que será melhor não lhes pôr o nome de sua avó — acrescentou depois de uma pausa, brincando.

— Depois — contestou Dulce séria.

A sala de jantar ficou em silêncio por uns instantes, enquanto Christopher continuava fazendo-lhe massagem nos ombros. Lentamente, seus movimentos foram se tornando mais eróticos, mais sensuais. Christopher deslizou as mãos por seus antebraços e depois afundou os dedos em seus cabelos. Dulce gemeu como um gato satisfeito, sobressaltando-se ao escutar o ruído que ela mesma tinha produzido. O pulso começou a acelerar. Dulce respirou fundo, tratando de acalmar-se, e levantou uma mão para tomar à dele e beijá-la.

— Gosto disso.

Christopher aproximou-se de seu lado. Lentamente, olhando-a nos olhos, tomou-a pelo cotovelo e a fez ficar em pé. Então colocou as mãos em sua cintura e ela voltou à vista para ele.

— Dul...

Sua voz soou rouca, atropelada. Dulce alçou os braços para rodeá-lo pela nuca, e ele deslizou os braços por sua cintura para estreitá-la contra si, buscando e reclamando seus lábios firmes, profundamente.

Dulce estremeceu. Abriu a boca e sua língua dançou, fazendo sensuais círculos junto à dele, enquanto Christopher a estreitava com força contra seu peito. Os músculos das pernas de Christopher estavam duros. Dulce gemeu uma vez mais ao notar sua virilidade toda contra si.

Quanto tempo estivera desejando-o, sem nem sequer se dar conta?, perguntou-se Dulce. O amor a embargava por inteiro, enquanto abandonava-se em seus braços e suas caricias. Dulce esqueceu que estava grávida, esqueceu as recomendações do médico e começou a mexer os quadris fazendo círculos sinuosos contra ele. A excitação cresceu ao notar a resposta de Christopher. Ele deslizou as mãos por suas costas e colocou as palmas sobre seu traseiro, pressionando-o contra si. Dulce gemeu e se estreitou contra ele, tratando de aproximar-se ainda mais. Mas então ele afastou a boca.

— Chega — disse Christopher com respiração entrecortada, alterado —. Não... se... mova.

Dulce parou, surpreendida e incapaz de compreender. Christopher respirava aceleradamente, seu peito alçava-se e caía junto ao dela, fazendo-a estremecer. Christopher soltou-a e colocou-a de novo no chão. Gemeu ao sentir o corpo de Dulce deslizar-se para abaixo, contra o seu. Agarrou-a e fez-lhe dar um passo atrás.

—Dul...

Um filho teu (Adaptação) Vondy Where stories live. Discover now