19.

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— Me dizem isso sempre. Precisamos de bebidas — acrescentou Christopher dirigindo-se à cozinha, para voltar em seguida —. E bem, quanto tempo tem que esperar agora para saber se funcionou?

—Uns dez dias, mais ou menos. Meu nível de Beta está subindo, mas ainda é cedo para saber.

Christopher só assentiu, mas Dulce observou o brilho e seus olhos. Estava tão impaciente como ela, compreendeu.

— Quer ir a Chinatown este fim de semana? Celebra-se no Ano Novo chinês.

— Soa divertido, sempre quis ir ver.

— Nunca foi? Vai se encantar — predisse Christopher —, Há um desfile, danças com dragões e leões, fogos artificiais. Podemos jantar em Nova Xangai.

— Bem, ouvi dizer que é um restaurante fabuloso.

— E é Wendy adorava. Sempre pedia cordeiro com cebolinhas.

Wendy. Outra vez. Era deslealdade para ela, desejar que seu nome não se mencionasse constantemente na conversa? Perguntou-se Dulce. Sim, provavelmente. Desleal e egoísta. Mas apesar de tudo... Christopher e ela iam casar, ela seria sua mulher. Continuaria ele falando de Wendy, então?

— Bem, ótimo. O colocarei em minha agenda.

A semana passou rapidamente. Antes que Dulce desse conta, tinha chegado o sábado.Dulce tirava as luvas do bolso do abrigo quando bateram na porta.

— Por que você não abre? Eu lhe dei uma chave, recorda?

— Sim — encolheu-se de ombros Christopher —. É que me pareceu um pouco... presunçoso por minha parte, entrar assim.

— Que consideração! — exclamou Dulce dando-lhe golpezinhos na bochecha —. Venha quando quiser, é livre para o fazer quando desejar.

Christopher tomou-a pelo cotovelo e colocou a mão dela contra sua bochecha, antes que ela pudesse a deixar cair.

— Quando quiser? — perguntou com um olhar surpreendentemente íntimo, sedutor.

Dulce recordou de imediato às palavras que ele tinha dito na noite em que lhe propôs casamento. "Paixão prometo que terás". Aclarou a garganta, sentindo um estremecimento, e contestou, tratando de mostrar indiferença:

— Claro, um amigo sempre é bem-vindo.

Mas a resposta morna de Dulce não pareceu ter sucesso, seguramente porque sua voz soou rouca. Christopher levou a mão de Dulce aos lábios. Ela fechou os olhos e sentiu seu fôlego cálido na pele. E então a boca de Christopher posou-se sobre aquela mão suave, ternamente. Dulce sentiu que lhe fazia um nó no estômago.

— Que está fazendo?

— Testando como sabe. Por que? — contestou ele com naturalidade, com um brilho de triunfo no olhar segurando ainda a mão contra os lábios.

— Por nada — contestou Dulce afastando a mão, ruborizada, muito violenta para fingir que não a afetava —. Achava que estávamos de acordo em que... Em que... Éramos amigos.

— Era um gesto amistoso — contestou ele com fingida inocência.

— Ah! — exclamou ela pendurando a bolsa no ombro e se dirigindo à porta.

— Depois, não foi o gesto de um inimigo — assinalou ele.

— Não, depois não foi.

Um filho teu (Adaptação) Vondy Onde as histórias ganham vida. Descobre agora