35.

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— Pode ser que a você não, mas a mim sim — contestou Dulce horrorizada —. Trabalhei muito, para ficar a frente de Reily Gallery. É algo mais que um simples emprego.

Christopher esteve a ponto de contestar-lhe que lhe tinha custado pouco esquecer a galeria durante aquela semana. No entanto calou. O que lhe sucedia? Preferia não pensar nisso. Conhecia a resposta. Tinha sonhado com Dulce durante anos, até que por fim se tinha rendido. De repente esse sonho fazia-se realidade, como por arte de magia. Mas só em parte. Sonhava em consumar a parte física de sua nova relação, mas já não lhe bastava nem sequer isso. Queria que Dulce o amasse tanto como a amava. Não só num sentido físico, senão também emocional. Queria-a inteira, em corpo e alma, com seu coração e com sua mente. Queria tudo.

No sábado seguinte, Christopher bateu à porta do dormitório de Dulce pouco depois das oito. Ela sabia que ele estava há uma hora acordado, fazendo exercício na sala de ginástica do terceiro andar.

— Entre — gritou ela.

— Bom dia — saudou Christopher com uma toalha no pescoço —. Quer que peça a Finn que traga o café da manhã?

— Não, prefiro descer.

— Deixa que Finn se ocupe de você — insistiu Christopher se aproximando da cama antes que ela pudesse se levantar —, por que não conserva suas energias?

— Para que, para a sexta? — sorriu Dulce.

— Bom... A verdade é que hoje tinha pensado que fôssemos ao casamento, se não está muito cansada.

— Refere-se ao nosso casamento? — perguntou Dulce abrindo enormemente os olhos —. Casaremos hoje?

— Não há razão para esperar, não acha?

— Não, nenhuma — se encolheu ela de ombros —. Está bem em ser hoje.

— Ótimo — contestou Christopher saindo —. Pedirei a Finn que traga o café da manhã e que lhe ajude a escolher o vestido.

Duas horas mais tarde, Dulce estava sentada num banco, no corredor em frente ao escritório do juiz de paz. Finn estava sentado junto a ela, enquanto Christopher caminhava nervoso de um lado a outro.

— Está linda — comentou Finn —. O traje cor marfim foi uma escolha muito acertada.

Dulce sorriu sem deixar de observar seu futuro marido, que parecia bem mais nervoso do que deveria, tendo em conta que era ele quem a tinha apressado ela, precipitando naquela situação.

— Jamais esperei me casar com ele, quando o comprei.

— Oh, Deus meu, mas faltam às flores — exclamou Finn se pondo em pé e correndo ao lado de Christopher —. Vou comprar flores. Não podem casar sem flores.

— Pois traga uma câmera de fotos de passagem, uma dessas descartáveis — contestou Christopher —. Já o ouviu, não podemos nos casar sem flores — murmurou em direção a Jessie, quando Finn se foi.

— Quer apostar? — caçoou Dulce —. É curioso sair à rua, após tanto tempo na cama.

— Não pode imaginar o alivio que sinto de lhe ver reposta afinal — comentou Christopher se sentando a seu lado, no lugar que tinha estado Finn, estreitando-a em seus braços.

— Tanto como eu, suponho. Quando planejei ficar grávida, não me ocorreu que pudesse ter problemas. Tenho que voltar ao trabalho.

— É possível que tenha que seguir com um horário um pouco diferente do habitual, quando voltar ao trabalho, sabe?

— Um horário diferente?

— Meio período, até que o médico diga o contrário — explicou Christopher —. As gravidezes múltiplas apresentam mais riscos que o resto.

— Quando passar isto estarei bem — afirmou Dulce se negando a crer no contrário.

Dulce sentia-se incapaz de abandonar a galeria. Tinha trabalhado muito para chegar onde estava, e não queria arriscar. Finn regressou com as flores e fazê-los pousar para tirar fotos. Finalmente, a porta do cartório abriu-se. Por ela saiu um casal, seguido dos convidados, Dulce engoliu, nervosa,e Christopher a tomou da mão a guiando dentro.

A cerimônia não durou muito, Dulce deslizou o anel no dedo de Christopher com mãos trêmulas, e assim continuou. Tremendo, quando ele fez o mesmo. As mãos de Christopher, ao contrário, permaneciam serenas, cálidas. Ela rodeou-o com o braço enquanto pronunciavam os juramentos. Quando a beijou, o fez brevemente, mas a suave pressão de seus lábios e o rápido contato de sua língua a excitou.

Depois da cerimônia, Dulce olhou Christopher. Seria possível que ele fosse realmente seu marido? Os olhos de ambos se encontraram, e Dulce viu nos dele a ternura e a segurança que tanto tinha almejado. Tinha tanto medo de que aquele casamento fosse um erro, de que Christopher se arrependesse... Dava-lhe pânico que Christopher pensasse somente em Wendy, enquanto se casava com ela. No entanto, enquanto assinavam, a expressão de seu rosto era de felicidade, de confiança. Finn fez mais fotos e lançou algumas flores ao ar, ao sair do cartório. Christopher levou-a ao carro e voltou a colocá-la na cama. Sozinha, tal e como tinha prescrito o médico.

Naquele dia mal se parecia ao que ela tinha imaginado, quando sonhava que em algum dia se casaria. No entanto era o casamento perfeito, porque era com Christopher com quem se casava.

Na semana seguinte Dulcee foi de novo ao médico. Tal e como Christopher tinha predito, ela começou a se impacientar, quando se encontrou melhor. Rogou a Christopher repetidas vezes que a levasse à galeria, mas ele se negou, esperando o consentimento do doutor. O médico pareceu satisfeito ante a melhoria. Permitiu-lhe trabalhar três dias na semana, em meio período unicamente, até a seguinte visita, duas semanas mais tarde.

— Mas se já me encontro bem! — protestou Dulce.

— Sim, mas não quero precipitar as coisas. Esperemos que passem as doze primeiras semanas de gravidez e a diminuição da medicação. Então falaremos.

— Até lá então meu negócio estará falido — murmurou Dulce enquanto voltavam ao carro.

— De nenhum modo, Penny está fazendo um bom trabalho. Não lhe minto — contestou Christopher.

— Sim, mas já tive que cancelar duas entrevistas no banco, e quem sabe quando conseguirei outra?

— Estará em forma antes do que imagina lhe concederão o crédito — a animou Christopher. Dulce permaneceu em silêncio, e depois de uns instantes ele voltou de novo os olhos para ela. Seu lábio inferior tremia —. Que ocorre?

Um filho teu (Adaptação) Vondy Where stories live. Discover now