33.

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Ao voltar a casa aquela noite Finn saiu à porta ao encontro de Christopher.

— Ainda está dormindo. Fui vê-la a todo momento. De hora em hora. Tomou a sopa e dormiu imediatamente.

— Sim, acho que não se dá conta de quão débil está — assentiu Christopher deixando uma sacola de um famoso shopping no chão enquanto Finn o ajudava a tirar o abrigo —. Irei vê-la. Por que não nos leva o jantar à mesinha pequena de meu quarto?

— Está bem, capitão.

Christopher recolheu a sacola com as comprar e subiu os degraus de dois em dois. Ao chegar à porta do dormitório de Dulce fez uma pausa. Estava encostada. E as cores da habitação surpreenderam-no por um instante. Estava acostumado ao azul alvo, que tinha escolhido Wendy. Wendy. Por um segundo ao ver àquela enfermeira, tinha passado mal.

Não se parecia tanto a Wendy, mas a primeira vista qualquer um as teria confundido. Christopher estava seguro de que Dulce não o tinha notado. No trajeto a casa tinha permanecido calada, tranquila. Provavelmente combatendo o sono. O médico tinha dito que o medicamento contra as náuseas produzia sonolência. Christopher tinha passado o caminho pensando na nova vida que o esperava com Dulce. Estava contente. Não delirantemente feliz, mas sim contente. Wendy tinha-o amado profundamente e ele, cansado de sofrer durante tantos anos almejando Dulce, lhe tinha correspondido com carinho e doçura. Não obstante, sempre tinha conservado um pequeno rincão em seu coração, dedicado a seu antigo amor.

Esperando Dulce. Jamais, nem num milhão de anos, teria imaginado o que ia suceder. Christopher sentia-se culpado. Nunca tinha desejado a morte de Wendy, mas lhe custava esquecer que não tinha sido para ela o amante e esposo que merecia.

Christopher empurrou a porta e contemplou Dulce na cama, dormindo. Seus cabelos ruivos estavam revoltos, seu rosto em paz, seus lábios ligeiramente entreabertos. Sentou-se silenciosamente numa cadeira, aproximando-a da cama, e tomou a mão de Dulce entre as suas. Dulce piscou. Entre as trevas, surgiu o brilho de seus olhos. Sorriu e girou a mão para apertar a dele.

— Olá.

— Olá — respondeu Christopher gozando de um instante mais doce do que nunca tinha imaginado, com medo de perder —. Acho que vou ter que lhe mudar o nome, terei que lhe chamar Bela Adormecida.

— Que hora é? Quanto tempo estou dormindo?

— Umas cinco horas. São sete e meia.

— Sete e meia! — exclamou Dulce tratando de sentar-se e arrumar o pijama, que usava desde o hospital. Christopher esperava que protestasse, que lhe ordenasse para levá-la imediatamente para sua casa, mas em lugar disso Dulce só disse —: Pobre Finn, mal comi do que me trouxe.

—Não importa estou certo que lhe perdoa se jantar bem. De qualquer modo, vai trazer-lhe sopa outra vez.

— Pois amanhã já poderei comer algo mais, pode lhe advertir que seus consomes têm os dias contados.

— Seguirá conosco amanhã?

— Suponho — respondeu Dulce depois de vacilar, mordendo o lábio. Christopher não pôde resistir à tentação de acariciar esse lábio. Dulce sorriu e estremeceu —. Não sei por que me custa tanto me mudar para cá, claro que pensava em fazê-lo quando nos casássemos. É só que... Sempre me cuidei sozinha: é-me estranho que alguém cuide de mim. Faz-me sentir-me mal, não sei por que. Christopher olhou-a compadecido, recordando a pequena menina que sempre se tinha valido por si mesma. Aquela falta de carinho teria acabado com qualquer um, mas para Dulce tinha-a feito mais forte.Dulce tinha saído vitoriosa. Não era de estranhar que lhe custasse aceitar ajuda dos demais.

Um filho teu (Adaptação) Vondy Where stories live. Discover now