30.

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— Sim, naquele ano era gordinha — sorriu Christopher —. Mas é verdade, está adorável — acrescentou ficando sério de repente e acariciando sua bochecha com um dedo, com incrível ternura —. sua pele é como a seda, ao contato. Tem rosas nas bochechas, e teus olhos são brilhantes. Teus lábios...

A voz de Christopher desvaneceu-se. Dulce estremeceu. Observava fixamente seus lábios, e a expressão de seu rosto era impossível de não interpretar. Lentamente ele se inclinou para frente, pegando-a pela nuca para aproximar sua cabeça e pousar os lábios sobre os dela.

Mas nessa ocasião não a beijou com insegurança, buscando sua aprovação. Os lábios de Christopher eram suaves, sedutores. Cálidos e firmes, a beijavam com erotismo, apagando todo pensamento racional de sua mente, toda possível objeção. Christopher levantou a mão para estreitá-la contra seu peito. Dulce usava só o pijama, e o coração batia aceleradamente.

Dulce levantou as mãos e se agarrou aos ombros de Christopher, e então ele lhe abriu os lábios e sua língua aprofundou na boca dela explorando-a, traçando círculos. Até que Dulce respondeu com paixão. Christopher deslizou a mão até a nuca dela. O coração de Dulce batia acelerado, os seios se tencionaram desejosos de um contato íntimo. Mas Christopher simplesmente acariciou seu pescoço, embriagando-a com a língua numa imitação do movimento do amor. Finalmente afastou a boca, deslizando-a pelo pescoço até o decote.

— Dul — murmurou contra sua pele —, desejo-a.

— Eu sei — contestou ela com os dedos enredados nos cabelos de Christopher —. É tão estranho.

— Para mim não — disse ele se jogando para trás, acariciando seus antebraços absortos —. O que poderia ser melhor, do que se casar com sua melhor amiga, com a qual, casualmente, compartilha uma atração sexual irreprimível?

— Isso não compartilhamos.

— Ainda — disse ele, confiante —. Mas compartilharemos. E será tão apaixonado que até os quadros cairão das paredes.

— Pois vai sair caro — caçoou ela.

— Bom, é uma sorte que não tenha problemas, nesse sentido — sorriu ele.

Dulce foi liberada no dia seguinte, ao meio dia. O médico ordenou-lhe ter calma, ao menos até que cumprisse doze semanas de gravidez. Então lhe retiraria o medicamento contra as náuseas e comprovaria se tudo estava bem. Dulce não podia trabalhar, nem subir escadas. Devia deixar que alguém a cuidasse, ao menos durante algumas semanas. Dulce estava horrorizada tratando de acostumar-se à ideia, quando o médico acrescentou outra nova restrição: não devia manter relações sexuais. Christopher estava no quarto, durante a visita. Dulce não se atreveu a olhá-lo, seu rosto ardia. Sentia-se ele tão frustrado como ela?

Christopher ajudou-a a subir no Mercedes.

— Senhor Uckermann? — chamou-o uma enfermeira, saindo do hospital —. Esqueceu isto.

Dulce conteve o fôlego atônita, ante a expressão do rosto de Christopher. Voltou-se e olhou à enfermeira. Era baixinha e loira, de olhos azuis, sorridente. E parecia incrivelmente com Wendy. Dulce voltou à vista para Christopher. Ele tinha notado. Seu rosto expressava angústia, dor.

— Deixarei no assento de trás — comentou a enfermeira.

— Sim, obrigado — contestou Christopher aclarando a garganta e agarrando-se ao volante.

Lá fora o dia era cinza e triste. E assim se sentia Dulce. Observou Christopher. Estava sério, tenso. Abriu a boca, mas voltou a fechá-la sem dizer nada. Que podia dizer? Era evidente que Christopher não queria falar disso, de outro modo teria mencionado. De repente Dulce sentiu-se insegura. Girou a cabeça em direção à janela seus olhos encheram-se de lágrimas. Não esperava nada daquele casamento, repetiu uma vez mais em silêncio. Que importava, se não compartilhavam um amor tão apaixonado e profundo como o que tinham compartilhado Christopher e Wendy? Podia viver sem amor. Na realidade, jamais o tinha experimentado. O único amor que tinha conhecido era o Chip, mas lhe tinha resultado asfixiante. Sua admiração jamais lhe tinha inspirado afeto. Christopher girou na Avenida Commonwealth e Dulce rompeu por fim o silêncio.

Um filho teu (Adaptação) Vondy Where stories live. Discover now