10.

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— Pois tinha razão — riu Dulce —. Graças a Deus, dei-me conta a tempo. Na realidade, era um bom garoto. Simplesmente não era para mim. Gostava do que me dava, de verdade. Sua forma de adorar-me, a ilusão de sentir que lhe pertencia, a segurança. No fundo, gostava bem mais de tudo isso do que dele. E por isso não teria sido justo que nos casássemos — terminou Dulce, ficando em silêncio.

— Voltemos às objeções — sugeriu ele.

— Não sei, suponho que sempre pensei que quando me casasse o faria pelas razões normais.

— Que razões normais?

— Já sabe: amor, paixão.

Ao ouvir aquelas palavras o rosto de Christopher se transformou. Não se moveu, mas Dulce sentiu que a atmosfera do ambiente se carregava. Um estranho e selvagem fogo prendeu em seus profundos olhos azuis, que de repente se fixaram nos lábios de Dulce a fazendo se estremecer e lhe cortando o fôlego.

— Paixão, prometo que terá — disse ele baixinho e profundamente.

Dulce ficou atônita. Aquele era Christopher, seu melhor amigo. Mas as emoções acordadas nela não eram as da amizade. Sentia como se um laço inexorável a atraísse para ele. Quase podia sentir de novo seus braços ao redor, enquanto arqueava todo o corpo para ele e os lábios se derretiam. Como demônios tinha demorado tanto em se dar conta do incrivelmente atraente que era? Ou sim se tinha dado conta? Tinha se negado, simplesmente, a reconhecê-lo? Talvez. Porque ele estava casado.

— Christopher...

Christopher deu um passo para ela, mas Dulce levantou instintivamente uma mão para detê-lo. No entanto Christopher agarrou-lhe a mão e atraiu-a para ele.

— Não acha que deveríamos pesquisar o que poderia surgir entre nós dois? — perguntou Christopher atraindo-a a seus braços com firmeza, enquanto Dulce punha as mãos sobre seus ombros.

Dulce pretendia recusá-lo, mas sentia-se débil e tremula. E Christopher não a soltou. Ela permaneceu imóvel, sentindo a erótica e eletrizante sensação que emanava dele. Era perfeitamente consciente da excitação de seu corpo masculino, e essa excitação surpreendia-a.

— Não... Não sei. Jamais tinha pensado em você... Em você e em mim... mais que como amigos — disse Dulce com olhos cheios de lágrimas —. É meu melhor amigo, e não quero jogar isso fora. Preciso que seja meu amigo, Chris.

Fez-se silêncio. Christopher não se moveu. Não a soltou, mas também não a estreitou com mais força. Ela manteve a cabeça baixa, sabendo que se a levantava nesse preciso instante a discussão teria acabado e sua relação se teria transformado para sempre. Não obstante, apesar de todas suas razões e de toda sua prudência, Dulce não pôde evitar se perguntar o que sentiria fazendo amor com ele. Mostrar-se-ia Christopher delicado, ou ardente e selvagem, como nesse momento? Dulce recordou o brilho de seus olhos e escutou de novo sua voz, profunda e rouca, no silêncio de sua mente: "Paixão prometo que terá".

As mãos de Christopher acariciavam suas costas. Dulce começou a tremer. Tinha desejado alguma vez com tanto ardor deixar de lado toda racionalidade e toda precaução? Seu corpo seguiu lutando contra sua mente durante outro longo momento, mas finalmente suspirou e afastou-se de Christopher. E por hora, ele a deixou ir.

— Não — negou tratando de mostrar uma firmeza que não sentia —. Não daria certo — acrescentou dando a volta —. Sinto muito.

Dulce sabia que não tinha escolhido bem as palavras, mas tinha um nó na garganta. Depois dela, escutou os passos de Christopher se dirigindo ao armário do vestíbulo e pegando seu casaco. Ouviu o ruído de roupa, e depois ele entrou em seu ângulo de visão e ergueu seu rosto com um dedo. Dulce seguia de pé, com os olhos fechados. Esforçou-se por abri-los e olhou-o nos olhos. Compreendeu que nada seria como antes. Ambos eram conscientes do fogo que ardia entre os dois.

— Bem, seremos amigos. Mas a oferta de casamento continua em pé. Pense — disse Christopher. Jessie assentiu incapaz de pronunciar uma palavra, e Christopher despediu-se —. Boa noite.

Aquela noite Dulce não dormiu bem. Nem dormiu bem nenhuma outra noite daquela semana. No sábado atirou no lixo os relatórios preliminares sobre doadores. Não achava que o processo implicaria tantos riscos como Christopher sugeria, mas de repente lhe parecia impessoal e desagradável. No domingo passeou pelos Jardins Públicos, e viu um casal com um menino rindo, com os rostos iluminados. O coração encolheu. Por que se negava a ela essa felicidade? Só pelo fato de não ter encontrado um homem com quem compartilhar a vida? A verdade era que sim, tinha encontrado, numa ocasião, mas tinha sido ela quem o tinha afastado de seu lado: Chip.

Durante o primeiro ano de instituto, o jogador mais famoso da equipe de futebol a tinha cortejado. Naquela época Dulce nem sequer se aprofundou muito nele, como pessoa. Simplesmente era o garoto mais popular, e todas suas parceiras a invejavam. Aos quinze anos, não se pretende bem mais. Na realidade, Dulce nem sequer tinha caído na conta de que Chip e ela não tinham nada em comum. Ele, singelamente, representava a segurança. Amava-a incondicionalmente, a venerava. E nunca ninguém a tinha querido assim. Christopher tinha sido uma constante em sua infância e em sua adolescência, mas depois, ao começar a sair com Chip, tinha se distanciado dela. E depois, depois de terminar ele o instituto, mal se viam. Olhando atrás no tempo, Dulce sentia quase que Christopher a tinha abandonado. Era de estranhar então que ela tivesse ido com Chip à Universidade de Alabama?

Uma vez ali Dulce começou a amadurecer, a dar-se conta de que o mundo era imenso e estava cheio de possibilidades. E foi então quando compreendeu que jamais seria feliz com Chip. No fundo, nunca o tinha amado. Casar-se não teria sido justo para nenhum dos dois. Tinha se apoiado nele durante muito tempo, assim Dulce o deixou e rogou para que encontrasse outra garota.

Poderia ter casado com Chip e ter tido filhos com ele. Algo, no entanto, a tinha detido. Naquele tempo, Dulce nem sequer tinha sabido discernir com clareza por que não devia o fazer. Simplesmente sabia. E, depois, depois de sua volta a Boston, não tinha encontrado também o homem adequado. Dulce ouviu uma vez mais a proposição de Christopher em sua mente, como um eco. Como era possível que, por um impetuoso instante, se tivesse sentido tentada de lhe contestar que sim? Porque se conheciam de toda a vida, se disse em silêncio. Christopher conhecia suas debilidades e suas manias. E os dois tinham muitas coisas em comum.

Viver com Christropher seria agradável, em muitos sentidos. Não obstante, ao recordar como tinha contido o fôlego e como tinha estremecido quando ele a tomou em seus braços, Dulce teve que reconhecer que a palavra "agradável" não era precisamente a mais exata.

Mas pensar nisso era perigoso. Dulce negou-se a analisar o ocorrido aquela noite. Em lugar disso preferiu se concentrar na negativa de Christopher a se oferecer como doador. Deveria ter imaginado que Christopher Uckermann jamais se conformaria em ser o pai natural de um menino ao qual não pudesse criar sobre o qual não tivesse nenhum direito. A família de Christopher sempre tinha estado muito unida. Não tinha buscado refúgio ela, em mais de uma ocasião, nos braços da senhora Uckermann? O senhor Uckermann, carinhoso e alegre, sempre a incluía quando brincava com seus filhos, a levantava e a fazia voar até a fazer gritar. A Dulce sempre tinha surpreendido o amor franco e sincero que todos eles se professavam.

Um filho teu (Adaptação) Vondy Where stories live. Discover now