2.

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— E o que você vai fazer?

— Não sei, mal tive tempo de pensar — contestou ela acariciando o copo de vinho —. Esta manhã estive muito ocupada, mas já me ocorrerá algo — acrescentou encolhendo os ombros, sem dar importância.

— Com certeza — respondeu Christopher levantando o copo em sua honra —. É uma mulher de recursos, a mais imaginativa que conheci. Isso para não mencionar sua cabeça dura e sua tenacidade.

— Vá! Obrigada. Eu acho — acrescentou Dulce dando um gole de vinho.

O garçom aproximou-se, e Christopher pediu dois pratos de lagosta. Enquanto os serviam, falavam sobre o tempo, sobre um artista que Dulce acabava de descobrir, que confeccionava lençóis e lenços de seda a mão, e sobre uma nova ideia financeira de Christopher. Minutos mais tarde, uma sombra alongada projetou-se sobre a mesa. Christopher levantou a vista, achando que seria o garçom, mas era uma loira de uns vinte anos.

— É Christopher Uckermann? — perguntou a loira em um tom calculadamente sedutor.

— Sim, eu mesmo. E ela é Dulce Saviñon.

Dulce fez menção de cumprimentá-la, mas a loira olhou-a breve e depreciativamente e voltou-se para Christopher, oferecendo-lhe a mão como se esperasse que a beijasse.

— Olá, eu sou Amália Hunt, dos Hunt de Beacon Hill, sabe? Quer jantar comigo? Esta noite, se estiver livre, ou qualquer outra noite que lhe apeteça.

— Senhorita Hunt, dos Hunt de Beacon Hill, muito obrigado por sua oferta, mas temo ter que declinar — suspirou Christopher soltando a mão da loira, enjoado, incapaz de reprimir o sarcasmo, e olhando significativamente em direção a Dulce.

— Lástima! — contestou a loira olhando brevemente a Dulce e valorizando-a, provavelmente, por sua aparência —. Aqui tem meu cartão, se mudar de opinião — acrescentou inclinando-se sobre Christopher e guardando o cartão no bolso superior da jaqueta, enquanto oferecia-lhe uma tentadora vista de seu decote —. Adeus.

Dulce tossiu, reprimindo uma gargalhada. Christopher olhou-a com o cenho franzido. Não ia sair com aquela loira, mas também não era de pedra.

— Não digas nem uma palavra. Nem... uma... palavra...! — repetiu Christopher entredentes, calando quando o garçom se aproximou com os pratos.

— Bom, tendo em conta que me utilizou como desculpa para se desfazer dessa pobre garota...

— Sim, foi muito útil. A caminho daqui, outra mulher fez-me exatamente a mesma coisa. Teria sido muito melhor que viesse comigo.

Ambos começaram a comer. Bom, Christopher a devorar, e ela a beliscar. Duce demorava tanto em comer como alguém qualquer em recitar a Declaração de Independência. Ao terminar, Christopher olhou o prato de Dulce.

— De nenhum modo, querido — adiantou-se ela, o tampando.

— Tinha que tentar — respondeu Christopher.

Dulce mordia o lábio inferior, parecia inquieta. Algo a preocupava, suspeitou Christopher. Tinham crescido juntos em Charlestown, ao norte de Boston, no centro do distrito irlandês.

O pai de Christopher tinha sido pedreiro, enquanto Dulce vivia com seus avôs e sua mãe, que toda a vida tinha sido uma polivalente. Dulce tinha dois anos menos que Christopher. Para ele, ela tinha sido seu primeiro amor. Bom, na realidade só tinha sido um capricho, ainda que tivesse durado muito tempo. Ademais, ela jamais lhe tinha correspondido. Nem sequer sabia. Que Christopher soubesse, Dulce jamais tinha descoberto o que ele tinha sentido quando adolescente. E provavelmente fosse o melhor, porque Christopher apreciava muito sua amizade.

Um filho teu (Adaptação) Vondy Where stories live. Discover now