Capítulo 59

128 12 39
                                    

POV: Catarina

  – Eu não sou mais a sua filha!

  – Catarina, por favor, temos um acordo e você não é mais uma menina para fazer birra.

  – Temos um acordo completamente ridículo, tão ridículo quanto seus planos políticos, não consigo imaginar quem em sã consciência pensaria em votar em alguém como o senhor.

  Notei o erro assim que Cosme me encarou pelo espelho retrovisor. Papai não estava apenas vermelho, talvez se estivéssemos em algum enredo, essa seria a hora em que ele certamente perderia a pose de bom conselheiro. Realmente o vejo como um péssimo companheiro.

  Respirei fundo, mas não pude evitar. Esse seria o caminho para o qual meu coração insistiria em voltar. Fechei os olhos quando o verde ficou insuportável de olhar, não haveria cachos e muito menos os olhos castanhos para me acalmar.

  Mas além disso, em quê mais eu poderia pensar? No quanto odeio meu pai?

  – O que vai fazer, me evitar?

  – Sinceramente? – sorri – Não tenho forças sequer para te ouvir.

  – Você fez as suas escolhas, Catarina. Tentei te alertar de que não era assim que acabaria.

  – O senhor não entendeu que eu não quero ouvi-lo falar? Nada justifica, Dr. Batista, nada, nunca nem sequer chegaria perto o suficiente de me machucar tanto quanto ser sua filha.

  É, acho que encerramos a suposta briga.

  Eu simplesmente não consigo parar de pensar, de sentir o peso que foi deixá-lo para trás sem ao menos me explicar, sem que ele de alguma forma possa me perdoar.

  E antes que eu pudesse notar, as lágrimas já haviam parado de rolar. Não havia mais forças para chorar, para lamentar ou questionar. Se foi e se esses dias foram os poucos dias dos quais poderei me lembrar, não me nego o prazer imenso que foi poder amar. Embora sinta agora o buraco do qual sempre quis evitar.

  Não é o amor que machuca, não, não, muito pelo contrário, são as pessoas, as pessoas que mais amamos são as que mais nos ferem. Nunca pensei que essa frase pudesse ser usada agora, ainda mais com relação ao meu pai, a pessoa que deveria me proteger, a única que tinha o real poder de o fazer...

  Mas ainda assim...

  Acredito que uma parte de mim morreu aqui.

  Se foi com as paisagens gentis, com os sorrisos que ele sempre fez questão de esboçar para mim.

  Quando Cosme abriu a porta do carro, demorei um minuto para entender que havíamos chegado. Eu não queria estar aqui. Não vi como o tempo passou e como tão rápido me aniquilou.

  – Sinto muito, Dona Catarina – sussurrou.

  Desci do carro lentamente, era como se minhas pernas não fossem suficientes.

  – Deixarei a lista em seu quarto – disse antes de bater a porta do carro.

...

POV: Petruchio

  Eu esperei até não enxergar mais a traseira do carro. Ela se foi e tudo em mim foi silenciado. No fundo, eu sei que há algo.

  Não foi um adeus calmo. Eu sei que ela me esconde algo, o que será que tinha naquele papel capaz de fazê-la mudar de ideia e entrar no carro? Por que ele nunca joga de forma clara? Por que é sempre desaforado?

Entre o Amor e a Desilusão Where stories live. Discover now