Capítulo 55

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POV: Petruchio

  O caminho até a casa de Catarina nunca foi tão longo, meu corpo estava tenso e o carro já não parecia mais andar, tinha a sensação de que se fosse correndo, chegaria mais rápido e talvez a tempo de ainda conseguir lhe acalmar.

  Quando Cosme enfim conseguiu estacionar, saltei do carro e sem fechar a porta, disparei portão adentro. Do lado de fora os gritos eram ouvidos e temidos, eu sentia muito medo pelo meu favinho.

  Assim que entrei na sala, avistei Bianca chorando num canto, estava apavorada, os gritos eram ainda mais altos do lado de dentro da casa.

  - Onde ela está? - perguntei, pois não consegui identificar.

  - Na cozinha, nem a Mimosa conseguiu entrar, eu não sei o que está acontecendo lá, eles chegaram e apenas começaram a gritar, acho que já não existe nenhuma louça que a Catarina ainda possa quebrar.

  Respirei fundo antes de voltar a caminhar, empurrei a porta dupla da cozinha e a bagunça do lado de dentro me fez parar, congelar, me deixou sem fala, sem ação e praticamente sem alma. 

  - É impossível te explicar, é impossível fazer com que o senhor entenda - Catarina dizia - Sempre, sempre, papai - nas mãos, segurava uma das taças com tanta força que temi que se quebrasse em suas mãos. Não sei se aguentaria essa visão.

  - Catarina, por favor, me deixe explicar, vamos conversar.

  - Não tem conversa, o senhor não vê? Até parece que não me conhece - riu sem vontade, e o som me machucou de verdade - Desde sempre tento chamar sua atenção, tento fazer com que me veja, com que cuide de nós como todo pai normal faria, todas as brigas, todos os pratos, os vasos, os gritos, todos eles tentavam traduzir tudo aquilo que eu sentia e você não via, nunca pareceu enxergar. A cada grito, a cada vaso e afronta possível, tudo era apenas um aviso, um pedido de que não estava tudo bem, não me fazia bem, tudo o que o senhor sempre fez, tudo o que me feria e me destruía também. O senhor não ama ninguém.

...

POV: Catarina

  Pensei que dizer todas aquelas palavras aliviaria o meu coração, mas eu ainda sentia aquela dor, aquela mesma devastação.

  As lágrimas ainda quentes escorriam e se eu olhasse para baixo, podia vê-las pingando no chão. Minha garganta queimava pelas palavras ainda machucadas e presas em meu coração. Suspirei e gritei, porque era como se o mundo queimasse muito além de minha visão. A taça se quebrou, mas não senti o corte que fez em minha mão.

  Eu não havia notado sua presença até que se aproximou, retirou os cacos de minha mão e os jogou no chão - onde havia ainda mais confusão. Não conseguia encarar os seus olhos e também não precisava dessa visão para saber que exalavam mais do que preocupação. 

  Me joguei em seus braços sem me importar com a dor que eu agora sentia arder em minha mão.

  O abraço forte e quente, vivo e eloquente, apagava, sussurrava e era mais do que eu precisava. Minhas pernas vacilaram e os seus braços me ampararam, evitando que eu caísse no chão.

  - Calma, eu estou aqui, favinho - seus dedos seguravam muito mais do que apenas pressão, mas algo como tensão, explosão, a própria devastação.

  - Me tira daqui, me tira daqui, por favor - pedi.

...

POV: Petruchio

Entre o Amor e a Desilusão Where stories live. Discover now