A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)

Capítulo 5

Apesar de tentar ser como Leyla, sabia que não conseguiria. Não sabia ser uma completa idiota com todo mundo. E aparentemente, era assim que ela agia. Já tinha desistido da ideia de incorporar um personagem há muito tempo, e agora, tentava passar a ideia de que "Leyla Scarlett havia mudado". Parecia estar dando certo, afinal.

— Alice, eu estava te procurando. — Escutou a voz de Carla, e viu a mulher parada na entrada do corredor. — Amanhã você irá levar as pestes até Nierfand, para comprar os materiais escolares.

— E-eu? Mas é Rosa quem sempre faz isso.

— Sim, mas ela vai estar de folga. Irei te dar o meu cartão, amanhã, e quero a nota fiscal de tudo que você comprar.

— Cla-claro.

Os olhos azuis sem emoções de Carla se demoraram em Camila por um momento, antes de ela se virar e seguir pelo corredor. Se lembrou da primeira vez que fora em Nierfand. Conhecera Heliberto lá, e já fazia quase um ano. Havia se passado bastante tempo desde sua chegada àquele lugar.

Uma ideia se passou por sua cabeça. Queria aproveitar sua ida à cidade, e passaria para ver Juliana, já que não a via desde o Natal. Pegou seu celular e resolveu mandar mensagem para Heliberto, avisando-lhe de seu plano. Talvez ele, Ximú e Godofredo pudessem ir também.

"Irei em Nierfand amanhã. Que tal nos encontrarmos todos lá? Já tem meses que não vemos Juliana, poderíamos vê-la. Irei passar o horário a você, amanhã."

Suspirou. Mais um ano na I.E.T, e pelo visto, iria continuar naquele lugar, fingindo ser alguém que não era, até quando a O.P.U decidisse pôr um fim nela. Sabia que, sendo Leyla Scarlett, com certeza já sabiam sua localização. Não pôde deixar de sentir uma pontada de tristeza com o pensamento. Eles mataram Henry, e não demoraria muito para chegarem até ela e aos outros Viajantes. Esperava que pudessem pensar em alguma coisa até esse dia chegar.

☿ ☿ ☿

— Vamos, rápido. Bartolomeu já está nos esperando. — Alice disse enquanto descia apressadamente a escadaria. Ela não estava usando seu habitual uniforme, e sim calças jeans e uma camiseta. O que foi bem estranho aos olhos de Camila, pois nunca a vira com outra roupa.

— Vamos com Bartolomeu? — Camila perguntou, surpresa. — Pensei que veríamos ele apenas na semana que vem.

— Ele sempre leva a gente para Nierfand, uma semana antes das aulas. — Jean revirou os olhos. — Ou será que a suposta tentativa de assassinato do nosso pai contra você fez você perder a memória? — Ele falou ironicamente.

Ficou calada e apenas caminhou para fora da mansão. As provocações de Jean já lhe eram comuns desde a morte de Daniel, e apenas ignorar era algo que sempre fazia.

Ao chegar no jardim, viu Bartolomeu encostado no carro vermelho, que até então não estava sendo usado por ninguém. O motorista fez uma careta quando seu olhar se pousou em Camila e nas crianças, que caminhavam em sua direção.

— Vejam só. As pessoas que amo tanto e que eu estava morrendo de saudade. — Ele disse ironicamente.

— Sério? — Maria abriu um sorriso.

— Não. Eu odeio vocês. — Ele retribuiu com um sorriso de escárnio para a menina, que fechou a cara.

Camila percebeu o olhar apreensivo que Alice lançava para uma bolsa tiracolo que usava.

— Está tudo bem, Alice?

— Sim, sim. Só estou com medo de perder o cartão da sua mãe. Ela com certeza me demitiria por conta disso.