Convite Inesperado

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Luzia falava alguma coisa que eu não conseguia entender, eu estava mais distante do que qualquer outro dia, só bastou Charlton falar no nome daquele homem, que já me afetou.

Eu estava tão bem, e veio ele me incomodar, é por isso que não quero ninguém aqui em casa. Me dá vontade de sumir dessa, desde que cheguei aqui minha vida desceu morro abaixo.

Certo que no orfanato não era esse mar de rosas não, porém, essa casa só me trouxe desgraça. Acredito que deve haver algum tipo de maldição aqui, se eu pudesse, iria embora.

Mas nem isso eu tô podendo me dar o luxo, me separei de vez de Edwin, mas do mesmo jeito, a casa continua sendo abastecida e os funcionários bem pagos como sempre por ele.

Mas eu não quero essa vida pra mim, tenho que encontrar um jeito de parar tudo isso.

E o que vai ser de mim?

Os dias nessa casa estão se tornando sufocantes, tudo que eu faço já entrou no costume. Se estivesse com Edwin ainda, talvez tudo agora fosse diferente.

Porém, eu decidi agir pela razão, pelo certo a se fazer. Ele foi injusto comigo, será que não percebia que estava cometendo o mesmo erro de que tanto me disse que se arrependeu?

Ele iria abandonar uma criança ao vendaval, pela própria sorte. Certo que recém nascidos tem uma grande capacidade em ser adotado rapidamente, porém, quantas vezes eu não já fui passar alguns dias com umas pessoas que não eram o que demonstravam ser.

Srta. Rebecca!-Luzia me chama mais rígida e eu a olho surpresa- O Sr. Baumann está aí, e deseja falar com a senhorita.

Qual Sheldon?- Me levantei com as mãos na mesa, sentindo do meu peito surgir uma esperança- O Edwin?!

Não, o Charlton- Começou a recolher algumas coisas na mesa- Posso retirar a mesa?- Disse sem se importar.

Sai dali sem responder, um tanto pensativa, após dois dias de sua vinda aqui. Edwin realmente amava muito seu filho, pra deixar ele fazer suas vontades em vir me ver, mas quando eu cheguei na porta já aberta pelo mordomo, percebi que ele estava sozinho.

Oi...- Sorri sem jeito olhando de um lado ao outro- Bom dia- Ele assentiu, e prosseguiu me olhando- Onde estão os meninos? Já entraram?- Olhei para dentro de casa novamente.

Não, não- Colocou as mãos no bolso- Dessa vez eu vim sozinho, será que podemos conversar um pouco, aqui fora?

[...]

Eu lembro desse jardim, gostava de ficar aqui- Estava de costas para mim, analisando tudo com as mãos no bolso- Otávio e Boaz também.

Otávio?- Me perguntei por um momento, mas lembrei que era o nome de um dos irmãos gêmeos- Eu ainda não lembro de tudo, apenas uns detalhes.

Rhum, é normal- Falou- A vida é uma lousa, em que o destino, para ser escrito, precisa de espaço e folhas em branco. É preciso apagar o caso escrito para recomeçar.

Incrível...- Sussurrei.

Eu já havia pensado nisso, parecia que Charlton vivia em um mundo completamente diferente dos seus irmãos, mesmo sendo todos uma grande gangue de ladrões.

E um ladrão, em específico, que deixou no meu peito, esse vazio enorme.

Você por acaso, escreve?- Perguntei vendo que havia sentido- As vezes, falastes coisas que chegam a ser profundas... não sei se estou sendo uma tola em perguntar uma coisa dessas...

Por que tola?- Se virou- Por mais que Edwin seja um assassino, ele tem sentimentos, e você pode provar isso?- Chegou mais perto- Por que eu, teria que ser o mais temido, por ser o mais velho?

Não sei...- Ergui minha cabeça para ele- Me responda você, por que o Edwin é o líder, e não você?

Por que ele não teve escolha- Ata, me poupe!

E ser líder de uma gangue é uma opção nesse mundo tão vasto e cheio oportunidades?- Falei um tanto mais rápido que o de costume- Ele escolheu ser assim por que quis...

Não foi por que quis- Fez eu me calar- Quando já se está envolvido uma vez, então está envolvido para sempre, e quando digo isso, não estou falando só de Edwin- Ergueu sua mão, um pouco indeciso- Eu não sei o que houve, mas desde o dia que te vi, não te tirei mais da minha cabeça.

Isso é impossível- Falei baixo olhando em seus olhos.

Não, não é impossível, é raro, mas não impossível- Elevou a mão até meu rosto- Você é linda, e doce, inteligente. Não é igual a essas outras que estão perto de nós por dinheiro e medo, você não tem medo...

Mas eu não gosto que me toquem assim- Me virei de lado, encarando a água da fonte.

De novo não, tinha prometido a mim mesma de que não iria cair nesse papinho bobo, mas parecia que ele estava mentindo tão bem, que via refletir em seus olhos tamanha verdade.

Tá bom, me desculpe, realmente me precipitei- Deu alguns passos para trás- Não quero que você tenha uma má impressão minha, não vim aqui pra fazer isso.

O que veio fazer então?- Virei um pouco minha cabeça para o lado, o olhando de canto de olho.

Queria te pedir, para me acompanhar em uma festa, um baile- Se ele soubesse o trauma que tenho disso.

Festa de quê? - Me virei para ele.

Um encontro de pessoas importantes, elegeram um novo governador, e temos que comparecer lá, não queria ir sozinho- Suspirou fundo e virou as costas.

Pra que?- Perguntei desconfiada- Por que um governador...

Vai querer uma gangue de assassinos na sua festa de apresentação?- Ele terminou a frase, e recostou em uma mesinha que havia ali, me olhando- Porquê temos essa cidade nas nossas mãos, mesmo que mude de prefeito, senador, governador, que se danem, é nossa e pronto!- Disse rígido negando com a cabeça, acho que passei do ponto, ser assassino não é lá a melhor profissão para se ter orgulho e ser lembrado o tempo todo.

Me desculpe...- Fui interrompida novamente.

Não, me desculpe você- Se afastou da mesa- Eu sei que você não gosta de nenhum dos Baumanns, nem acredita que eu possa ser diferente. Desculpe-me Rebecca, eu entendo você não querer ir...

Mas na verdade eu quero, eu quero sair um pouco de casa- Ele parou de falar, e eu me aproximei dele- É só que... toda vez que um aparece, algo de ruim acontece na minha vida- Suspirei abaixando meu semblante- Não dizendo que irá acontecer a mesma coisa, mas só que, o Mozart me levou para um baile, uma vez, e não gostei do propósito real disso.

Eu entendo, mas posso te prometer, que não vai acontecer nada de ruim lá- Sorriu tentando me convencer- Vamos, vai ser amanhã, descontrair Rebecca, a noite posso passar pra te buscar?

Tá bom Charlton, eu vou confiar em você- Falei, mesmo que talvez, para ele, isso não valha de nada- Vou ir contigo.

Tomara que eu não esteja fazendo a coisa errada.

CONCUBINAOnde histórias criam vida. Descubra agora