Hipocrisia

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Rebecca espera- Mozart me chamava enquanto eu descia as escadas- Rebecca.

Rebecca ou Melissa?!- Me virei bruscamente para ele sem entender- Agora eu entendi, agora eu entendi, você armou tudo isso.

Pra te mostrar que o Edwin não te merece, fala baixo!- Sussurrou e veio para perto de mim.

E quem me merece Mozart, quem, você?- Perguntei rígida novamente- Você acabou de provar que é pior que ele, você só quer meu mal.

_começou a chover forte, todas aquelas nuvens carregadas no céu fizeram efeito no pior momento da minha vida.

Você por acaso pensou em como eu me sentiria quando eu descobrisse isso?- Passei a mão pelos meus cabelos que começaram a deslizar pelo meu rosto- Mozart, você realmente pensa em alguém além de você?

Ele se calou, e com a voz do seu silêncio eu dei as costas, não conseguia acreditar ainda no que eu tinha acabado de ouvir, as lágrimas quentes se misturavam com as gotas frias da chuva em meu rosto.

O Edwin estava me enganando esse tempo todo, eu não podia acreditar. Ele esta noivo, ele tem filho, ele é um baita de um mentiroso.

Toda a confiança que eu despejei nele estava se esvaindo junto com essa chuva, como eu pude ser tão boba. As vezes que ele não ficava comigo, era porque estava com a família dele.

O pior é que eles também não tem culpa, mas eu também não tenho. Fui tão enganada quanto eles, como ele pode fazer isso comigo, eu não merecia essa mentira.

Eu não queria chorar por isso, mas a dor que eu estava sentindo era tão forte que me faria suplicar para continuar sendo enganada, só para eu não saber a dor de ser traída.

Segurei em um portão de uma casa desconhecida, encostei minha cabeça no ferro e deixei as lágrimas descerem junto com os respingos da chuva.

Como pode...?- Perguntei como se estivesse falando com ele- Como pode me enganar desse jeito, eu me prontifiquei a ficar do teu lado para sempre, se fosse preciso.

A dor estava subindo a minha garganta, eu tinha que ter armado o barraco, ter acabado com essa farça de uma vez por todas, mas não, eu fui fraca, eu sempre fui fraca.

Uma idiota, uma fraca...- Resmungava- Burra, burra!- Bati fortemente a cabeça no ferro duas vezes.

Meu pai do céu...- Ouvi uma mulher sussurrar e ignorei.

Me afastei da casa, eu não sabia pra onde ir, nem onde estava, mas eu tinha que arrumar um local para me esconder, e esconder essa vergonha que estou sentindo nesse momento.

_atravessei a rua, e em meio de caminho, senti que a chuva havia parado, mas quando olhei para frente, prosseguia chovendo, olhei para cima e havia uma tela preta me cobrindo, me virei, e dei de cara com um rapaz.

Moça, esta tudo bem?- Me perguntou de uma maneira doce.

Claro que não, se ela estivesse saudavelmente bem da sanidade mental, nunca que sairia nessa chuva, ou bateria a cabeça com força em um ferro...- O outro foi interrompido bruscamente.

Tá bom, cala a boca!- Exigiu brincalhão- Por favor, me diga onde moras, iremos acompanhá-la até lá.

Que casa?- Apertei os olhos e voltei a chorar tampando o rosto- Eu não sei para onde estava indo, e nem onde estou...

Está perdida...- Sussurrou.

É, mas se você continuar nessa chuva, vai pegar um resfriado, e o que tudo indica, só tende a piorar, vai ter uma ventania fria enorme vindo pela frente, você pode pegar uma gripe, hipotérmia, pneumonia, e isso tudo pode te levar a morte...- É interrompido novamente.

Por favor, mantenha sua boca fechada!- Chutou um pouco de água nele- Nojento. Senhorita, vamos entrar um pouco na nossa casa, minha mãe tá lá, ela pode te dar uma roupa, algo quente pra beber, você está congelando, assim ficará doente.

Pode confiar na gente senhorita, só queremos o seu bem- Olhei para o outro lado vendo o outro rapaz.

A última pessoa que me falou isso, me apunhalou fortemente pelas minhas costas- Respondi com o queixo tremendo.

Entendemos, a gente conhece bem essa dor- O que chegou perto de mim primeiro, voltou a falar.

[...]

Com um pouco de insistência, e eu sem ter para onde ir, aceitei entrar na casa onde estava batendo com a cabeça no portão a momentos atrás, chegamos na porta onde uma mulher veio falar comigo.

Minha filha, como você tá roxa!- Ela disse assustada- Vem, vamos tirar essa roupa, um banho quente, antes que você resfrie!

Fui puxada por ela a força, andamos por um corredor estreito até chegarmos em um banheiro, tirei aquela roupa com a ajuda dela, esperei alguns momentos ela vir com uma água bem morna na banheira.

Depois que saí do banho, ela me entregou, calças?  Sim, ela me deu calça, blusa, outra blusa de croche por cima, meias, e um coberto, acreditando ela que eu estava com febre.

_me pediu para que eu me encolhe-se no sofá para conseguir me esquentar mais, o fiz, me sentei e me enrolei todinha, no final de tudo, ainda estava com frio.

_ela saiu da sala e me deixou ali sozinha. Pensando ainda no que estava acontecendo, olhei pela janela, e pude ver alguns carros passarem, com certeza a festa já havia acabado.

Ei... garota- Me virei e encarei o rapaz se sentando na poltrona a minha frente- Está melhor agora?

Você realmente acha que isso poderia tirar a dor do peito dela?- O outro que só sabia falar respondeu.

Se eu fosse você, continuava com essa boca fechada- Ergueu um dedo em ordem.

Ou se não, o que?- Perguntou franzindo o cenho.

Vocês parem de gracinhas, nem com visitas vocês sabem se portar?- A mulher perguntou e me deu uma caneca com um pano enrolado- Tá quentinho minha querida, pode tomar, isso vai fazer seu frio passar.

Obrigada...- Respondi baixo.

_mas ela escutou, assentiu com a cabeça e se sentou ao lado do garoto tagarela, que abaixou sua guarda assim que sua mãe se sentou entre ele e o seu possível irmão.

E então, você não sabe da onde veio?- Ela perguntou com um sorriso gentil no rosto.

Não...- Neguei com a cabeça.

E...- Ela entreolhou seus filhos antes de falar novamente- Sabe, num precisa ficar nervosa, aqui somos família...- Comecei a sentir um sotaque diferente vindo dela- Esses são meus filhos, é...é..., esse daqui do meu lado é o Theo, o falastrão da casa, parece um papagaio, num para de falar- Eles sorriram, mas não consegui sorrir- E esse de cá é o Thomas, o cabeça dura, é... eles é "gêmeo".

Legal...- Assenti com a cabeça percebendo só agora.

_acredito não ter percebido direito antes, por que o Theo mantinha seus cabelos ondulados acima da orelha, enquanto o outro tinha seu corte com um topetizinho.

E eu sou Mirna, e o seu nom...- Ela é interrompida por um grito alto.

Rebecca!- Eu reconheci, era a voz de Mozart.

Rebecca!- Outra voz soou, não sabia de quem era- Aparece Rebecca!

_voltamos a nos olhar e eles me encaravam estranho.

Me deixa adivinhar, seu nome é Rebecca?- Thomas sorriu se sentindo vitorioso pela descoberta.

É melhor eles não ficarem sabendo que sou essa Rebecca, se não vão me entregar para eles. Pensa Rebecca, pensa!

Não...- Respondi e tomei mais um gole do chá, me preparando para a mentira- Meu nome é Melissa, Melissa Sant'Ana.

CONCUBINAWhere stories live. Discover now