Embarque Para Flowood

27 3 0
                                    

Passei a noite inteira ali, mas quando amanheceu, percebi que era hora de tomar uma atitude, ou se não, iria passar o resto dos meus dias nesse sofrimento que um dia ia me matar.

Fui até um penhor e vendi uma grande quantidade de joias, não iria fazer muita falta no meio de muitas ali. Voltei para casa e Luzia logo veio me veio preocupada.

A senhorita demorou muito, posso saber pra onde foi sozinha?- Perguntou enquanto me seguia.

Não pode, deve saber- Me virei para ela- Você tem algum parente fora dessa cidade?

Eu tenho meus pais, bem velhinhos, que moram lá em Jackson- Me olhou ainda mais curiosa.

Então você vai para lá...- Disse decidida no que iria fazer- Por que eu, vou embora.

Mas...mas...- Gaguejou espontaneamente.

Se você não quer ir, o problema é seu!- Falei rígida, ela não sabia o quanto me doía tomar aquela decisão.

Comecei a tirar aquela roupa que não me pertencia. Eu pretendo ir para uma cidade diferente, longe.

Entrei no closet e cacei todas as roupas que eu tinha do orfanato, como não sou burra nem idiota, não coloquei todo aquele dinheiro na mala, uma parte ia em uma bolsa escondida na minha saia.

Respirei fundo quando senti a trava da minha mala ser encaixada, finalmente tinha chegado o dia de todo aquele sofrimento acabar, a peguei do chão, e com a mesma roupa que eu vim, decidia ir embora.

Sai do quarto, e sem querer perder tempo fui direto em direção as escadas, e quando cheguei, logo pude ver a porta de casa sendo aberta, mas não era para mim, ainda estava distante.

Rebecca, é com você mesmo que eu quero falar...- Amélia se aproximou, estava com um semblante caído, terminei de descer as escadas, e pôs a mala no chão, sem entender. Ela estava diferente, muito bem vestida, mas não parecia ser a madame de antes- Eu só queria te falar para tomar cuidado.

Com o quê exatamente?- Franzi o cenho para ela- Com os Baumanns, principalmente com o Mozart. Ele não é da família, mas é o mais perigoso.

Disso eu sei- Assenti com a cabeça- Mas porquê está me falando isso?

Por que eu percebi que na vida de Edwin não à espaço para mim- Negou com a cabeça, triste pela sua conclusão- Quando eu disse que não queria acabar como Rosalía, era porque eu realmente não quero.

E o que aconteceu com a Rosalía? Edwin a matou pra conseguir ficar você?- Perguntei em dúvida, era bem capaz dele ter feito isso, não ficaria impressionado.

Não, ela se suicidou quando percebeu assim como eu, que Edwin sempre amou e vai amar outra pessoa...- Fiquei boque-aberta com aquela descoberta- Você.

Por... por que eu acreditaria nessa história tão absurda?- Neguei com a cabeça, tentando entender- Olha, quer saber. Eu não tenho mais nada haver com Edwin, eu tô indo embora, deixando para trás tudo que ele sempre realmente amou. A herança patrimonial dos Sant'Anas.

Você se engana. Sabe a verdade mas se engana- Disse revoltada, e suspirou fundo- Edwin vai matar, tirar, humilhar, sacrificar, torturar e diversas outras coisas pra poder te ter por perto. Pode ir embora, mas ele vai te achar uma hora ou outra. Essa vida nunca vai ser de você. Uma vez que está envolvido, sempre estará envolvido.

Eu só preciso respirar Amélia, e eu espero que você colabore- Passei por ela após pegar minha mala do chão, e quando cheguei na porta, olhei para trás por uma última vez, observando aquela casa.

Naquela casa, naquele salão vi Boaz e Otávio darem seus primeiros passos, na ilha daquela cozinha "ajudavamos" América a fazer biscoitos, naquelas escadas eu chorava e implorava para Edwin me pegar no colo, por eu estar assustada, e com medo.

Descemos aquelas escadas juntos, ele segurou meu rosto para que eu não olha-se para o lado, sem saber que eu vi, e agora que me lembrei, a cena dos meus pais mortos juntos estariam em minha cabeça para sempre. Dei as costas novamente, pronta para ir embora.

Espera- Ela me fez parar, porém, não olhei para trás- Tem mais uma coisa que você precisa saber antes de ir embora- Esperei quase impaciente- O Mozart...- Revirei os olhos- O Mozart é um dos teus irmãos.

Minha feição de brava saiu do meu rosto na mesma da hora, mas eu não estava contente em ouvir aquilo, pois, o Mozart em si, eu odiava com todas as minhas forças.

Eu não sei qual dos dois, mas ele é- Confirmou me passando certeza.

Porém, não é tão ruim saber que um deles sobreviveu. Mas se tornou algo ruim graças a família que o criou.

Neguei com a cabeça, e sai daquela casa. Nem indo embora eu tenho paz, não é possível que eu ainda vou ter mais uma coisa pra colocar na cabeça. Sai e pedi para o chofer me levar até a estação de trem mais próxima.

Infelizmente tive que deixar tudo o que eu era para trás, e entrei em um trem que me levaria para bem longe, para Flowood.

E de lá, só Deus sabe....

[...]

Depois de muitas horas de viagem, com os meus olhos perdidos sobre as estradas, comecei a ver mudanças, do clima, da natureza, do tempo, literalmente de tudo.

Depois daquele sol caloroso de Nova Orleans, pude ver aquela terra seca de Jackson, onde obviamente, o trem não parou, já que havia outro trem que pararia lá.

Passou-se mais e mais léguas de estradas, onde o céu foi ficando cada vez mais escuro, mas não por estar de noite, e sim pelo tempo que era mais frio em Flowood, o frio que começou a fazer depois de um tempo, tive que me agasalhar.

As gramas foram perdendo seu verde natural, dando a cor branca da neve, ou até mesmo poderia dizer, a cor cinza, já que a noite estava chegando, e o escuro foi tomando conta de tudo.

Depois de muito tempo, o trem finalmente parou na estação, desci segurando minha mala como muitos outros, depois de conseguir atravessar aquela multidão, vi a recepção, e cheguei perto para pegar um folheto.

Eles me mostraram vários hotéis e seus endereços. Eu poderia me manter em um hotel por uns um ano, mas eu queria era me ocupar com algo, trabalhar, coisa do tipo.

Aliás, o dinheiro não duraria para sempre, encontrei o hotel ideal para me hospedar, e sai da estação de trem em busca de um taxi, achei sem demora.

[...]

Quando entrei no hotel, achei até que a diária era barata demais para ser verdade, não era um hotel de luxo, porém, era bem sofisticado para o meu gosto.

Me lembrei de quando viajava com os meus pais, este hotel que ficaria não chegava aos pés de um que eles simplesmente pagavam para satisfazer meus desejos de ficar em um lugar com uma bela vista ou piscina.

Boa noite senhora, como posso ajudar?- Falou a recepcionista com um sorriso simpático.

Reserva pra um- Me aproximei mais e peguei alguns documentos e dinheiro da bolsa- Com serviço de quarto, por favor.

Claro, documentos- Estendeu as mãos e eu a entreguei- Malena Fonseca?

Isso- Sorri para disfarçar, fiz documentos falsos também, já que era pra me esconder, que eu me esconda direito.

Eu sei muito bem, que Edwin vai tentar me encontrar.

Pretende ficar quanto tempo?- Perguntou colocando os documentos na banca.

Eu vim a trabalho, não sei se irão querer que eu fique aqui, ou que eu só faço o que tenho que fazer e volte- Respondi e peguei os documentos.

Indeterminado- Assenti com a cabeça- Pagamento adiantado senhora Malena- A entreguei- Muito obrigada, tenha uma ótima estadia- Me entregou a chave com o número do quarto.

Assenti novamente com a cabeça e peguei as minhas coisas para ir pro quarto, não via a hora de tirar esse chapéu, toda essa roupa, esse frio terrível, aí, não estava preparada pra isso.

Achei o quarto 28 e entrei trancando a porta logo após, por garantia, empurrei um pouco da cômoda para frente da porta, vou tomar um banho, daqui a pouco vem o serviço de quarto, e eu estou morrendo de fome.

Como é que meu coração tá pros últimos capítulos?

💔

CONCUBINAWo Geschichten leben. Entdecke jetzt