A orfã

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Nova Orleans...1955

Eu nunca achei que um dia eu seria adotada, principalmente perto de fazer vinte anos, quem iria querer a experiência de viver com alguém que já cresceu, que já foi educada e recebeu tudo que poderia ser necessário?

Me sinto um pouco chateada, aquele tanto de crianças para serem adotadas, e escolheram logo eu, eu não quero que elas cresçam igual a mim, sem uma mãe, sem um pai, sem alguém que possa amá-los da mesma intensidade que eles querem amar quem os adote.

Eu sei oque você está pensando- Riley fala ao pararmos na frente das extensas grades negras, que nos impedem de nós aproximar mais há casa simples logo a frente- Que você foi prometida a alguém igual seus livros bobos- Ri debochando.

Eu não estou pensando nisso, eu estou pensando que outras crianças poderiam ter tido essa oportunidade em meu lugar- Nego com a cabeça e volto a olhar a casa a frente- É um pouco injusto.

E misterioso também- Se vira para mim e me olha nos olhos com um certo rancor- Eu me lembro...

Do quê?- Me viro para ela, segurando com mais força a alça da minha mala.

De quando apostamos quem iria ser adotada primeiro- Suspira fundo e dá uma passo para trás- Boa sorte...

Atravessou a rua e fui em direção ao orfanato a duas quadras daqui, ela nem ao menos olhou para trás, me deu um abraço ou se despediu direito. Foi uma das poucas que falava comigo, sempre me defendeu quando alguém ficava me irritando.

E agora, ela não quer olhar nem mais na minha cara, só por causa de uma aposta boba que eu já tinha esquecido, mas eu sei que ela vai deixar de lado em breve, irá vir até essa casa me fazer companhia de vez em quando.

Olho de um lado para o outro tentando encontrar algo para conseguir chamar atenção de quem está na casa e me tirarem dessa rua quase escura graças a noite que está prestes a chegar, acho um botão que poderia ser da campainha, o toco, com exceção.

Meu coração estava tão acelerado quanto o sino que ouvi bandular dentro da casa, eu fui adotada, é quase inacreditável isso, eu já tinha desacreditado por mais que eu nem me importar-se se iria ser adotada algum dia ou não.

Quem está aí?- Uma mulher morena, com aparência de uns trinta e cinco anos, põe somente sua cabeça para fora da casa.

He... é... eu sou Rebecca- Falo alto para ela conseguir entender, já que a casa era um tanto distante.

Rebecca do quê?- Insistiu quase me fazendo recuar- Aí meu Deus, Rebecca- Disse em um tom surpreso- Rebecca, eu já estou indo...- Sua voz foi ficando distante enquanto ela se aprofundava na casa em busca de algo.

O que houve?

Aquela mulher mudou seu tom de imediato, até parecendo que me conhecia, será que ela está me confundindo, ou será que eu e Riley viemos parar na rua errada?

Ah, como eu estava ansiosa pela sua chegada- Veio quase em saltos até o portão procurando a chave certa com um sorriso- Rebecca...

Que bom, que estava me esperando- Olhei desconfiada para ela, mas deduzi que talvez fosse coisa da minha imaginação.

Venha, venha!- Pegou minha mão e me puxou para dentro rapidamente, de uma maneira até estranha- Temos que entrar, venha.

Começou a andar depressa me arrastando, como se quisesse fugir de algo, entramos na pequena casa rapidamente e ela logo fez questão de tranca-las em seguida.

Algo de errado senhora?- Perguntei a olhando fechar a porta com uma certa pressa.

Não, nenhuma Srta. Rebecca- Se virou para mim com um sorriso enorme no rosto- Posso te dar um abraço?

Bom... não vejo mal algum- Pensei em colocar a mala no chão.

Porém, ela veio com uma pressa e me abraçou fortemente, deu pra perceber o quanto ela esperava a minha chegada naquele abraço, mas eu não imaginava que era tanto assim.

Eu estava com uma saudade...- Disse quase em um sussurro.

Saudade?- Perguntei em voz alta ainda mais desconfiada- Saudade de mim?

Não... saudade de abraçar alguém- Se afastou de mim com um sorriso gentil no rosto- O que esperava de uma senhora que passa horas e horas de dias, meses e anos sozinha dentro dessa casa.

Nossa, eu sinto muito- Então ela me adotou para não ficar mais sozinha em casa, é isso?

Não é isso que você está pensando- Tirou o sorriso de seu rosto ligeiramente, como uma passe de mágica- Não fui eu quem a adotei.

E então, oque eu vim fazer aqui?- Neguei com a cabeça e segurei com mais força a alça da mala- Por que me deram esse endereço?

Por que eu vou ficar responsável por você por enquanto...- Pós a mão em seu rosto e pude notar seus olhos encherem de lágrimas.

Senhora, o que está acontecendo?- Perguntei já preocupada, não com ela, e sim comigo, eu não fazia ideia da onde estava e quem me adotou, agora fiquei cheia de dúvidas.

Não é nada- Suspirou fundo- Vamos, deixa eu te mostrar onde você vai dormir- Ela me chamou com a mão e seguimos em frente pela casa.

Como eu havia dito, a casa não era muito grande, porém, o que eu não havia notado, era que nos fundos da casa haviam árvores imensas, que ao atravessá-las, dava de cara com uma grande casa.

Meu queixo caiu de imediato, eu já tava me acostumando com a ideia de morar logo ali, sendo que onde realmente irei ficar é quase uma mansão escondida atrás de grandes árvores.

De quem é essa casa?- Olho ainda deslumbrada.

O casarão era todo branco, com telhas das cores azuis, não havia um jardim colorido, mas sim muitas pedras que davam a visão cinza aos dois chafariz na frente da casa.

Isso ainda não vem a tona, vamos, vamos entrar- Sinalizou novamente com a mão e eu a segui ainda insegura de mim.

A onde estou me metendo...

Subimos as escadas da varanda e logo ela sacou outro molho de chaves de seu avental branco, colocou uma chave dourada em sua fechadura e a abriu me dando uma visão ainda mais deslumbrosa da casa.

CONCUBINAWhere stories live. Discover now