I50I - Liones

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- Não vou tentar impedi-la. - Disse Edmon, com um tom apaziguador. - Mas quero que saiba de uma coisa, o Lukoi não é um Lican comum. Ele ascendeu ao posto matando os Liones que ocupavam as Cidades Lunares.

- Raymond acreditava que eu podia mata-lo. - Repliquei. O sangue derramado será cobrado.

- E pode, os Liones se alimentam do medo que causam. Mas já pensou o que vai acontecer quando enfrentar alguém que não há teme? - Questionou. Impossível. - Parte de atrair Ulrik para o baile era fazer com que você tivesse mais fontes de poder a sua disposição.

Podemos tomar o poder, podemos ter tudo.

- Entendi. Quanto tempo levo para chegar em Serestia?

- Dois dias.

- E partindo da Cidade do Sul? - Perguntei.

- Todas as cidades ficam na mesma distancia para a Capital. - Ele franziu as sobrancelhas. - O que está pensando em fazer?

Sorri, um desejo cruel criando espinhos na flor do meu coração.

- Alegre-se Edmon você vai ganhar uma cidade. - Falei, me deliciando junto com minha caixinha. - Já que eu acabo de recomendar a execução do Mestre da Cidade do Sul.

 Para conquistar todo o medo que preciso.

***

Os portões da Cidade do Sul eram ornamentados com peças de vidro colorido, formando um grande mosaico de folhas e flores na primavera. O ar zunia carregando uma frente fria, agitando os pelos do casaco de pele que eu usava, uma adição roubada do guarda-roupa do antigo Mestre da Cidade do Norte.

- Se quer que eles a temam rapidamente, comece pela aparência. - Edmon havia aconselhado.

Ele aguardava com o restante dos soldados que havíamos trago para a cidade. Um pequeno contingente para obrigar os portões a se abrirem, caso não fôssemos recebidos de bom grado. Eu já havia visto Licans arrogantes o suficiente para saber como agir de forma parecida, não que eu precisasse, afinal tinha meu próprio poder. Soltando as rédeas do cavalo, desci de forma confiante caminhando até os portões selados. Sentinelas usando armaduras de bronze me observavam com expressões indecifráveis atrás de seus elmos.

Talvez eu tivesse exagerado com os soldados...não precisamos deles.

- Exijo ver o Mestre da Cidade do Sul. - Gritei, deixando minha voz permanecer em um tom contido.

- O Mestre da Cidade não ira recebê-la. - Respondeu um dos sentinelas.

- Escória Liones. - Ecoou outro.

Dei um passo em direção aos portões, vendo o desconforto macular a postura dos soldados. Eles temem. Um mensageiro havia sido enviado informando minha chega uma hora atrás, tempo o suficiente para que fechassem os portões, para que espalhassem o que eu era.

- Mais um passo e não hesitaremos.

Flechas foram apontadas para mim, com tremores e agilidade.

- Ah, eu estava esperando que dissesse isso. - Falei, balançando a cabeça, dando o sinal necessário para que os soldados do norte erguessem seus escudos, se protegendo.

Outro passo e uma flecha atingiu minha perna esquerda. Algumas ricochetearam na armadura leve de placas prateadas que eu vestia, outras foram ficadas no chão ao meu redor. Sem olhar, puxei a flecha em minha perna, sangue escarlate pingou de sua ponta enegrecida.

Sangue é o preço.  

Joguei a flecha nos portões, com toda força que pude roubar. O vidro frágil e elegante se despedaçou com uma melodia cacofonica, revelando as finas armações metálicas que os sustentavam. Eles eram apenas um símbolo de poder. Os portões não haviam sido feitos para serem fechados e um Mestre de verdade não se escondia atrás de muros.

Com um movimento de mão ergui meu poder, silencioso e invisível, tomando a força dos sentinelas, um a um, eles caíram. Mais, precisamos de mais.

- O que estão esperando? Avancem! - Ordenei. - Qualquer insubordinação será punida com a morte.

- Escutaram a Mestra Nowak, vamos abrir os portões! - Disse um dos soldados, liderando os demais a forçarem os portões. Sinos badalaram pela cidade, alarmando o povo.

Voltei a subir no cavalo, sentido a expectativa de conseguir mais poder formigar em meus dedos, cobertos por luvas escuras. Mestra Nowak, soa tão bem.

Assim que atravessamos os portões Edmon se aproximou de mim como uma segunda sombra, montado em seu cavalo, cheirando a pinho e terra molhada. Dois dias se embrenhando na floresta a caminho do sul havia lhe concedido o contorno de uma barba por fazer.

- Devagar, Aysha. Deixe que as pessoas a vejam. - Sussurrou.

Uma comitiva de soldados da cidade bloqueou a rua seguinte. Suas armaduras brilhavam com reflexos esverdeados. Um soldado a cavalo partiu em minha direção, brandindo uma espada de punho elaborado.

Entediada olhei para Edmon, enquanto soldados de nossa própria comitiva assumiam a dianteira. As pessoas nas ruas corriam, se escondendo como podiam em lojas e casas abastardas. 

Estendi meu poder, me concentrando nos soldados inimigos, fazendo-os desabarem exauridos de força. A nova onda de poder me inundou tirando meu fôlego. Eu podia quebrar ossos e moer pedras, podia derrubar paredes e arrastar torres, entretanto... Ainda não é o suficiente.

Toquei minha perna, deixando parte do poder fechar o ferimento.

Lukoi, você verá minha ira.

Prosseguimos pelas ruas até chegar na casa do Mestre da Cidade do Sul, um palacete com paredes brancas e pináculos cinzas. Uma gaiola para um covarde. Ou nem tanto, um lado das portas duplas estava aberto, como a proposta de um convite.

Novamente desci do cavalo, sentindo um sorriso cruel se formar em meus lábios, com o poder de outro Mestre Lican eu teria força o suficiente para derrotar o Lukoi, para salvar Raymond, para acabar de uma vez por todas com todos aqueles que me ameaçassem.

Minhas botas não fizeram barulho algum ao entrar no palacete, com um movimento de mão ordenei aos soldados que permanecessem do lado de fora, até a Edmon.

Apenas o escuro e o silêncio preenchiam o lugar.

- Mestre da Cidade do Sul. - Chamei, sem obter qualquer resposta. - Cheguei a imaginar que alguém que tão cordialmente recomenda minha execução não teria coragem de me encarar pessoalmente. É uma decepção estar certa.

Nada. O covarde deveria ter fugido.

Impaciente atravessei o hall de entrada, estendendo meu poder pela casa, buscando qualquer indicio de vida, fosse um servo ou criado. Nenhum sinal, nenhum coração batendo.

- Que tipo de Lican covarde se esconde em sua casa enquanto sua cidade é tomada? - Disparei, abrindo portas grandes de mais para serem chamadas de portas.

Um salão de jantar estava do outro lado, com todas as cadeiras preenchidas. Os convidados de honra eram cadáveres pálidos, todos com a mesma abertura e vazio em seus peitos e órbitas. Mas que infernos...

- Eu diria para perguntar a ele, mas acredito que você tenha chegado tarde de mais. - Respondeu desdenhosa uma voz, emergida na escuridão. O tipo de voz que fazia promessas dolorosas enquanto sorria.

- Acho que não estou falando com o Mestre da Cidade. - Falei, observando as sombras da sala se moverem, cobrindo as janelas, sugando cada ultimo resquício de luz. - E muito menos com um Lican. - Completei.

Seria possível que fosse uma Mímica? um espírito perverso nascido da fome e morte, algo que eu e Raymond havíamos enfrentado na Cidade do Leste há tanto tempo atrás. Não. As sombras estavam se reunindo depressa de mais, como se materializassem algo.

Isso é antigo, é poderoso. Minha caixinha avisou.

Em um piscar de olhos, as sombras tinha desaparecido e um homem esbelto e pálido estava na minha frente, como a morte encarnada.

- Finalmente encontrei você, Sangue de Laldean. - Disse. - Temos uma divida para cobrar.

VermelhoWhere stories live. Discover now