Capítulo quarenta

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Capítulo quarenta: Dia vinte e quatro.

1995 - Julie

— Querida, que saudade! Quem é o rapaz? — Ana aponta para Luke, que acena simpaticamente.

— Meu... namorado. — dou um sorriso amarelo. A velhinha franzi as sobrancelhas, mas não contesta nada.

— Muito prazer, sou Ana. — minha bisavó faz questão de cumprimentá-lo.

— Sou Luke. — ele aperta sua mão de volta.

— E como vão seus pais? — Ana pergunta contente, mudando o foco para mim.

Sinto meu estômago revirar. Revirar de forma que nem eu posso explicar.

Mentiras... Mentiras são formas de sairmos de situações ou algo que nos deixa com medo ou desconfortável para dizer a verdade.

Por que eu menti mesmo? Ah, lembrei. Tinha acabado de chegar a 1995 e mal imaginava que fosse passar todo esse tempo aqui. Se eu tivesse sido esperta de ter falado meia verdade a Ana...

— Ah! Meu pai? — tento corrigi-lá. Luke não esboça nenhuma reação ao meu lado.

Ana fica meio confusa, mas para minha felicidade, novamente não me contesta.

— É, conseguiu encontrá-los?

Luke me olha de lado e vejo o músculo do seu rosto tensionar cada vez mais. Ele sabe que menti. Só não sabe para quem eu menti.

— É, é. Eu... eu... — desvio meu olhar para o chão. Pensa Julie. Pensa. — Não estou falando com ele no momento, Ana.

— O que houve? Brigaram?

— Mais ou menos isso. Quer dizer, eu... Podemos conversar melhor depois?

— Mas você conseguiu se lembrar de tudo? — ela insiste na conversa, sem maldade nenhuma. — Não teve mais problemas de memória depois? — são questionamentos inocentes. Parece ser a gota d'água para Luke.

— Julie, vou te esperar no caixa. — ele toma o carrinho da minha mão. — Um prazer te conhecer, Ana. — e diz na maior falsa simpatia.

— Hã... Ana, tenho que ir. Eu te farei uma visita e te atualizarei tudo! — corto o assunto.

— Perfeito! — ela acha estranho, mas não tira o sorriso do rosto. — Se cuida.

Aceno sem graça e ando rápido atrás de Luke.

— Eu posso explicar.

— Se eu te dizer que não entendi nada do que acabou de acontecer, é capaz de você mentir mais ainda.

— Eu não menti em nada, Luke. — Puxo seu braço, forçando-o a parar.

— O que era aquilo de "Como ta seus pais"? Ou aquilo de perda de memória? E como assim você conseguiu encontrar seus pais? Alguma vez esteve perdida deles? Eu acabo de perceber novamente que não sei nada sobre você. — ele fala baixo, mas está claramente irritado.

— Não tem moral para falar nada, se não me conta as coisas também! Não sei nada direito sobre sua família. O que há de errado com você? Já disse que meus sentimentos não tem nada a ver com o que conto ou deixo de contar. — rebato brava.

Bufo e tomo o carrinho novamente da sua mão. Fazemos o resto das compras em um completo silêncio constrangedor. Pago a conta e voltamos para casa andando. Não estamos com tanta coisa, então foi tranquilo para carregar.

Alex está cochilando no sofá quando chegamos. Reggie e Bobby jogam baralho. Dou boa noite a todos e entro logo no banheiro para um banho.

Quando saio, Luke já tomou o espaço de Alex e o mesmo já despertou. Reggie está fuxicando as compras e Bobby entediado.

Remember [Juke]Where stories live. Discover now