Vingt-Cinq

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O aniversário de vinte e quatro anos de Charles era definitivamente o maior que ele já havia feito.

Como era um fim de semana sem corrida, ele conseguiu juntar todos seus colegas da Fórmula 1, pilotos, engenheiros e outros membros da Ferrari com seus amigos de infância.

Tinha que admitir, ver Vincent e Daniel Ricciardo se juntarem era assustador, mas divertido. Assim como Dominique e Daisy, Arthur e George...

Levaram algumas semanas para seu relacionamento com Charlotte e os amigos voltar a como era antes. Todos pediram desculpas e seguiram em frente como se nada tivesse acontecido.

Assim como ele. Nos últimos dois meses, se recusava mais do que nunca a pensar em Scarlet. Ela não voltaria e era burrice se segurar nessa esperança.

– Você está feliz? – Charlotte sussurrou em seu ouvido, tirando sua atenção do que Angelina e Carlos falavam. Ele não precisou pensar duas vezes antes de responder.

– Sim, estou. – disse e sorriu, dando um beijo em sua namorada.

Estava fazendo mais uma ótima temporada com a Ferrari, muito melhor do que a do ano passado. Ele e seu novo companheiro Carlos viraram grandes amigos e tudo ia bem com seu grupo de amigos.

O que significava que algo de ruim aconteceria logo. Mas é um problema para depois, pensou.

Seus amigos de Mônaco e do grid estavam sentados em dois sofás, um de frente para o outro. Ele levantava ocasionalmente para ir para o bar, conversar com os outros convidados e dançar um pouco. A festa tinha apenas uma hora de duração, mas estava ótima.

– Ai. Meu. Deus.

Charles de início ignora o que Dominique diz, até sentir a mesma bater em sua perna.

– O que? – ele pergunta e ela aponta na direção da entrada do local. Charles olha para onde ela aponta.

Ele piscou duas vezes para ter certeza que não o que via não era uma imagem de sua cabeça.

Scarlet.

Ela sorriu para o segurança e entrou, com um sorriso que Charles conhecia melhor do que ninguém.

Não tinha um convite, mas ela nunca precisava de um convite.

– Uh-oh... – ouviu Lando comentar ao seu lado, mas não conseguia tirar seus olhos dela.

Tinha mudado o cabelo, estava mais liso desde a última vez que a viu. Usava um vestido amarelo e curto, que ele tinha certeza que custou uma fortuna.

– Isso! Não é uma festa sem a Francesinha. – Vincent diz alheio ao pensamento do outro grupo.

Charles sentiu Charlotte enrijecer ao seu lado e viu com o canto de olho Daisy e Margot olharem uma para a outra.

– Quem é ela? – Carlos pergunta, confuso.

– Scarlet. – Angelina sussurra de volta para o namorado, que faz um "Ah". Ótimo, mais uma pessoa.

Ela parou para cumprimentar Arthur e Lorenzo, como se não soubesse que todo um grupo de pessoas esperava sua chegada lá.

Estava fazendo isso de propósito, Charles pensou. Antes não sabia o que pensar ou sentir, mas agora tudo que conseguia sentir era raiva.

Scarlet estava a poucos passos dele quando finalmente olhou em sua direção pela primeira vez em dois anos. Aquele breve momento pareceu uma eternidade, como se ela e Charles só conseguissem ver um ao outro.

Antes que ela pudesse abrir a boca, Charles levantou de seu lugar e andou até ela sem olhar para trás. A pegou pelo braço e a arrastou pela multidão até o banheiro mais próximo enquanto ela ria.

Ele abriu a porta e a fechou atrás de si, praticamente jogando Scarlet sobre ela.

– Eu esqueci como você é tão romântico! – Scarlet fala pra Charles pela primeira vez desde que o deixou. Ela sorria e não parecia se importar com a raiva dele, o que ele não entendia.

– O que você pensa que tá fazendo aqui? – Charles a ignora e pergunta – Você foi embora.

Scarlet engole em seco e dá de ombros, passando a mão pelo cabelo.

– E agora eu voltei.

Charles ri e coloca as mãos na cintura, como se não acreditasse nela.

– Simples assim? – ele pergunta e morde seu lábio.

– Simples assim. – ela diz, despreocupada – Não sei porque tá fazendo esse escândalo todo! Francamente, Perceval, esse show de me...

– Para de fazer isso! – ele interrompe e aponta.

– Fazer o que? – Scarlet retruca e dá um passo para frente. Ele não recua.

– Não aja como se nada tivesse acontecido. – Charles pressiona – E não aja como se você não tivesse me deixado.

– Então não aja como se você não tivesse pedido para eu voltar. – Scarlet retruca e o pega de surpresa. Eles se encaram por alguns segundos em silêncio, respirando pesadamente.

– Aquilo foi um erro. – ele engole em seco e diz – Você não deveria ter voltado.

Charles não sabia porque estava falando assim. Porque estavam mentindo de novo um para o outro e voltando a se comportar como antes de tudo que aconteceu.

É mais fácil assim, pensou. Fingir que tudo que sentem um pelo outro é mágoa e rancor, não saudades.

– Mas eu voltei. – Scarlet insiste – Essa é minha cidade, meus amigos e eu estou cansada de correr disso.

Sua vontade era de mandá-la sair, mas sabia que não podia fazer isso sem causar uma cena maior do que já causaram. Seus amigos não entenderiam, afinal apesar de seus conflitos, os dois sempre estiveram nos aniversários um do outro.

Então respirou fundo.

– Então por que hoje? Por que fazer... Isso? – ele pergunta – Você me odeia tanto que não suporta me ver feliz?

Scarlet ri e passa a mão pelo seu vestido, fingindo que as palavras não a atingiram.

Estavam fazendo um jogo que ela se recusava a perder.

– Por favor, você sabe que as melhores festas para ir são as que você não é convidado. – Scarlet diz e dá de ombros – Falando nisso, onde está Gigi? Eu não a vi quando entrei...

Charles fecha a mão em um soco ao ouvir o apelido da ex-namorada, fazendo Scarlet sorrir ao ver sua reação.

– Certo, é a Charlotte agora! – ela finge ter esquecido – É que você sabe, as datas são muito confusas...

– Para. Com. Isso. – Charles insiste – Então é assim que vai ser, é? De volta a Perceval e Vossa Alteza?

Scarlet sorri e coloca a mão na maçaneta da porta, a abrindo atrás de si.

– É assim que sempre deveria ter sido. – ela diz e dá de ombros, deixando Charles para trás e sozinho no banheiro.

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