Prologue

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Agosto de 2014

O barulho da água batendo no chão era o único som que saia do ambiente.

Jules encarava os dois adolescentes na sua frente. Essa não era a primeira vez que Scarlet e Charles causavam alguma confusão e eram obrigados a ouvir uma "bronca" de sua família.

Mas ele nunca tinha sido escolhido para a missão. Até pouco tempo era um adolescente como os dois, sem contar que cresceu ouvindo seu melhor amigo falar as maiores atrocidades de Scarlet Vaillancourt. Não seria justo com a garota tê-lo como mediador.

Mas Alexander estava ocupado, Clemence mal conseguia direcionar uma palavra a Scarlet sem ser recebida com farpas, Pascale sempre dizia para "deixar eles serem crianças", Lorenzo se recusava e Hervé estava exausto dos dois.

– Se eu entrar naquela sala, eles não saem vivos. – Hervé lhe disse quando pediu o favor – Por favor, Jules.

Ele não tinha opção.

– Ok. – suspirou fundo e virou-se para os dois – Alguém quer me contar o que aconteceu?

Scarlet e Charles olharam na direção um do outro. Nesse momento eles pareciam duas crianças que foram chamadas para a sala do diretor.

– Não foi nada demais. – Scarlet tentou dar de ombros e abriu um sorriso que costuma enganar a maioria das pessoas.

– Scarlet, vocês estavam se afogando na piscina na frente de todo mundo. – Jules rebateu, despertando uma risada involuntária de Charles.

– Por que você tá rindo? Isso é tudo sua culpa! – Scarlet virou de frente para Charles.

– Minha culpa? – Charles levantou, deixando mais evidente o quão ensopado estava – Você me jogou primeiro!

– Claro que não! – Scarlet se levantou – E eu só fiz isso porque...

– Ok, ok! – Jules se colocou no meio dos dois – Que tal... Do começo, hm? O que levou a... Discussão?

Scarlet e Charles compartilharam outro olhar.

Ao longo dos anos, Scarlet já havia pensado em centenas maneiras diferentes de matar Charles.

Ela podia o derrubar da janela de seu quarto.

Bater sua cabeça em uma das belas esculturas de mármore da propriedade.

Furar o pneu de seu carro.

E claro, enforcar seu pescoço estúpido até ele ficar sem ar.

Mas ela nunca chegou a pensar em colocar um de seus planos em ação. Até hoje.

O evento organizado por seu pai e o Sr. Barbeau ia exatamente como todas as centenas de outros que Scarlet passou sua vida toda comparecendo. Extremamente entediante.

– Ei, pelo menos nós estamos bebendo. – Gemma tentou ver pelo lado positivo – E muito bem vestidas. Exceto por Charles.

Ele revirou os olhos para a amiga e tomou um gole de sua champagne. Charles tentava combinar uma camisa social florida com uma calça jeans que ele tinha desde os 14 anos e se recusava a jogar fora.

Charles olhou ao redor da mesa. Vincent usava uma simples camisa branca e uma calça social, assim como Philippe, enquanto Jasper usava sua típica camisa azul com um jeans preto.

Gemma estava certa. Ele estava horrível.

Mas ele jamais daria a satisfação de admitir isso na frente de Scarlet.

– O que? Nenhuma piada? – ele provocou a menina que conhece desde que nasceu.

Scarlet levantou seu olhar para ele e sorriu cinicamente.

Como ele odiava quando ela fazia isso.

– Eu não tenho a energia para reconhecer sua existência hoje, Perceval. – Scarlet retrucou.

– Bom, Vossa Alteza. – Charles disparou na mesma moeda e imitou seu sorriso.

Os dois se recusavam a chamar um ao outro pelo nome desde que... Bem, desde que aprenderam a falar. Vaillancourt não conseguia se lembrar de uma vez sequer, em 17 anos que conhecia Leclerc, ele dizer a chamar pelo nome.

– Por favor, não comecem. Eu ainda não estou bêbada o suficiente. – Dominique interviu e aproveitou para chamar o garçom – Além do mais, ainda são 4 da tarde e esse inferno vai demorar a acabar.

– Eu não comecei nada... – Scarlet se defendeu – Gemma que fez o comentário, que é verdade aliás.

Charles apertou sua mão e respirou fundo. Ele a odiava. Odiava ter que olhar sua cara ridícula todo dia desde que ela nasceu, um mês após ele. Odiava que suas mães eram melhores amigas e os forçaram a crescerem juntos como se fossem apenas uma família. Odiava o jeito que ela o provocava.

Mas se tinha algo que ele sabia fazer, era provocá-la de volta.

– Fale o que quiser da minha roupa, mas pelo menos eu não tenho que usar vestidos longos ou calças para esconder a tatuagem horrível que eu fiz escondido do meu pai com quinze anos. – Charles rebateu com um sorriso.

Os olhos de Scarlet se arregalaram. Ele sabia. O desgraçado sabia.

Fazer uma tatuagem às quatro da manhã de uma Quarta-Feira quando tinha quinze anos foi uma má ideia. Tão má que ela havia apenas contado para Dominique, Anna e Gemma, sabendo que o segredo nunca sairia de lá.

Ela olhou para as amigas, buscando uma resposta.

– Um dia eu deixei meu celular aberto na nossa conversa do lado de Philippe... Mas ele prometeu não contar a ninguém! – Gemma apertou o namorado, que fingiu que não sabia do que ela estava falando.

Ótimo.

– Então é por isso que você nunca entra no mar com a gente. – Jasper percebeu – Eu só pensei que você tava sendo... Você sabe... Você.

– Fico encantada. – Scarlet piscou para o amigo, tentando fingir que não ligava para o fato de que a pessoa que mais odiava no mundo tinha conhecimento de um segredo seu.

– Seria uma pena se eu contasse para ele, não? – Charles apoiou seu braço na mesa.

– Charles...

– Você. Não. Ousaria. – Scarlet disse fortemente.

Charles olhou em volta de si. Alexander Vaillancourt estava na outra ponta da propriedade, conversando com outros três homens que vestiam ternos.

– Me observe. – Charles diz e levanta da mesa.

Ele sorri e dá cinco passos até sentir uma unha se afundar em seu ombro. Ele se assusta e tropeça, esbarrando com dois garçons e caindo diretamente na piscina, levando Scarlet consigo.

Os dois não demoram a voltar para a superfície, respirando rapidamente.

– Você ficou louca? – Charles gritou.

– Se você pensa por um momento que eu vou deixar você contar isso para meu pai, você é mais idiota do que eu pensei, Perceval. – Scarlet também gritou.

Charles tentou nadar até a borda, mas foi puxado por Scarlet para debaixo da água. Ele não tardou a puxá-la consigo.

E assim eles ficaram por dois minutos, enquanto metade dos convidados assistiam horrorizados. Exceto por Vincent, que gravava tudo.

– Então... Você tem uma tatuagem? – Jules perguntou, pegando os dois de surpresa – Esse não é o ponto. Olha. Vocês estão nessa guerra de se odiar desde que nasceram, e era tudo bem quando vocês eram crianças, mas vocês logo vão fazer 17 anos. 18 ano que vem. Querem continuar se odiando como adultos?

– Sim. – os dois responderam em uníssono.

– Vou reformular. – Jules respirou fundo – Vocês não precisam se amar, ou se gostar. Apenas... Tentem evitar situações como essa. Esse é um dia muito importante para seu pai, Scarlet. E consequentemente, pra sua mãe Charles. Então...

– Vamos tentar. – Charles responde e sorri – Por eles.

Ele olhou para Scarlet. Os dois fingiram sorrisos um para o outro, sabendo muito bem que a guerra entre os dois jamais acabaria.

Seven ThingsWhere stories live. Discover now