Quinze

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Scarlet se forçou a caminhar até o armário, pegar suas roupas e colocá-las na mala. Fez o mesmo com o banheiro e a escrivaninha, guardando tudo que lhe pertencia. Não chorou – não se permitiu, mesmo quando fechou a mala.

Estava na hora de ir.

Pela direção das vozes ela sabia que todos estavam na área externa nos fundos da casa, o que significava que ela podia sair sem ser vista.

Arrastou sua mala pela escada, evitando fazer barulho e caminhou até a porta de saída. Ela hesitou por um momento, encarando a maçaneta.

– Scarlet? – ela ouviu a voz de Clemence atrás de si – O que tá...

Ela olhou para a mala e então para a enteada. Tanto ela quanto Scarlet não sabiam o que falar.

– Eu tenho que ir embora. – foi tudo que Scarlet conseguiu formular.

Clemence não questionou, apenas assentiu com a cabeça. Ela andou até Scarlet e colocou as mãos em seu ombro.

– Então vamos te levar para casa.

Scarlet não chorou quando ficou sozinha no avião

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Scarlet não chorou quando ficou sozinha no avião.

Nem quando um de seus motoristas a buscou no aeroporto.

Nem quando chegou tomava banho.

Foi apenas quando tinha colocado seu pijama e deitado na cama que se permitiu chorar. Chorou como quando perdeu a pulseira, a diferença era que agora ela estava completamente sozinha.

Não explicou nada para Clemence, e ela não pediu. Apenas a assegurou que falaria com seu pai e que ela não tinha que se preocupar com nada. Ela agradeceu. Também não avisou ninguém que estava voltando mais cedo pois sabia que não conseguiria mentir.

Ela acabou dormindo de algum jeito.

Sabia que estava sonhando quando percebeu que estava no estúdio, que estava arrumado como na época que sua mãe estava viva. Scarlet olhou para o lado e lá estava ela.

Sua mãe.

Ela estava suja de tinta como sempre costumava estar e exatamente do jeito que ela lembrava. Os cabelos curtos e um pouco encaracolados, com um pincel na mão e a cintura na outra. E claro, a pulseira em seu punho.

Já tinha sonhado com a mãe dezenas de vezes, mas nenhuma nos últimos anos.

– Scarlet me passa essa tinta perto de você. – Simone disse com naturalidade. Scarlet conseguia se mexer mas ao mesmo tempo não. A mãe virou em sua direção – Filha, parece que você viu um fantasma.

– Você é um fantasma. – Scarlet respondeu simplesmente e a mãe riu.

– Merda, eu pensei que seria um daqueles sonhos que você não sabe que eu... – ela se interrompe e coloca o pincel na cadeira ao seu lado – Como antes.

Scarlet levantou e abraçou a mãe. Sabia que não era de verdade, que era apenas uma representação do seu Inconsciente – por mais realista que parecesse, mas precisava abraçá-la.

– Como você está? – ela pergunta.

– Ótima! – Simone responde com o entusiasmo que sempre teve – É bem legal aqui, por mais que seja assustador quando eu cheguei. Eu conheci Monet, sabia?

Scarlet riu e sentou na cadeira de frente para a mãe, que fez o mesmo. Ela resistiu a vontade de perguntar sobre Hervé e Jules pois sabia que não obteria uma resposta verdadeira.

– Eu sinto muito, mãe. – Scarlet admitiu e pegou na sua mão – Por ter estragado seus planos e de Pascale. Te decepcionado.

– Você não tem que se desculpar por nada. – Simone colocou suas mãos no rosto da filha – E eu estou falando sério.

– Mas eu...

– Não, pode parar. – Simone a repreendeu – Scarlet, é a sua vida. Suas decisões e escolhas. E eu nunca poderia ficar decepcionada com você.

– Para de mentir. – Scarlet insistiu – Você realmente tá me dizendo que não ficou nem um pouco irritada comigo por odiá-lo?

– Claro que não! – Simone retrucou – Me escuta. Sim, eu e Pascale fizemos planos. Mas às vezes as coisas não acontecem como você planeja e tá tudo bem! E então você faz novos planos e assim em diante. Você, Scarlet, me faz ser a mãe mais orgulhosa do mundo e eu queria ter tido tempo pra ter falado isso.

Scarlet assentiu e forçou um sorriso. Nunca saberia se isso era verdade.

– Além do mais, eu ouvi que você não o odeia mais tanto assim...

– Ah, pelo amor de Deus! – Scarlet ri e coloca as mãos no rosto – Podemos não falar sobre isso?

– Esse é seu sonho, você escolhe o que acontecesse... – Simone a provoca.

– Tá, então eu vou acordar.

– Claro...

– Cala a boca! – Scarlet ri e a faz rir também – E nem pense em falar...

– Eu te avisei? – Simone interrompe e sorri – Porque eu avisei. Seu pai nunca acreditou em mim quando eu disse que isso aconteceria. Ah, como eu quero ver a cara dele quando ele descobrir!

– O que vai ser nunca. – Scarlet aponta – A não ser que você queira contar quando ele morrer, sabe, recebê-lo assim.

– Eu ia dizer não por ele ser seu pai, mas ele casou com outra... Então é um acordo. – Simone entrega sua mão para Scarlet.

Scarlet a aperta e de repente, acorda.

Ela estava de volta ao seu quarto, que agora estava completamente escuro pela noite ter chego. Sentou na cama e sorriu. Olhou para seu punho e passou a mão por onde antes a pulseira ficava.

Scarlet levantou da cama e colocou um roupão por cima do pijama. Ao contrário de onde estava, Mônaco estava praticamente congelando. O vento quase a derrubou quando ela saiu da sala em direção ao estúdio.

Acendeu as luzes. Tudo estava como ela tinha deixado da última vez, quando Tristan apareceu e estragou seu dia. Sorriu e abraçou a si mesma.

Essa era sua realidade. Seu momento presente.

Tristan a pediu em casamento. Ela disse que não. Descobriu que Charles lhe deu a ideia e em troca arranhou seu rosto. Ficou sabendo da viagem. Foi. Perdeu sua pulseira. Se apaixonou por quem odiava. Quebrou seu coração. Voltou.

Não podia fingir para si mesma que nada disso tinha acontecido. Não era a mesma que saiu um mês atrás.

Podia correr de Charles, mas não de si mesma. Não da verdade nem do que aconteceu.

Mas estava cansada do passado. Do passado antes da viagem e depois. Assim como não fazia a mínima ideia do que o dia seguinte traria.

Estava em casa e isso era tudo que importava no momento.

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