Vingt-Quatre

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– Obrigada por vir. – Scarlet força um sorriso para mais um convidado e relaxa o rosto quando ele passa por ela.

– Olha, dessa vez você esperou! – Clemence sussurra para ela e sorri enquanto Scarlet a ignora.

Alexander estava em uma importante viagem de negócios na Austrália por duas semanas, o que significava que Clemence e Scarlet seriam as anfitriãs do leilão beneficente de verão, que neste ano é em Milão. A esposa era melhor em receber pessoas do que ele e a filha era praticamente graduada em eventos desse tipo.

Eram a dupla perfeita.

– Eu sempre espero. – Scarlet retruca e ajeita os ombros.

– Ele é bonitinho, não é? – a madrasta pergunta. Vinha tentando empurrar alguém para Scarlet desde seu término com Marcello. Scarlet a deixava pensar que tinha algum interesse nas propostas, mas sempre arranjava uma desculpa – O que você acha?

Scarlet olhou para trás, onde o jovem milionário se acomodava em uma das mesas. Seu nome é Isaac, ou Yvo, ela não se lembrava e nem se importava.

– Ele não é noivo? – Scarlet tentou desconversar.

– Sim, bom, não sei... Eu pergunto quando entrarmos. – Clemence responde igualmente confusa – Ah! Olha quem chegou!

Scarlet tirou sua atenção da madrasta e olhou para frente, onde uma mulher sorria para Clemence e andava em sua direção.

Scarlet conhecia Barbara Cortez Dybala apenas de reputação.

A atriz brasileira de vinte e sete anos – quase a mesma idade de Clemence – era uma frequentadora fiel dos leilões de seu pai. Ela era conhecida mundialmente por seu trabalho de caridade.

E claro, por ser casada com Paulo Dybala, jogador de futebol que atualmente atua pela Juventus.

Ela se lembra ainda de quando a primeira notícia saiu dos dois, Gemma ligou para todas as amigas na mesma hora como se uma emergência tivesse acontecido para mostrar as fotos de Barbara em um jogo da equipe italiana.

A atriz cumprimentou Clemence com um abraço. Seu vestido vermelho era espetacular, como se a cor pertencesse a ela. Elas formaram uma espécie de amizade devido a idade próxima e a presença marcante de Barbara.

– Scarlet. – Barbara diz e coloca seus braços nos ombros de Scarlet, a cumprimentando com dois beijos no rosto – Maravilhoso te ver de novo!

– Digo o mesmo. – Scarlet força um sorriso e se afasta.

– Vamos, nós caminhamos com você até a mesa. – Clemence oferece e engaja em uma conversa com a atriz enquanto as três caminham.

Elas sentam na mesa, cada uma de um lado de Barbara. Scarlet respirou aliviada de finalmente poder sentar. Já estava naquela hora que os convidados que chegassem fossem as cumprimentar, não o contrário.

– Então, Clemence me diz que você está morando em Paris agora? – Barbara se direciona a Scarlet, despertando sua atenção.

Ela era apenas cinco anos mais velha do que ela, mas devido a sua proximidade com Clemence, a brasileira tratava Scarlet como se fosse bem mais nova.

Scarlet odiava isso, mas deixava passar.

– Sim, há dois anos. É uma cidade incrível. – Scarlet sorri – Mas tenho certeza que não se compara a Turim.

– Falando em Turim... – Clemence se intromete e recebe um olhar fervoroso da enteada – Você deveria falar com Paulo para ele apresentar algum dos companheiros de time dele para Scarlet.

Scarlet fecha sua mão em um punho, suas longas unhas chegando a machucar a pele. Se sair com um piloto de Fórmula 1 lhe causou o que causou, ela não poderia imaginar o que aconteceria com um jogador de futebol.

– Clemence. – ela diz firmemente.

– O que? Eu acho que seria uma ótima ideia! – a mais velha se defende – O que você diz, Barbara?

Scarlet notou Barbara segurar um riso, tão suavemente que quase lhe passou despercebido. Ela é boa, pensou, quase tanto quanto eu.

– Acredite em mim, Clemence, é melhor para Scarlet não chegar nem perto dos jogadores da Juve. – ela responde com um sorriso – Mas eu posso falar com ele sobre os jogadores da argentina, apesar de que eu aviso, namorar um argentino não é nada fácil.

Barbara e Clemence riram e até Scarlet deixou uma risada escapar. Tinha que dar crédito para Gemma, Barbara Cortez Dybala era incrível.

Um funcionário interrompeu a conversa, sussurrando algo para Clemence. Ela sorriu para as duas e disse que logo voltaria.

– Então, por que você realmente deixou Mônaco? – Barbara pergunta e pega Scarlet de surpresa. Ela não deixa sua surpresa transparecer e dá de ombros.

– Nada em particular. – Scarlet retrucou – Só queria conhecer um lugar novo.

Barbara ri e toma um gole de sua champagne, como se não acreditasse em Scarlet.

– Então você quer que eu acredite que a Princesa de Mônaco deixou seu castelo por... Nada em particular? – Barbara confronta e insiste, com um sorriso no rosto.

Scarlet queria socá-la, mas forçou um sorriso também. Não poderia fazer uma cena, mas sua mente já imaginava ela afundando o rosto da atriz pelo vaso sanitário.

– Você nunca mais voltou para Los Angeles mesmo agora que sua série não está gravando em Turim...

– Meu marido trabalha em Turim, e é mais perto de Londres, onde estamos gravando agora.

– Ah, está vendo? Você tem um motivo para continuar em Turim. – Scarlet retruca e aponta – Eu não tinha nada me prendendo em Mônaco.

Scarlet viu Barbara segurar sua taça com um pouco mais de força quando disse a palavra "prendendo" e sorriu.

– Ah! Então isso é sobre um homem! – Barbara conclui e é a vez de Scarlet fechar o rosto.

– Não, não...

– Merda, isso significa que Paulo ganhou a aposta. – Barbara sussurra para si mesma – Ah, mas fazer o que! Faz sentido.

– Eu não deixei minha casa por um homem. – Scarlet insiste e Barbara dá de ombros.

– Por favor, Scarlet. Mônaco pertencia a você, sempre pertenceu. – Barbara ri – Eu sempre vi você amar e proteger aquele país, que é menor do que a cidade que eu nasci, aliás, como se fosse parte de você. Você nunca o deixaria para trás se não se sentisse obrigada.

Scarlet ri e balança a cabeça negativamente.

– Você não me conhece o suficiente para dizer isso, Cortez. – ela diz firmemente.

– Eu só to dizendo... A Scarlet que eu conheço jamais deixaria alguém tomar Mônaco que eu conheço. – Barbara dá de ombros e sussurra quando percebe que Clemence se aproximava – Ela voltaria e tomaria o trono dela de volta em grande estilo.

Scarlet não respondeu, não teve tempo e não sabia o que dizer.

Barbara estava certa.

A Scarlet de antes jamais deixaria tudo para Charles. Sua casa, seus amigos...

Quando foi embora, pensou que era a coisa mais fácil a se fazer. Assim, não deixaria que ele decidisse o que aconteceria quando voltasse, ela mesma fez essa decisão. Queria evitar um conflito que sabia que aconteceria se ficasse.

Ela escapou, como ele disse que ela faria.

Mas ela estava cansada de correr, de se esconder. Sentia falta de sua casa, de sua mansão. De ter brunch com suas amigas e sentir que toda Monte Carlo respondia para ela.

Sentia falta de ser Scarlet Vaillancourt.

A Scarlet que nunca deixava Charles ter a última palavra. Que sempre saia por cima.

Que sempre ganhava.

Estava na hora de voltar para Mônaco e enfrentar a bagunça que fez, de uma vez por todas.

Seven ThingsWhere stories live. Discover now