I47I -Declarações

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Eu ainda podia sentir minha pele queimar quando acordei com braços fortes me envolvendo. As lembranças da noite passada vieram com um sorriso bobo em meus lábios. Era tão estranho me sentir completa ali, ouvindo o som de uma respiração tranquila, com o calor de um corpo sonolento junto ao meu. Se eu pudesse congelar um momento e guarda-lo para sempre, sem nenhuma hesitação, escolheria esse.

Como se adivinhasse meus pensamentos Raymond me apertou contra seu corpo, me colocando próxima o suficiente para que beijasse minha testa. 

- Não ouse ir embora. - Sussurrou, sua voz embargada de sono. 

- Confesso que estou impossibilitada de fazer isso no momento. - Brinquei, passando uma das mãos por seu peito. Seus olhos piscaram preguiçosamente, antes de se abrirem por completo.

Suavemente usei meu indicador para contorna-los.

- Seus olhos são tão diferentes, nunca consigo atribuir uma cor para eles. - Falei, quando notei que o comentário faria ele desviar seu olhar, segurei seu rosto. - Eu gosto deles. - Afirmei, garantindo que notasse a sinceridade em minha voz.

Com um movimento, eu estava abaixo dele, suas mãos seguravam meus braços acima da cabeça. Senti meu coração acelerar drasticamente, céus, mesmo que eu tentasse não poderia conter o poder que esse homem tinha sobre o meu corpo.

- O que está pensando em aprontar, senhor M... - Comecei, sendo interrompida por seus lábios quentes e famintos. Um prazer antecipado fez meus seios se eriçarem. Ele sorriu, ciente do efeito que causava.

- Penso que ainda não a fiz pagar por todas ás vezes que me deixou louco. - Respondeu.

- Então, estamos totalmente empatados nesse quesito. - Falei, levantando minha cabeça para beija-lo.

Eu mal tinha recuperado meu fôlego, quando ele se afastou, me cobrindo cuidadosamente com um dos lençóis da cama.

- Há alguém vindo. - Disse, sua voz carregada de uma frustração da qual eu entendia muito bem.

- É por isso que estou sendo embrulhada como um presente? - Perguntei, sentindo suas mãos se demorarem em meu quadril. - Pensando em me oferecer como uma declaração de paz?

Ele riu, um riso orgulhoso e profundo que fez meu corpo vibrar.

- Eu destruiria cidades inteiras para manter você segura, nunca deixarei que nenhum outro homem coloque as mãos sobre você. - Falou, sua expressão divertida desaparecendo por completo. - É uma promessa.

Não pude deixar de pensar que sua expressão feroz tinha haver com Ulrik. O antigo Mestre da Cidade do Norte havia me beijado, mesmo que com a finalidade de me envenenar, sem duvidas também tinha feito aquilo para provocar Raymond. Mas Ulrik estava morto e agora nós havíamos tomado o poder da Cidade do Norte, inclusive do castelo de Ulrik. E para minha felicidade de um dos quartos. Estremeci pensando que em um desses quartos Ulrik havia feito planos de me matar.

Raymond estava abotoando sua camisa quando as portas duplas do quarto foram abertas e Elikham as atravessou, ainda usando um uniforme de soldado da Cidade do Norte. Um disfarce que tinha se tornado real em poucas horas e que estranhamente se adequava bem de mais a ele. Seu semblante como de costume era uma máscara inteligível, totalmente devotada a Raymond.

- Os Mestres das Cidades do Leste, Sul e Oeste reconheceram a mudança de poder da Cidade do Norte. - Declarou. Edmon tinha providenciado que mensagens fossem enviadas aos Mestres das Cidades informando que Raymond havia tomado o posto para si horas antes. Elikham fez o som de quem limpava a garganta. - Entretanto, o Mestre da Cidade do Sul recomendou a execução da Senhorita Nowak.

Minhas sobrancelhas se ergueram, Elikham permaneceu parado aguardando as ordens de Raymond.

- Algo me diz que recomendou a execução não foram as exatas palavras do Mestre da Cidade do Sul. - Comentei, olhando de um para o outro.

- Já era esperado. E quanto às tropas de soldados da cidade, devemos presumir que todos os Membros leais a Ulrik trocaram de lado? - Indagou Raymond, sentando em uma poltrona para calçar suas botas. Desgraçado, havia trago suas roupas em algum momento e abandonado as minhas, até onde eu podia ver.

- Ulrik estava encontrando dificuldades em convencer os soldados a atacarem antes do fim do Tratado, seus métodos para impor a obediência necessária eram impopulares. - Falou, quase pude ver um sorriso de canto surgir em seus lábios finos. - A maioria dos soldados jurou lealdade assim que souberam da derrocada de Ulrik. - Explicou. - Os poucos rebeldes foram impedidos de deixar a cidade.

- Ótimo, presumo que devo lidar com os insurgentes antes que criem uma liderança. - Disse Raymond.

- Enviaremos uma reposta ao Mestre da Cidade do Sul? - Elikham perguntou, Raymond pareceu considerar por um momento, antes de olhar para mim.

- Não, deixe com que ele venha até nós. Primeiro devemos concentrar nossas forças para assegurar nossa posição na cidade. - Falou.

- Entendido. Irei preparar os cavalos.

Com uma mesura, Elikham deixou o quarto.

- Por que tenho a sensação de que não é a primeira vez que vocês lidam com algo desse tipo? - Perguntei.

- Porque você é esperta demais para o seu próprio bem. - Falou, sentando-se na beirada da cama. - Cinco anos atrás, lutei com Ulrik pelo posto de Mestre da Cidade do Norte, éramos igualmente fortes em poder, mas eu era jovem, inexperiente e arrogante. Ulrik se aproveitou das minhas fraquezas para me desestabilizar. Ele acabou ganhando o confronto e decretou meu exílio. O mesmo aconteceu com Elikham.

- Ele também lutou contra Ulrik? - Perguntei, com as habilidade de empunhadura que eu tinha visto Elikham usar, era impossível que ele fosse um mero Lican selvagem.

- Não, foi exilado quando se recusou a receber ordens. 

Elikham sempre tinha se mostrado tão leal a Raymond, tentei imaginar quais ordens ele teria recebido. Lembrando-me do antigo Mestre da Cidade do Norte, o exílio poderia ter sido preferível a qualquer coisa que saísse da sua boca.

Eu teria feito coisas incríveis com o seu poder.

- Preciso saber mais sobre os Liones. - Falei, sentindo a palavra vibrar em minha língua, como algo proibido. 

- Há uma biblioteca no castelo, quando eu retornar procuraremos por ela juntos. Por favor Aysha, descanse. O castelo ainda não é seguro para que explore sozinha. 

- Tudo bem. - Falei, apesar de não me sentir nenhum pouco cansada.

Ele sorriu, levantando-se para ir até a porta.

- Raymond. - Chamei, me arrependendo instantaneamente, talvez fosse muito cedo para dizer aquelas palavras. - Tome cuidado...eu odiaria saber que você perdeu para um Lican fraco.

Idiota.

Seu sorriso se aprofundou.

- Eu também a amo, Aysha. Pelo sol, estrelas e lua que estão no céu.

Sua declaração roubou o restante do ar em meus pulmões e eu desabei na cama, escutando a porta se fechar.



N.A: Obrigada por continuarem lendo até aqui <3

VermelhoWhere stories live. Discover now