I44I - Carnificina

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O movimento súbito foi suficiente para me pegar de surpresa. Antes que eu lutasse ou tentasse o afastar ele soltou meu braço, dando-me margem para recuar livremente, instantaneamente passei minha mão sobre meus lábios dormentes. Meu rosto ardia em humilhação.

Fechei meu punho, mirando para acerta-lo no rosto, eu podia estar vestida como uma dama, mas não era uma. Ele segurou meu punho, com a mesma agilidade que pensei ser capaz de acertá-lo. Seus dedos apertaram mão até deixar marcas vermelhas e pronunciadas sobre minha pele, não dei o luxo de demonstrar minha dor, cerrei meus dentes, enquanto imaginava formas de contornar a situação.

- Isso é tudo que você tem? - Perguntou, ostentando a perfeita expressão de vitória, prolongada em seus olhos, de um castanho muito claro, da cor do mel. O ambiente a nossa volta parecia imerso em uma bolha de silêncio.

Então poder estourou atrás de mim, onde eu sabia que Raymond deveria estar.

- Quanta comoção por um simples cumprimento. - Desdenhou, recuando três passos, estendendo os braços ao lado do corpo, na altura dos ombros. Armando seu espetáculo desde que o momento que atravessou a porta. Rompendo qualquer expectativa de que nosso plano ainda funcionasse.

Atrás dele, pelas portas escancaradas do salão que davam visão para a noite profunda, dezenas de soldados de elmo, vestindo o uniforme da Cidade Norte entraram, portando espadas e estandartes com pontas afiadas em riste.

- Vai lutar comigo, garoto? Pensaria bem se fosse você, afinal sou o Mestre da Cidade do Norte, não posso controlar o desejo das minhas tropas em fazer seu papel me defendendo. - Continuou, seu sorriso perverso sem nunca deixar o rosto.

Olhei para Raymond. Não seja estúpido, desejei, isso é exatamente o que ele quer. Seus punhos estavam cercados, dando um pequeno indicio da sua fúria, entretanto o grande lobo espectral de sombras atrás dele o entregava completamente. Seus olhos estavam fixos em Ulrik, notei quando mudaram de cor, caindo para o estranho vermelho que eu já havia visto, uma única vez, quando ele executou o traidor. Murmúrios começaram entre as pessoas reunidas. Consegui distinguir alguns 'o poder dos amaldiçoados', 'não pensei que fosse real'.

- Ulrik Velkan! - Kohina gritou, não pude esconder minha surpresa quando ela atravessou a multidão com passos determinados. - Se ousar iniciar um combate aqui, ofenderá toda a Cidade do Norte, lembre-se que do que o Tratado diz. Não machucarás um Mestre sob o teto dele quando for recebido de boa vontade e justa cortesia.

- Vai invocar o Tratado aqui, Mestra da Cidade do Leste? Pois bem. - Ele fez um gesto com a mão, os soldados baixaram suas armas, mantendo uma postura altiva. - O Tratado diz que todo membro direto da Casa Liones deve ser entregue ao superior da cidade e depois executado.

Antes que o meu sangue pudesse realmente se tornar gelo, antes que eu pudesse sentir as dezenas de olhos sobre mim, Raymond atacou, sem aviso, sem palavras. Somente fúria e sombras, que deram lugar a ossos, carne, sangue e pelo. Sua transformação completa. Eu pensava já ter me acostumado com a sensação da magia, mas não pude deixar de sentir seu impacto. Ninguém no salão deixou.

Ulrik foi arremessado por alguns metros, até encontrar apoio e se firmar novamente no chão.

- Que seja até o ultimo sangue. - Pronunciou, antes de iniciar sua transformação.

Segundos depois dois imensos lobos batalhavam com garras e dentes. Ao contrario do que pensei boa parte dos convidados não estavam aterrorizados, pareciam quase que encantados pelo combate, abrindo espaço para os lobos. Quando uma mulher de vestido amarelo tentou deixar o salão, os soldados bloquearam a porta. Ulrik queria testemunhas.

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