Autenticidade ❤️

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  16:45pm - Salão Comunal dos Monitores-Chefe
 
  Narração Hermione

 "Arranque-me, senhora, as roupas e as dúvidas. Dispa-me, dispa-me." EDUARDO GALEANO, O livro dos Abraços. 

  Dois dias se passaram sem que eu o visse. Conforme os minutos iam passando, perdi as esperanças de que ele viesse até mim e me dissesse tudo o que eu ansiava ouvir. Que ele me queria, que iria ficar comigo e deixa-la. Mas ele sumiu. Com o dormitório em completo silêncio, duvidava de que ele ao menos estivesse dormindo aqui. E o pior, sua ausência me deixava preocupada. 

 Me sinto uma tola por estar me preocupando com alguém que me tem como última opção. Com um longo suspiro, observei a neve cair lá fora. Estava escrevendo uma carta para meus pais, contando um pouco dos últimos dias e checando como eles estavam. Eu estava sentindo falta dos dois e agora mais ainda, uma vez que estou sozinha nesse dormitório e todos meus amigos estão fora. Como fui tola em abdicar das minhas férias em casa e ficar aqui.

 Encontrei com Astoria ontem no almoço, assim que ela me viu entrar no Salão Principal, veio ao meu encontro me mostrar que tinha conseguido um feitiço de tricô e estava fazendo uma manta para seu bebê. Entretanto, ela ainda precisava praticar muito, pois a manta estava mais parecendo um macacão. Depois do almoço, acompanhei-a até a enfermaria e fui para a biblioteca. Em dois dias, já havia feito todos os meus deveres e estava agora começando a estudar para os N.I.E.Ms.

 A lua já estava brilhando no céu quando terminei de escrever minha carta. Peguei minha manta  encima da cama e deixei o quarto. Nenhum sinal dele quando desci as escadas, e sai em direção ao corujal. O castelo estava frio e úmido, e anormalmente silencioso, só se ouvia as conversas dos retratos nas paredes e conforme eu ia subindo, as corujas chirriando. As corujas dormiam tranquilas nos poleiros, e procurei uma que estivesse acordada. Uma grande coruja marrom estava distraída se alimentando de um morcego, e decidi esperar que ela terminasse sua refeição antes de entrega-la a carta. A visão da janela do corujal era belíssima, a neve cobria as árvores da floresta e as torres do castelo, criando o cartão de Natal perfeito, gostaria de poder tirar um retrato.

 Assim que a coruja engoliu o pobre morcego e prendi a carta em seu bico, Malfoy entrou no corujal e se surpreendeu ao me ver ali. Sem dizer nada, deu meia volta e foi embora. Nem tive tempo de esboçar alguma expressão e já ouvi seus passos se apressando lá fora. Revirei os olhos e observei o pássaro voando em direção ao horizonte.

 Que criança! Mimado! Imbecil! Filho de um trasgo! Fiz o caminho de volta para o salão comunal xingando ele de todas as maneiras possíveis e nem fiz questão de saber se ele estava lá antes de subir para o meu quarto. Furiosa, tirei a capa e sentei na almofada do parapeito da janela. Estava há uma lágrima de desistir dele, quando alguém bateu na porta. Respirando fundo, tentei organizar meus pensamentos e não me deixar levar pela emoção. Abri a porta, e lá estava ele. Parado, olhando pra baixo e com a postura de um homem abatido. A essa altura do campeonato, não conseguia mais mentir para mim mesma que isso não me abalava.

- Eu não sei o que fazer da minha vida. – ele então olhou fundo nos meus olhos e disse. Esperando ele concluir, não respondi. - As coisas estão muito confusas para mim, e você não entende, Granger. Eu não sei o que fazer da minha vida, não sei o que fazer em relação a você, estou completamente perdido. E isso não é simplesmente uma desculpa esfarrapada para que eu continue te fodendo, eu não vim aqui te enrolar ou te pedir ajuda, vim aqui te dizer a verdade: Eu não sei o que fazer da minha vida.

 Tentando assimilar sua confissão, apenas assenti e me sentei novamente no parapeito. Levei minhas mãos ao meu rosto e suspirei.

- Eu também não. Mas não quero continuar vivendo assim. Você não entende que essa confusão não faz bem a nenhum de nós dois? Se o resto das coisas já são complicadas, por quê complicar isso aqui também?

 Eu já estava chorando. E odiava chorar na frente de outras pessoas, especialmente na frente dele. Draco passou a língua levemente nos lábios e sentou lentamente no chão. Depois de meses colocando armaduras e espadas em nossa volta, ali estávamos. Despidos de todas as defesas, só sobraram as feridas. Após momentos em silêncio, Draco se levantou e se sentou no chão, dessa vez à minha frente. – Você tem razão, Granger. Não precisa ser complicado.

 Arregalei os olhos, pois estava esperando que ele se tornasse ríspido novamente e me desse outro fora. O loiro pegou minha mão e segurou fortemente.

- Quero que você entenda uma coisa, estou passando por um momento difícil agora, e esse relacionamento que começamos, se é o que isso é, é muito confuso e vai contra tudo o que eu estava planejando. Muitas coisas aconteceram nesse ano, para que eu começasse a enxergar a vida de uma maneira diferente, quando você me deu um ultimato aquele dia, eu fiquei furioso..., mas isso também me fez pensar que se eu não me importasse com você, eu não iria sentir nada. Selwyn deixou a escola e não pensei nela em nenhum momento. Tudo o que eu queria era resolver o nosso assunto. E isso é muito novo para mim também. Há algo em você que eu não consigo me afastar. E eu sempre te odiei, Granger, te odiava intensamente. – Explicou e então deu uma risadinha baixa. Absorvendo tudo o que ele estava confessando, olhei para minha mão que ele segurava e para as olheiras profundas no seu rosto. – Acho que ainda te odeio, Granger. Você é insana. Eu não compreendo o que está acontecendo mas quero que continue. Não sei nem quanto tempo tenho nessa vida e quero parar de fugir do que quero e fazer minhas próprias escolhas.

 Suspirei e assenti, ainda um pouco tomada pelo baque de sua confissão, levei um tempo para responder.

- Eu também não compreendo o que está acontecendo entre a gente, mas acho que já perdemos tempo demais escondendo nossos sentimentos. Como chegamos nesse ponto? Você é um babaca, Malfoy. Um ignorante, estúpido, e além de tudo, preconceituoso.

- Onde você quer chegar com isso? Não está me ajudando.

- Te ajudar? Você sempre fez da minha vida um inferno e conseguiu piorar nesses últimos meses. – Esbravejei.

- Não era o que parecia quando gritava na minha cama. – Disse, com um sorrisinho irônico no rosto, dei um tapa na sua testa levemente e voltei a desabafar.

- O que eu quero dizer é que: apesar de todas essas coisas, eu estou disposta a aceitar você e todos os seus defeitos.

- Nós somos birutas por estarmos fazendo isso, é o que eu acho. Mas acho que já é tarde demais para voltar atrás.

 Levou minhas mãos geladas aos seus lábios, beijando suavemente. Levantei do parapeito e ajudei ele a subir também. Sendo mais alto que eu, passou a mão pela minha cintura e me abraçou desajeitadamente, levou sua mão direito ao meu cabelo desgrenhado e segurou meu queixo, nossos lábios se encontraram e fui tomada pela emoção de sentir que estava, finalmente, vivendo uma verdade. Aquele sentimento de que havia algo errado e que eu não deveria estar ali ou fazendo algo de errado evaporou. Segurei em seus ombros com mais força e poderia até chorar com a glória daquele momento. Draco se separou de mim alguns segundos depois e olhou firme nos meus olhos.

- Eu não quero mais ser umcovarde.         


- Não precisa se esconder quando está comigo. Quero conhecer cada fração sua.

E nos beijamos novamente. 

Ojesed - Dramione (EDITANDO)Where stories live. Discover now