CAPÍTULO 31

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O Capítulo da semana como o prometido, espero que gostem e apreciem a leitura. Não esqueçam de votar e ler a nota no final bjs :3

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AGORA

Michael Doyle descansou os cotovelos sobre a superfície da mesa. Mantinha o olhar analítico em mim, estudando minuciosamente tudo que eu dizia. Em certo momento aquilo me incomodou, mas eu não tinha escolha, precisava que ele ouvisse toda história independente de como reagiria.

Estávamos sozinhos cerca de três horas, ele sequer dissera uma palavra durante esse tempo e eu não esperava que dissesse. Quando entrou por aquela porta e sentou-se na cadeira a frente concordamos que ouviria primeiro para depois propor uma solução, embora tenha deixado bem claro que não seria tão fácil.

Ninguém nos interrompeu nesse período. Éramos apenas nós dois. Advogado e cliente. Sem qualquer interferência policial. Ocupávamos a sala do interrogatório, escura e quase vazia, iluminada por uma luz sobre a mesa.

Ele respirou fundo quando tive que pausar para recuperar o fôlego. Eu estava quase quatro diz sem conseguir dormir bem, quando comia não conseguia manter o almoço por muito tempo. Devo ter perdido até dez quilos nesse último mês e mal conseguia olhar meu próprio reflexo no espelho. Eu sentia pena de mim mesmo como nunca tinha sentido antes. Aquele não era eu. A imagem de um homem pálido com olheiras inchadas, a barba precisando ser feita carregando nos olhos a expressão sombria de si, não era eu. Quis acreditar que não fosse, que não tinha chegado aquele ponto decadente.

Por uma decisão tomada de cabeça quente transformei minha vida num inferno. Mas eu estava cansado, cansado de ser usado pelas pessoas, cansado de não ter tido coragem para impedir que fodessem com minha mente. Eu estava sufocando, morto por dentro.

Cerro os punhos, esforçando-me para ficar consciente.

― Está tudo bem, Griffin? ― Doyle é um borrão, uma figura distorcida dando volta atrás de volta.

Faço pressão nos olhos abrindo e fechando. Quando restabeleço controle da visão sinto a garganta seca então dou um gole no copo de água. Sinto suor escorrer pelo rosto até salgar meu paladar, estou febril e tremendo.

― Podemos parar por aqui se preferir. ― Aconselhou. ― Precisa de descanso senhor Griffin. Eles deixarão que volte amanhã, não está mais preso.

― Não. ― Respondo de imediato. ― Quero voltar para casa sim. E recomeçar. O que eu devia ter feito desde Sevilha. Mas não antes que essa merda esteja resolvida e você vai me ajudar a sair dessa como inocente, entendeu? ― Falo, batendo na mesa.

― Certo senhor...

― Henry. Só Henry, por favor. ― Peço.

Doyle balançou a cabeça assentindo. Usa paletó cinza e gravata de listras azuis e vermelhas. Seu cabelo é castanho, de um tom mais escuro, os olhos são da mesma cor. É um homem branco e alto, diria que tem a minha idade ou talvez seja mais velho dois ou três anos. Segundo Levy é um dos melhores advogados da cidade, venceu todos os casos de homicídio desde que se formou e o mesmo deixara claro que inocente ou não eu sairia daqui com a ficha limpa.

É evidente que seu caráter como profissional particular de justiça é baseado no dinheiro que receberá do cliente e não no grau de seu crime. Ambos estamos de acordo e cientes de omitir a verdade a todo custo.

― Podemos dar continuidade, certo? ― Quis saber.

― Sem duvida alguma. ― Falo.

― Ótimo. ― Olhou o relógio, em seguida juntou as mãos. ― Temos meia hora, por tanto sugiro que vá direto ao ponto mais importante dos fatos.

Michael abotoou o paletó levantando-se, andou para o fundo da sala dando as costas como se observasse alguma coisa na parede escura.

― Mas antes. ― Começou ― Disse ser padre, que conheceu Katarina e Oliver nas missas da igreja, acabou envolvido pelo casal passando a ter relações sexuais com ambos, certo? ― Perguntou, agora de frente para mim.

Franzo a testa e respondo:

― Sim.

― Pelo que eu entendi passou a frequentar psicólogos. Toma diariamente antidepressivos, medicamentos para controlar a ansiedade e o sono irregular.

― Onde quer chegar com isso? ― Cruzo os braços, encolhendo-me na cadeira. Aquilo era torturante, as lembranças e tudo que passamos juntos haviam se tornando agulhas.

― Quero entender a nossa conversa. Resumir o essencial. Garanto que será mais seguro se fizermos dessa forma. ― Explicou, puxando a cadeira e sentando novamente.

Levo a mão direita a testa, massageando a região na busca de amenizar a enxaqueca.

- Desculpa, pode... - Falo , sem conseguir terminar a frase.

― Mencionou alucinações, causadas por sabe se lá o quê. Disse também que as vivencia. Talvez possamos usar esse problema ao seu favor. ― Parou, mordiscando a ponta do indicador direito pensativo. ― Consegue citá-las uma última vez?

Assinto inquieto. As imagens retornam subitamente, quero fugir delas, todas elas, especialmente aquela, a pior, a mais vívida de todas, a que nunca fora uma alucinação e sim um pesadelo. Posso senti-la, está perto, a sinto na pele, no interior da alma. Digo a ele, expulsando-as para fora. A tatuagem estranha. Aquela noite em Brandon. O barman no desfiladeiro. A igreja pegando fogo e por fim o corredor do seminário.

― Alguma outra?

Faço que não.

― Ok. Deve ser o bastante.

Pegou uma caneta no bolso do paletó depois rasgou um pedaço de papel e escreveu algo que para mim pareceu ilegível.

― Estou curioso. Se me permite perguntar, qual a verdadeira razão dessas tais alucinações? ― Indagou, cuidadoso.

― Não lembro. ― Minto.

― Hm.

Michael Doyle não pareceu acreditar na minha resposta, mas decidiu que não insistiria em arrancar de mim toda a verdade. Mesmo que tentasse eu não diria mas do que ele precisasse saber. Eu estava esgotado, perdendo a noção, lutando para manter-me acordado. Agora o cansaço tornara-se intenso, as pálpebras pesavam e as costas doíam.

Desejei estar em casa, mas era tarde, concordei ficar até que tivéssemos acabado a conversa e ainda tínhamos muito o que falar em tão pouco tempo. Logo chegaria a pior parte, eu contaria isso a ele, não por vontade, por obrigação.

― Henry? ― Chamou.

― Sim?

― Está divagando.

― Não, não estou. ― Discordo.

Ele inspirou e expirou, apreensivo.

― Neste caso. ― Gesticulou para que eu prosseguisse.

Recomeço de onde paramos antes. Após Kate jogar suas desculpas e tentar me convencer de que sentia muito e se pudesse voltar atrás faria tudo diferente.

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Imagino que agora eu tenha esclarecido algumas duvidas de muitas(os) de vocês sobre o que estava acontecendo de fato na história. Por favor me digam que sim porque eu sinceramente não sei mais como deixar isso bem claro kkkkkk

Bom, sendo assim, espero que estejam gostando como eu estou gostando desse resultando. Não me matem se o final está seguindo este rumo, garanto que os outros 4 irão surpreender vocês.

Bjs s2 e bom final semana.

O Padre:(+18) COMPLETOWhere stories live. Discover now