12. What if I'm someone you won't talk about?

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Assim que Mats estaciona seu carro na garagem do prédio residencial onde mora eu coloco o casaco que ele me deu propriamente. Estou tentando fechá-lo para esconder o vestido apertado e nenhum um pouco confortável que estou usando. O caminho fora tecnicamente longo, devo ter contabilizado uns 30 minutos enquanto aos poucos sentia o efeito do álcool dissipar do meu corpo. Foram três drinks, mas me orgulhava em saber que sempre fui bastante resistente ao álcool. Nós trocávamos algumas palavras sobre o trajeto, mas nada que nos fizesse engatar em uma conversa extensa.

Eu coloco os pés descalços para fora do carro enquanto carrego os saltos em uma mão e de repente me sinto totalmente estúpida. Que raios de ideia foi essa, Manuela? Caminhamos silenciosamente até o elevador enquanto ele aperta o número do seu andar, e estamos em uma disputa de quem consegue desviar o olhar mais rápido quando é pego olhando um ao outro. Chega até ser engraçado em certo ponto.

— Você não se importa se eu entrar assim na sua casa, não é? – digo enquanto caminhamos pelo corredor, ele me olha confuso e eu aponto com o olhar para os meus pés.

— Ah... – ele ri de leve. – Não, de jeito nenhum. Iria sugerir a você que os tirasse mesmo, estava vendo o quanto você se esforçou para estar neles.

Me permito rir enquanto abaixo o olhar e olho os meus pés dando passos a frente.

— Não uso muito saltos. Na verdade, acho que nunca uso. – digo enquanto chegamos a frente da porta que presumo ser a de seu apartamento.

— Nem nos eventos que você vai? – ele olha para trás, para mim, antes de destrancar a porta e permitir nossa entrada.

Acho engraçado que ele tenha citado eventos como uma referência à minha profissão, de alguma forma sinto meu ego ser massageado. 

— Na verdade, não. Geralmente uso botas sem saltos, ou tênis.

— Definitivamente uma opção mais confortável. — ele responde em um tom amigável — Você pode deixá-los aqui. — ele aponta para um pequeno espaço próximo a porta a qual ele deixa os seus sapatos, me inclino um pouco e deixo os meus lá também.

Então com a curiosidade que me assolava a muito tempo levanto o olhar e permito dar uma circulada pelo local para examinar. A paredes são de um cinza neutro, percebo logo que não há mais do que um quadro solitário em uma das paredes, uma pintura abstrata que misturava tons de laranja e azul escuro, fora isso não há porta-retratos, nem objetos, nada que possa me transmitir algo de sua personalidade. Há um sofá no meio da espaçosa sala, uma mesa de centro de vidro com algumas revistas e um livro que tento me esticar para saber o título, mas não consigo. Há uma grande janela de vidro logo atrás que vai do chão ao teto e nos dá uma visão ampla de Munique naquela noite, logo a esquerda da janela há um arco que divide o que presumo ser a entrada de outro cômodo, e a sua direita o caminho de um corredor que também fico na curiosidade para saber do que se trata.

Mats já está a caminho para a entrada a esquerda da janela e compreendo que é a cozinha quando ele fala:

— Você quer um copo d'água? Dizem que é bom para prevenir a ressaca.

Ha-ha. – digo em um tom sarcástico e ele ri, — Mas aceito sim.

— Você pode... — ele começa um pouco confuso. — Ficar a vontade.

Assinto com a cabeça ainda um pouco incerta e sento no sofá da sala. Percorro o olhar novamente pelo local e como um sopro de consciência me pergunto. Por que Mats estaria morando sozinho agora? Lembro da noite do jantar na minha casa quando reparei na sua mão sem aliança e crio milhares de teorias, nenhuma que me faça divagar demais sobre o assunto. Aquilo não diz respeito a mim. Ou pelo menos não devia.

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