2. Even if it's just pretend

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Uma ótima oportunidade e uma ótima aprendizagem que viria a seguir. Eram esses dois motivos que eu exigia que minha mente repetisse toda vez que pensava que aceitar aquela proposta de trabalho na verdade era sinônimo de que eu estava à procura de problema. Desde a faculdade, aos cursos de especializações, as horas sem dormir a escolher uma determinada fotografia que sobressaísse todas as outras, eu sabia que todos esses momentos se reuniam para que eu chegasse a algum lugar. Um bom e calmo lugar no qual eu me sentiria feliz e completa, e embora ser fotógrafa da seleção alemã em uma Copa do Mundo não fosse exatamente esse lugar, eu sabia que estava no mesmo patamar – posso dizer que até um pouco mais acima. Sabia que todos meus esforços durante os anos haviam valido a pena até então e era uma sensação ótima. Não seria uma simples ocasião que havia acontecido quatro anos atrás que me impediria de aceitar tal proposta.

O voo, como qualquer outro voo internacional, fora cansativo. Oscilei em leves cochilos e prestar atenção na música que meus fones tocavam. Algumas vezes eu abria a pequena janela para olhar o céu e o frio na barriga por conta da ansiedade tomou conta de mim. Seja lá o que a Rússia aguardava para mim naquela Copa, eu torcia internamente para que fosse muito melhor do que o Brasil em 2014. Eu também tentava me convencer de que tais pensamentos eram estritamente para minha vida profissional, mas nem eu mesma acreditava nisso.

Todavia estava aí a diferença que eu buscava de uma Copa a outra. Eu estava preparada dessa vez, apesar de saber que em algum canto de mim algo que saia muito bem o que era se remexia para acordar, eu mantive a minha concentração. Ouvi com atenção cada instrução que deram desde o dia que assinei o contrato temporário até o dia de hoje. Nem estar a metros de distância de Mats, enquanto fazíamos check-in, me fazia sentir vulnerável. Talvez o âmago do meu coração se sentisse daquela forma, mas o externo não.

Quando pousamos em Moscou e estávamos caminhando para os veículos que nos levariam até o Vatutinki Hotel, David, membro da equipe de mídia – ficava responsável pela tiragem das fotos para as redes sociais da Die Mannschaft – a qual eu participava, caminhava ao meu lado enquanto falava sobre alguns dos possíveis desafios que teríamos viajando de um lado para o outro na Rússia, quando o staff que coordenava todos nós se aproximou e colocou em minhas mãos uma espécie de guia, entregando também para o resto da equipe.

– Esse é o guia de vocês, nele está incluso todos os pormenores que vocês terão que estar cientes e as regras que terão que ser seguidas em relação aos jogadores. E para você, senhorita Finkler, é mais restrito já que é uma das poucas mulheres em toda a equipe, e a única da equipe de mídia. O técnico Löw foi muito específico em algumas, então não se assustem. – o homem de estatura mediana e cabelo grisalho falava de forma robótica, até sua feição amenizar e ele falar em sussurro se inclinando na direção dos demais. – Parece mesmo que ele está disposto a ganhar essa Copa também. – e finaliza com uma risada a qual eu pelo menos me sinto na obrigação de acompanhar.

O caminho até o hotel é surpreendentemente longo, mas confesso que a pressa que eu estava de ver uma cama e me jogar nela tenha deturpado minha ideia de tempo nesse momento, embora meus olhos brilhassem toda vez que eu passava um tempo olhando as paisagens russas pela janela. Não consegui visualizar muito bem a fachada do hotel pois estava ocupada demais tentando não trombar com ninguém a minha frente enquanto arrastava minha mala pesada. Por dentro o hotel era extremamente luxuoso algo que eu nunca tinha presenciado ao vivo. Fui acordada do meu devaneio quando os membros da minha equipe foram guiados escada acima para o corredor onde se localizava os seus quartos.

Cada detalhe, desde o piso ao teto, era minuciosamente... Chique. Endireitei minha postura, mas tenho quase certeza que passei uma boa parte do tempo com a boca aberta pela surpresa com o lugar. Todos receberam os cartões magnéticos para as portas de seus quartos, mas olho para o meu em mãos enquanto os outros já estão procurando os números nas portas, percebo que o meu 414 não é naquele andar.

Lost Stars | Mats HummelsWhere stories live. Discover now