3. When you leave me

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O dia de folga fora com certeza aproveitado com mais louvor pelos meus outros colegas de trabalho. Enquanto a equipe aproveitava o dia para sair pela movimentada Moscou, eu permanecia trancada em minha suíte com o notebook em mãos e fazendo alguns ajustes em fotos que Sebastian havia me enviado após muitas súplicas da minha parte. Suas palavras na mensagem que havia me enviado mais cedo foram muito claras e eu quase poderia ouvi-las enquanto lia.

"Você está cobrindo uma Copa do Mundo, e está mesmo preocupada com as fotos da minha agência?"

Por incrível que pareça, eu realmente estava. Ou apenas não conseguia admitir que me manter ocupada era mais uma forma que eu havia encontrado de despistar outros pensamentos da cabeça. Ora ou outra pesquisava mais sobre os equipamentos que eu estava usando com receio de que havia deixado escapar um detalhe para melhorar a qualidade da foto, mas era em vão. Modéstia à parte, eu sempre fui a fundo nos meus estudos. Os mais variados estudos de especialização em fotografia foram os que me levaram até ali, eu realmente só estava procurando algo para me preocupar.

No momento que tiro para olhar pela janela admirando a paisagem lá fora ouço meu celular tocar em cima da pequena cômoda do quarto e posso ver pela tela que se trata de meu pai.

– Oi minha filha, não estou atrapalhando você, não é? – a voz animada de meu pai se faz presente do outro lado da linha.

– Não pai. – respondo prontamente – hoje foi dia de folga para a comissão da seleção alemã.

– Então me deixe adivinhar, – ele imita perfeitamente um tom falso de curiosidade – você deve estar em seu quarto no hotel ainda trabalhando mesmo no seu dia de folga.

– Você me conhece tão bem, pai. – digo em um tom irônico, mas ao mesmo tempo bem-humorado.

– Manuela Finkler, você deveria aproveitar. É sua primeira vez na Rússia, sabe quando voltará aí? Do jeito que é focada no trabalho, não tão cedo.

– Bom, acho que temos que torcer para que eu tenha um outro trabalho por aqui.

– Você não tem jeito mesmo. – ele ri. – Presumo que o humor por aí não está dos melhores depois do último jogo.

– No primeiro dia depois da partida não estava mesmo, mas eles sabem se recuperar rápido. O adversário de terça-feira é mais complicado, mas creio que eles conseguem. – respondo com a confiança que garanti durante os dias de treino observando o afinco que o técnico Joachim Low tinha em passar segurança aos seus jogadores.

– Suécia não é uma das mais fáceis mesmo, mas estou confiante com a minha seleção. Ainda mais que eles estão com o meu amuleto de sorte na equipe deles.

Não consigo evitar a gargalhada, eu com 26 anos de idade e meu pai me tratando ainda como se eu fosse sua filhinha de quatro anos.

– Da última vez você estava no Maracanã quando eles conquistaram o título, então não duvido nada. – ele continua, mas o fato dele citar tal acontecimento me traz lembranças de tal dia que prefiro esquecer. – Filha, sua mãe ligou.

O choque da surpresa me atinge.

– Contei a ela as novidades sobre você, ela ficou muito empolgada e creio ter sentido uma ponta de orgulho em sua fala também.

– Isso é muito bom, pai. – digo quase em um sussurro. Não quero transparecer as emoções que sinto quando se tratam dela, parece que ainda tenho cinco anos esperando ao lado porta minha mãe voltar. – Mas ela poderia ter ligado diretamente para mim, não acha?

– Manu, ela está tentando. – ele diz em um tom baixo– Do jeito dela, mas está.

É difícil pensar em minha mãe estando comigo a maior parte do tempo. Participando dos feitos mais importantes para mim. Mas desde os cinco anos de idade, quando ela e meu pai se separaram e minha guarda ficou com ele, nosso relacionamento mãe e filha sofreu com as falhas de comunicação e a distância. Passei boa parte da minha vida acreditando que aquilo não havia me afetado, que as visitas esporádicas que ela fazia a mim eram o suficiente, ou os presentes que ela dava nas datas comemorativas. Porém quando eu via Liz e sua mãe, as duas eram companheiras e amáveis uma com a outra e dona Vera nunca deixava eu me sentir isolada, pois sabia da minha realidade. Eu tinha ciência de que eu e Felícia nunca seríamos assim. Incrível como ter intimidade com alguém que deveria ser fácil era completamente complicado para nós duas.

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