13. A feeling that you'll never need me again

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Havia tirado aquele dia de folga, estava trabalhando no meu escritório em casa. Era um mecanismo de escapamento o que eu fazia com o trabalho nesses dias – para ser sincera acho que devo ter feito muito isso durante os últimos quatro anos. Havia aprendido a fazer isso durante toda minha vida. Mantinha o meu foco nas fotografias, nos ajustes, nos conceitos que ainda não havia explorado como um fim para tentar me distanciar da realidade que a minha vida estava presa. Tinha funcionado muito bem até agora.

Minha mãe, a qual eu não era muito ligada, estava morando na minha casa por tempo indeterminado. Mats havia retornado à minha vida como algo que eu não esperava e bagunçando tudo novamente. Mas eu ainda tinha a mim e meu trabalho, ali, naquele momento e até então isso era o que mais importava para mim.

O toque suava na porta ecoou pelo ambiente silencioso que eu trabalhava. O escritório em casa não era muito grande, então todas as paredes eram abarrotadas de fotografias mesmo que eu tenha me mudado pouco menos de dois anos. Quando Felícia aparece adentrando o local, ela percorre seu olhar pelas inúmeras fotos e quando seu olhar cai sobre mim é como um deja vu da sua expressão dias atrás, como se tivesse sido pega novamente fazendo o que não deve. A essa altura já não me importo tanto, tenho tentado esquecer o que aconteceu tanto quanto ela.

– Está ocupada? – ela toma coragem e pergunta.

– Não, só retocando algumas coisas, mas já estou terminando. – digo colocando algumas fotos dentro de um envelope, essas seriam para entregar a Sebastian pessoalmente no outro dia.

Um silêncio cortante se instala entre nós e sou impossibilitada de quebrá-lo. Ainda é uma ideia utópica estar com a minha mãe no mesmo recinto. Passei parte da minha infância e minha adolescência inteira esperando que ela voltasse e de alguma forma retomasse o que deixou quando decidiu ir embora. Mas quando cheguei a fase adulta comecei a ver as coisas como eram. Felícia nunca seria capaz de voltar. Não, até agora.

– Eu vim te dizer... – ela pigarreia antes de voltar a falar – Que consegui achar um lugar para ficar.

O jeito que sua voz soa é como uma verdade óbvia que não deveria ser dita ali naquele momento.

– Isso é bom. – eu respondo simplesmente.

Mas a verdade é que ao invés de sentir alívio, eu sinto um peso no peito. Uma dor familiar que me acompanha desde o dia que ela se foi. Não importa quanto o tempo passe, aquela rachadura em mim ainda iria doer. O mesmo ciclo sendo repetido iria me afetar. Felícia indo embora.

– Será bom para nós duas. – repito e no final das últimas palavras deixo escapar um tom emotivo na voz que ela com certeza percebeu. Estou segurando algumas lágrimas que irão teimar em descer.

Suspiro.

– Olha, Manuela, eu sei que errei no que fiz. Eu não devia ter mexido nas suas coisas, foi...

– Você não devia ter ido embora. – digo em um fio de voz. Não me importo com o que ela fez dias atrás, é apenas uma gota no meio da chuva torrencial que ela me fez passar desde quando deixou meu pai e eu.

Desvio o olhar e volto para atrás da escrivaninha fingindo organizar algo nas minhas coisas para disfarçar as lágrimas que finalmente escaparam e eu enxugo com pressa.

– Eu queria poder tirar isso de você. – Felícia responde e percebo pela sua voz que está emocionada também. – Queria que um dia você me entendesse.

– Não sei se isso vai ser possível. – retruco com sinceridade.

– Nós nunca tivemos a oportunidade de conversar sobre isso.

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⏰ Last updated: Jan 24, 2022 ⏰

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Lost Stars | Mats HummelsWhere stories live. Discover now