5. In Hindsight

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11 de Junho de 2014. – Rio de Janeiro, Brasil.

Mats não conseguia esquecer. Desde o momento que deixou a pousada na Bahia até aquele momento de descontração no hotel onde estava hospedado no Rio de Janeiro, ele não conseguia tirar Manuela de seus pensamentos. Momento ou outro deixava um sorriso escapar como reflexo de seus pensamentos o que o deixava como alvo fácil de brincadeiras de seus colegas de seleção que criavam suposições sobre o comportamento do zagueiro, mesmo que nenhum deles soubesse o que havia acontecido nas últimas semanas com o mesmo.

Ele estava tentando se concentrar na conversa entre Höwedes e Draxler na área de lazer do hotel quando um membro da equipe adentrou o local e o chamou dizendo que tinha alguém querendo o ver. Mats ficou confuso a princípio, mas logo seu coração começou a acelerar com a ideia inusitada de que fosse Manuela, todos os sentimentos em transe dentro dele faziam ele crer que o improvável poderia acontecer, mas pelo pouco de tempo que havia passado com ela, sabia que Manu nunca iria até ali. Era arriscado demais.

Foi quando ao chegar nas proximidades do lobby do hotel se deparou com a figura de uma pessoa pequena e franzina muito familiar para ele. Uma Catheriny estampando um sorriso de orelha a orelha estava ao seu aguardo junto com duas grandes malas enquanto ele tentava continuar caminhando ao seu encontro após o choque que a realidade havia dado nele. Ele mal podia descrever a sensação que tomou conta do seu corpo naquele momento. Era um misto de surpresa com o desespero.

– Surpresa! – ela exclamou enquanto jogava os braços em volta do pescoço do mais alto e o apertava em um abraço que não foi recíproco.

– O que você está fazendo aqui? – Mats não consegue segurar para si a única pergunta que veio a sua mente no momento em que a viu ali, mas se conteve em dizer em um tom baixo tentando conter o descontentamento sem muito êxito.

Cathy o aperta mais ainda no abraço e logo se arrepende do ato.

– Que recepção mais calorosa, Mats. – ela bufou olhando para os pés tentando disfarçar a vergonha que está sentindo. – Quase consigo perceber o seu afeto daqui. – disse ela carregada de ironia ajeitando a bainha da blusa e dando um sorriso amarelo.

– Eu estou falando sério, Catheriny. – ele responde em um tom sério, mas era perceptível a confusão em sua expressão.

Um dos empregados do hotel vem até Catheriny e ela logo trata de entregar suas malas para que o mesmo levasse até o quarto que ficaria. Aproveitando a deixa dele, ela retorna sua atenção ao que ela ainda acreditava ser seu namorado, passando o braço pela sua cintura e puxando o braço do mesmo para que ficasse em seu ombro. Gesto este que Mats reluta em fazer pelo desconforto que cresce a cada segundo dentro do seu peito. Os dois caminham até o restaurante do hotel buscando uma mesa afastada de todos.

– Pensei que tivesse sido claro. – é a primeira coisa que Mats fala quando se senta em frente a ela. Ele percorre as mãos pelo rosto sentindo o peso que tudo isso pode acarretar. Manuela é tudo que há em sua mente. – Um tempo. Eu te disse isso tantas vezes e que quando eu chegasse a Alemanha nós iríamos resolver esse assunto.

– Você não estava falando sério, estava? – os olhos azuis de Cathy quase saltam das orbes quando ela fala.

Mats se sente um monstro por não estar se sentindo culpado pela tristeza da mulher a sua frente. Ele queria poder abraçá-la e confortá-la como o bom namorado que costumava ser. Porém Hummels não amava mais Catheriny como antes. Sabia que nutriria carinho pela mesma pelos anos de relacionamento juntos, mas ele tinha certeza que não a amava mais antes mesmo de Manuela aparecer em sua vida. Mas depois dela, toda vez que o verbo amar aparecia em seus pensamentos era nela que o mesmo pensava.

– Cathy, eu falei para você. – ele reúne toda paciência que tem para falar – No telefone, lembra? Eu estou focado agora mais do que nunca na Copa, e nós estamos dando um tempo e iríamos conversar melhor depois que tudo acabasse. – Mats se atropelava nas palavras, estava nervoso demais com a situação que estava enfrentando por nem ao menos ter se preparado para tal. E tinha medo do que o que ele mais temia viesse a acontecer.

Ele e Manuela não ficariam juntos. Naquele momento, naquela situação, naquela dimensão. Mesmo que ele fizesse de tudo para impedir aquele fim.

Ela o olha incrédula e coloca a mão dramaticamente na altura do coração. Cathy se inclina sobre a mesa com a expressão totalmente distinta da anterior, a frieza toma conta do azul de seus olhos agora enquanto ela parece mais irritada do que triste.

– A mídia ainda não sabe que estamos dando um tempo, Mats. – ela mais ordena do que sugere. – E eu sei que essa é apenas uma ideia passageira sua, vim para cá para passarmos por cima disso, não há momento melhor não acha? Estou aqui para apoiar você. – Cathy se inclina sobre a mesa e toca na mão dele.

– Eu vou fingir que nunca vi essa coisa horrível que está no seu pescoço. – ela puxa a gola da blusa de Mats com o indicador onde surge um pedaço milimétrico do que seria algo de responsabilidade de Manuela, uma mancha roxeada perto do dorso de Mats, algo que apenas Cathy poderia conseguir ver. – Vou fingir que você não transou com qualquer uma aqui no Brasil, e voltar a nossa vida como era antes. Nós iremos voltar com a nossa vida, não iremos?

– Cathy, me desculpa. – ele diz de cabeça baixa.

Mats se sente humilhado, sabe que o que fez fora errado. Com ambas as mulheres, mas sabia que com Manuela havia sido franco o tempo todo, porém sua franqueza poderia se dissipar no momento em que se permitisse continuar com Cathy e isso viesse a público.

– Não posso fazer isso. – ele diz olhando nos olhos da mulher a sua frente.

Hummels sente o desespero tomar conta dele a cada segundo tendo como reação o suor em suas mãos, o frio na espinha. Semanas atrás ele julgava que estava tudo certo, voltaria para Alemanha conversaria com Cathy, diria que o tempo seria definitivo, que não poderia continuar com a relação e tentaria com Manuela como ele via em seus sonhos. Parecia fácil, mas olhando em retrospecto, parecia mais loucura.

– Como não? – ela pergunta como se tivesse ouvido a maior das loucuras.

A pergunta paira no ar sem respostas e fica assim para sempre. Cathy se levanta e provavelmente vai em direção ao seu quarto cedido pela organização aos familiares dos jogadores. Mats fica lá parado e petrificado, por mais que doesse ouvir Cathy o pedindo que eles continuassem, por mais que seu coração gritasse Manuela para todos os lugares, ele sabia que não era tão simples.

Por esta razão nas próximas horas que passou sozinho, tentando achar o x daquela equação terrível que havia virado sua vida, Mats havia decidido o que fazer. Se sentia covarde e imaturo, evitando os problemas e indo pelo caminho mais fácil. Por isso que se sentiu fraco quando se viu fazendo o caminho até o quarto de Catheriny, se sentiu sujo quando disse a ela que continuariam juntos mesmo que não quisesse, se sentiu derrotado quando tudo que passava pela sua mente era Manuela e em como na mente dela eles provavelmente ainda ficariam juntos. Mas nem para ligar para ela naquele momento ele tinha forças, pois era uma verdade que ele buscou evitar durante todo tempo que compartilharam juntos.

Mats Hummels fora campeão do mundo dias depois e mesmo quando festejava o título no salão de festas do hotel, mesmo com o tanto de álcool que havia ingerido, mesmo com várias vozes e música alta, as imagens intercalaram com os momentos que havia passado com Manuela ali naquele país. Por mais que lutasse contra eles, os pensamentos sempre se voltavam. Foi quando se viu se esquivar de todos, parado em um dos corredores vazios do hotel, o celular em mãos e os dedos precisos buscando o contato dela entre sua lista. O som do toque invadindo seus ouvidos, o seu coração acelerando cada vez mais, até a ligação cair na caixa postal. Ele nem se preocupou em deixar um recado, com a visão turva ainda olhando o número de Manuela na tela, Mats colocou o aparelho no bolso e soube que havia provavelmente estragado a única coisa real que já teve com alguém.

Ele e Manuela não ficariam juntos.

Lost Stars | Mats HummelsOù les histoires vivent. Découvrez maintenant