Eu mantenho a minha postura firme, os olhos vagos como se fossem apenas algumas pessoas estranhas, escondo o meu rosto com a câmera. Faço tudo que posso para que 2014 não venha à tona em um segundo, mas tudo escapa das minhas mãos. Um segundo para M...
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Outubro de 2017 – Munique, Alemanha.
Eu sabia que aquele trabalho valeria a pena, mesmo que tudo que eu havia conseguido ler na mensagem de Sebastian fosse o valor que eu iria receber e o local onde o ensaio fotográfico ocorreria. Eu acreditaria que as próximas mensagens, as quais eu propositalmente ignorei, seriam elogios ao meu profissionalismo – ou tomei isso como desculpa para ignorá-las, uma vez que que levantar às seis horas de uma manhã típica do outono bávaro poderia ser considerado um grande desafio.
Quando entrei no táxi as sete e quinze e disse o endereço ao motorista surgiu o pensamento de que se eu ficasse permanentemente em Munique teria que trabalhar pelos próximos meses até conseguir um bom dinheiro para comprar um carro. Para quem havia se acostumado a dirigir o carro do pai enquanto morava no Brasil, e ter o carro da melhor amiga disponível quando passou uma temporada em Londres, eu estava me sentindo deslocada indo de táxi e uber para todos os cantos.
O prédio alto e monumental se estendeu sobre mim quando o carro parou bem em frente, eu paguei o motorista e saí a caminho das portas giratórias. O clima interno do edifício estava controlado com o aquecedor, mas eu iria esperar até subir ao estúdio para ter que tirar o meu casaco. Demorou alguns minutos até o elevador parar no piso de destino. Tive que dizer o meu nome para um homem enorme que estava na porta e ele riscá-lo da prancheta em suas mãos. Eu até me perguntei se estava indo para uma festa VIP de uma balada no centro da cidade ou um ensaio fotográfico. Isso deveria ter ligação direta com quem eu iria fotografar. Talvez fosse uma modelo da Victoria's Secret.
O estúdio era bem amplo, uma mesa enorme com alguns equipamentos em cima e câmeras estava a poucos metros a minha frente. Eu consegui avistar Seb parado exatamente ao lado da mesa conversando com uma mulher que tinha altura aproximada ao ombro dele, ela tinha cabelo loiro em um corte chanel e estava com um pincel de maquiagem em mãos. A minha visão se voltou para o meu lado direito, e algum sinal do além deveria ter me avisado que isso não seria uma boa ideia. Poderia ser qualquer coisa.
Meu coração se agitou dentro do meu peito e de repente minhas mãos começaram a suar. Calculei que a minha única opção seria desviar o mais rápido possível, voltar por onde entrei. Sebastian ainda não tinha me visto, se eu voltasse para casa e dissesse que não tinha me acordado disposta, tudo aquilo poderia ser revertido. Esses pensamentos dispararam em minha mente em questão de segundos, mas eu tinha que ser a pessoa mais azarenta e desastrada do mundo.
Quando virei em uma velocidade que nem eu sei como foi possível para a direção oposta, um rapaz, que estava com uma bandeja com cinco – ou eram seis? – copos d'água, trombou em mim. A bandeja virou toda por cima dele que com o impacto do esbarrão foi ao chão. Eu fui da pessoa que menos queria atenção de todos ali, principalmente de certo alguém, para a pessoa mais observada.
