11. What if I'm someone I don't want around?

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Duas semanas se passaram como se fossem dois anos. E para falar a verdade parecia que a cada dia que Felícia passava comigo eu estava até começando a me acostumar com a presença dela. Nos dávamos bem na medida do possível. Desde nossa conversa no dia em que ela chegou, ela pareceu entender os limites que existiam entre nós e parecia ter cuidado em não os ultrapassar, embora em alguns momentos, quando havia um silêncio após alguma fala dela como quem ainda estava pensando no que falar, dizia o contrário. Mas depois de sentir mudanças ocorrendo em mim, talvez se ela tentasse eu não recusasse mais.

Eu era assim, não podia negar. Apesar de minhas barreiras parecerem bem resistentes, bastava um par de boas ações, respeito e conversa para que eu pensasse em amolecer.

Durante aquelas semanas minha rotina estava estabelecida em ir ao trabalho, fazer algumas sessões de foto durante o fim de semana e voltar para casa. Incrivelmente durante o tempo que ela estava hospedada no meu apartamento o trabalho havia ocupado tanto minha mente que quase não podia me preocupar. Ainda causava um certo desconforto em alguns momentos, mas nada tão insuportável.

Eu estava a caminho de casa em mais uma sexta-feira após o trabalho, naquele dia marcavam exatos catorze dias em que ela estava praticamente morando comigo. Quando aquela ideia inusitada me assolou semanas atrás eu pensei que não seria capaz de passar por aquilo, havia ligado para o meu pai no mínimo uma vez por dia, mas quando comecei a me acostumar com a ideia e aceitar o tempo pareceu fazer seu trabalho e passar rápido. Dentro do uber sinto meu celular vibrar dentro da bolsa menor que carregava e o retiro de lá.

– Manuela? – Felícia inicia do outro da linha assim que atendo a chamada.

Havia dado meu número a ela durante esses dias caso precisasse de algo enquanto eu estava fora.

– Sim, você está bem? – digo em resposta.

– Ah... Sim, querida, tudo bem. – algo na sua voz me dizia que nem tudo estava bem. – É só que eu acabei me machucando enquanto fazia o jantar para nós. Queria saber se você tem uma caixa de primeiros socorros?

– Sim, tenho sim. – tento buscar na memória onde havia deixado da última vez que usei há bastante tempo. – Está na cômoda no meu quarto, ultima gaveta, é uma caixinha vermelha.

– Obrigada, Manu.

– Eu já estou quase chegando, ok? – digo deixando escapar um fio de preocupação, havia sentido um aperto no coração quando ela havia dito aquilo, um senso de proteção me assolou para que eu chegasse o mais rápido possível.

Cheguei em menos de uma hora em casa depois que desliguei. Caminhei até meu apartamento e destranquei a porta. O ambiente estava esquisitamente silencioso. Pensava que assim que Felícia fizesse o curativo ela estaria transitando pela sala ou cozinha como geralmente eu a pegava fazendo assim que chegava em casa em outros dias. Mas estava tudo silêncio o que fez minha preocupação aumentar. E se não fora apenas um machucado e sim algo mais grave?

– Felícia? – a chamo enquanto deixo as minhas coisas próximas a mesinha de centro da sala.

Não houve resposta, nem na primeira e nem na segunda vez que chamo. Mas algo em mim dizia que ela estava ali, talvez fosse o som mínimo de movimentação vindo do corredor. Foi então que eu resolvi ir em direção ao meu quarto de onde o som vinha. A porta estava entreaberta e quando eu finalmente a empurrei de leve pude ver algo que fora como se tivesse jogado um fósforo em cima de algo que estava coberto de gasolina. Senti minha pele queimar naquele momento.

Felícia estava com a caixa em mãos, mas as fotos estavam espalhadas pelo chão do quarto quando ela minunciosamente analisava todas elas. Tinha fotos minhas e de meu pai, fotos de Liz e de seus pais, fotos minhas que eu havia tirado, e foto minhas com aqueles que eram as pessoas mais importantes da minha vida. Perto do seu pé a foto de Mats que tirei no momento que o vi pela primeira. E em suas mãos a foto do pôr-do-sol. Aquela que busquei dentro daquela mesma caixa meses atrás quando tentava de algum modo encontrar uma resposta.

Lost Stars | Mats HummelsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora