Investida

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"É mais fácil construir crianças fortes do que consertar adultos quebrados"

- F. Douglass

Pensava Atena enquanto limpava a casa. Tinha lido essa frase no jornal durante a caminhada até o trabalho. Normalmente ela sempre fazia as coisas cantando, mas tinha vergonha de Izabelli, já que tinham se conhecido há apenas um dia. Aparentemente tudo estava próspero para que ela continuasse trabalhando ali. Atena, como já sabemos, tem uma personalidade conturbada por falta de instrução dos pais que também tinham a mesma personalidade, só que aparentemente piores. Atena não era um inteiro disso. Tinha bondade também.

Enquanto fazia o serviço do qual era encarregada, ela era observada por Izabelli, não se intimidava, mas se sentia um tanto desconfortável com a situação. Nunca tinha trabalhado antes em casa de família, sempre fazia bicos em que não durava muito no serviço por achar que aquilo não lhe enricaria. Eis os lugares onde ela tinha trabalhado: Sorveteria, restaurante, lotérica, respectivamente. Foi para a casa dos Bertrand muito mais por interesse que pelo trabalho, por isso fazia tanta questão de ter os bons olhos de Izabelli. Caso se tornassem amigas, ela poderia ganhar muitas coisas com isso.

Sempre conversavam, já que geralmente a casa vivia vazia. Em meio a tantas conversas Izabelli deixou escapar que tinha um sobrinho, obviamente que Atena sabia que era Bernardo, era um homem conhecido, mas não disse muito sobre. Neste mesmo dia Izabelli saiu de casa para visitar uma amiga e andar. Durante a tarde em que Izabelli esteve fora a casa Bertrand recebeu uma visita. As escadas e a grande porta verde da família Bertrand foram usadas por um homem com capa de couro curtido, chapéu com tira escura e terno muito bem feito. Bateu á porta.

Atena atendeu entusiasmada como todo começo do serviço. Quando se deparou com o homem viu que era alto, bonito, tinha boa aparência, boa vestimenta e bons dentes, aquilo lhe tirou qualquer sensação de perigo. O homem sorriu e falou.

- Boa tarde. - Disse tirando o chapéu, mostrando seu cabelo muito bem penteado e brilhante.

- Boa tarde, senhor... - Disse Atena sem jeito

- Senhora Izabelle Bertrand, por favor.

- Desculpe, senhor. Ela não está.

O homem respira meio tanto de pulmão e pergunta novamente.

- Entendo... Há alguém com quem eu possa conversar? Alguém responsável pela casa.

- Bem... - Atena titubeou - Creio que pode falar comigo ou...Deixar um recado. Entre.

O homem entrou e se sentou na poltrona. Olhou a sala inteira de um modo bem discreto.

- Muito bem, pegue um papel. - Diz ele acomodado

Atena foi buscar o papel deixando a sala inteira para aquele estranho que ela sequer sabia o nome. O estranho se levantou da poltrona e andou pela sala olhando o que tinha ali. Viu muitas coisas, inclusive bebidas, o incomum é que elas foram usadas.

Assim que Atena voltou com um papel ele perguntou:

- Há algum homem morando aqui?

Atena ficou desconfiada, dessa vez se sentiu alerta quanto a situação.

- Desculpe, mas seu nome é...

- Ezequiel. Ezequiel Durov. - Disse ele beijando a mão de Atena - Desculpe a falta de educação.

Neste mesmo momento em que Atena recebia um beijo na mão, Izabelli entra pela porta. Atena se sentiu aliviada.

- Este homem está a procura da senhora, senhora Izabelli.

Izabelli o olha sem nenhuma tentativa de disfarçar a desconfiança. Ezequiel beijou a sua mão e se apresentou. Atena é dispensada, mas não vai para longe... Fica o quarto do lado da sala, antes do corredor para escutar tudo o que está acontecendo.

- Podemos nos sentar, senhora izabelli?

Os dois se sentaram e Ezequiel foi direto.

- Senhora Izabelli, estou a procura de Bernardo Bertrad. - Diz sério

Atena fica pálida, põe a mão na boca. Tinha sabido da história de Bernardo. Ao que parece, o que todos sabiam é que ele estava fugido e que era perigoso. Izabelli se assusta com o assunto, mas logo se recompõe.

- Infelizmente não sei onde meu sobrinho está. Não posso lhe ajudar.

- É mesmo uma pena... Sou o representante de uma editora da capital do estado de Congonha e nos interessamos pelo belíssimo trabalho do seu sobrinho. Como não encontrei a casa dele, ao que me parece, foi despejado da propriedade, não foi? Me indicaram a sua casa.

- É verdade, mas não sei nada sobre ele. - Diz ela se levantado e abrindo a porta - Queria muito poder lhe ajudar, senhor Ezequiel, mas realmente não tenho informação nenhuma sobre Bernardo e queria que o senhor tivesse a fineza de me visitar outra hora. Não me sinto disposta agora para falar sobre isso.

Atena ficou assustada com a grosseria de Izabelli e viu que com toda essa reação e essa visita no mínimo estranha, alguma coisa está acontecendo. Se manteve atenta.

Ezequiel teve uma reação esperada, se manteve calmo e depois de alguns segundos de reflexão foi embora, antes de sair pela porta falou:

- Peço desculpas pelo incômodo. Caso saiba algo sobre o paradeiro de seu sobrinho, aqui está o meu cartão...

Izabelli aceitou e se despediu. Assim que entrou jogou o cartão em cima da mesa. Logo que izabelli entrou para o quarto com a mão massageando as pálpebras, Atena entrou na sala, pegou o cartão e o guardou no bolso. Passou horas ali pensando que um dia isso lhe poderia ser útil.

- Atena! - Gritou Izabelli

Atena andou rapidamente até o quarto e encontrou Izabelli deitada na cama.

- Em que posso ajudar, milady?

Izabelli se sentou na cama com um olhar sério e disse:

- Pode começar não deixando aquele homem entrar mais aqui. Se ele chegar diga que não estou ou que estou indisposta. Entendeu?

Qualquer um que sabia da história e que pôde ouvir aquela conversa, perceberia que havia algo muito mais profundo ali. Atena concorda abaixando a cabeça.

- Muito bem. Agora faça um banho de sais para mim. Vá.

No caminho entre o quarto e o corredor, alguém bate à porta. Atena fica preocupada pelo horário. Izabelli aparece atrás dela, tinha se levantado da cama. Uma olha para a outra com um olhar de medo. Izabelli vai até a porta seguida por Atena. O olho mágico estava quebrado, não se sabe como, mas estava quebrado...

- Quem é!? - Grita Izabelli

- Um querido! - Diz uma voz estranha.

De repente Izabelli não sentiu mais medo e abriu a porta com um leve sorriso.

Na porta:

- Um homem

- Capa preta

- Capa preta

- Chapéu escuro encobrindo o rosto

- O escuro da noite


O Portador de memórias - Para jovens idososOnde as histórias ganham vida. Descobre agora