De onde vem?
As boas histórias de terror que meu pai costumava contar perto da fogueira? De onde vinha a fogueira que afugentava os bichos enquanto dormiamos juntos? As tardes que a chuva batia à janela, e nos deixava de cara emburrada por ver aquelas poças lindas e imaculadas a espera de alguém que as desse a felicidade de envolver alguém? Os travesseiros banhados em suco de sentimento que durante a noite reclamavam do frio das lágrimas que derramamos porque mamãe disse "hoje não!"?
De onde vem?
Será que vem dos mesmos lugares que as reprovações daquela professora que tinha buço e me odiava porque eu ria dela, das dores de barriga depois das latas de goiabada cascão na vendinha, das cólicas e dos desatinos atônitos e catastróficos que eram causados da má sorte de ter cruzado o caminho de alguém que poderia ser "tudo" e contentou-se somente em ser alguém?
Pois se vier de lugares diferentes, fico mais aliviada em saber que as borboletas no estômago e as sujeiras antecedentes dos tremeliques vindos da coça de mamãe não tem a mesma origem. Prefiro pensar que meu romantismo exacerbado e incorrigível me fez flutuar mais uma vez com os intestinos em guerra virando nós de nós direto pra uma casinha de tiês despenados que dá de fronte com a janela do teu quarto desarrumado, do qual sempre reclamo.
Busco o sol logo mais cedo, o quão cedo eu puder somente pra te assobiar cantigas que na letra te levem um bom dia, dizer que ele o espera; torcendo para que o verbo resolva mudar de pessoa e quando o fizer se conjugue no infinito para que nosso sentimento nunca tenha fim, nesse infinito dia de hoje que nos espera.
- Camila M. F. Duarte ( CamilaMFDuarte )
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O Portador de memórias - Para jovens idosos
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