Sonho de morte

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    Mais um dia que amanhece e ao que parece, como sempre, eu não sou um dos primeiros a levantar. Ando pelo jardim e vejo um enfermeiro encostado em uma pilastra e me sinto na obrigação de conversar. Ele parece solitário...


    E cá estou eu no fundo da desgraça e pensando em tentar resgatar alguém que nem sabe a forma da própria.


- Olá, milord.


Ele me olha com cara de desdém, como se eu não tivesse capacidade mental de ter uma conversa.


- Se quiser causar problemas, vá para o outro lado com seus amigos: D. Pedro I e o Capitão Gancho.

- Fico feliz que tenha lembrando o nome deles e, eu não estou dopado, senhor. Vim apenas porque achei incomum alguém que cuida de nós parece precisar de ajuda.

- Qual é o seu nome?

- Bernardo Bertrand, e o seu?

- Matheo.

  Nesse momento eu senti uma expressão mais agradável que a anterior. Sentamos em um banco e ele me contou sobre seus problemas. Problemas do tipo como a mãe de seu filho, a qual levava todo o seu dinheiro e depois me fez uma confissão:


- Sabe, Bertrand, é uma honra poder conversar com o senhor. Sinceramente não entendo o que se sucede na vida. Um homem de nome como o senhor não deveria ter traços de loucura e muito menos estar aqui.

- Desculpe, mas não estou entendendo...

- Eu perguntei seu nome apenas para saber se estava mesmo sóbrio. Aqui todos o conhecem.

- E quem sou?

- Escritor de prosas e poemas, Bernard Bertrand Guimarães. Suas colunas são famosas em jornais grandes da capital.

Talvez isso explique minha necessidade impulsiva pela escrita, mas não posso acreditar... Eu lembraria! Como poderia não lembrar!?


- Desculpe, senhor Bertrand, mas está na hora da sua medicação...

    Apenas ando, como um animal em espasmo antes do abate, ando. As luzes logo se apagarão, preciso saber o que foi de mim, se ainda tenho parentes ou se ainda tenho vida. Esse carcereiro irá me ajudar a sair desse sonho de morte. Há de ajudar.

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Próximo capítulo: Os destroços


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