Chronos

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    Miranda olhou para mim como se quisesse encostar o seu corpo no meu e me abraçar, mas não o fez. Eu... Eu queria ter contado mais, mas não consegui. Conto outra hora, talvez.

- Desculpe. – Disse me recolhendo

    Desembaracei a minha perna da perna dela e sentei na cama me encostando na cabeceira. O rosto dela dizia muito, mas a boca não. Ela parecia aflita por não conseguir fazer nada.

- Não tem problema, amor, não precisa contar mais se não quiser... – Me abraçou guardando a sua cabeça no meu peito.

Sentar na cama me fez olhar pra frente de um modo diferente...

- Cabelos de Miranda

- Livros

- A luz da lua

    Quando olhei pra frente, vi naquele pequeno quarto, do lado direito, uma janela aberta fazendo a luz refletida da lua invadir o quarto e banhar tudo o que há. Eu podia ver cada átomo esbarrar na luz e sair sonhando. Nem parecia noite. Paro pra perceber o que está ao meu redor e vejo o que estou fazendo. Uma mulher maravilhosa do meu lado e eu aqui imaginando "As moléculas". Meu pai sempre esteve certo, eu sou um bundão com mulheres mesmo...  Eu poderia pensar mais sobre isso, ou até fazer alguma coisa, mas o tempo está parado, tudo está congelado. Agora que o tempo já parou pra mim, vou aproveitar. Me levanto, fico debruçado na janela, olho a lua e me viro pra Miranda na cama sendo banhada pela luz. O tempo volta a correr, Chronos deve estar brincando comigo.

- Volta pra cá... – Disse ela enquanto eu olhava as suas pernas se mexerem por baixo do lençol.

    Então volto para a cama e me deito. Os olhos dela pareciam me querer,  eles queriam., muito  Eu não estou com jeito pra nada disso, mas ela parece não perceber. Quando me deito na cama sinto que vou desapontá-la.

- Se importa se eu dormir agora? – Digo sem jeito

- Não... – Diz ela como se as palavras não tivessem importância.

    Me deitei e me cobri, virado pro lado da parede, de costas pra Miranda. De repente ela também se cobre. Deitou no meio da cama, depois mais perto de mim, então abraçou as minhas costas. Sinto as suas pernas estiradas com o peito do pé escorregarem pelas minhas pernas e a sua respiração na minha nuca se torna mais intensa.

    Ela começa a beijar a minha nuca e a partir desse ponto já sinto que é inevitável algo não acontecer. Me virei de frente pra ela já com a respiração quase ofegante. Com uma mão prendi a sua nuca e os cabelos entre os meus dedos me instigaram, com a outra puxei a sua cintura até mim, ela soltou um leve gemido e começamos a nos beijar. A mão dela começou a procurar lugares abaixo do meu peito e não demorou muito pra que a minha mão saísse da cintura e ganhasse terreno por baixo da camisola. O jogo de pernas era incessante, estávamos pegando fogo. Logo a camisola não existia mais e eu já tinha desenhado todo o seu corpo com a boca.

    De repente escuto um tilintar, como pequenos sinos, não me importo com o som. Miranda tira a minha calça e começa a me beijar desde acima dos joelhos e me prende na cama, o som dos sinos fica mais forte, Miranda já estava em cima de mim com uma mão na minha barriga e a outra segurando as minhas coxas na cama quando...

- Bernardo.

Mais alto

- Bernardo! 

Sinos

- Bernardo!

    Vejo um clarão. Miranda está do meu lado com um café da manhã completo. Não acredito que isso tudo foi um sonho. Ninguém entrou no meu quarto depois que eu dormi...

- Está tudo bem? Você está ofegante... – Diz ela enquanto me dá um beijo

- Sim, sim, acho que estava sonhando... – Digo com um claro desapontamento

- Com o que sonhou? Deve ter sido algo muito ruim, você está quase suado!

- Não! Foi bom! Sonhei que estávamos correndo em um campo de flores, só lembro disso. – Respondo coçando a cabeça

Ela sorri e fica corada.

- Depois do que aconteceu ontem pensei que o melhor remédio seria o tempo, você ficou abatido, pensei que ficar sozinho seria a melhor opção... Mas fico feliz que esteja bem agora, meu amor! – Ela parece radiante e alegre, sempre meiga

- Está tudo bem sim, como pode não estar bem com café da manhã na cama? – Sorrio

- Achei que fosse gostar – Se senta na beirada da cama- mamãe voltou pra casa bem cedo, disse que tinha assuntos, mandou um abraço e desejou melhoras. Tu não sabe o quanto ela gostou de ti!

- Sei... Também gostei dela... - Digo bebendo o suco de manga que estava na bandeja

    O rosto de Miranda se contrai um tanto. Ela sabe que eu não confio em Celina, mas eu sei que ela também fica com um pé atrás. Tem coisas que não sei sobre Celina, coisas que nem mesmo Miranda sabe sobre a própria mãe. Como posso confiar em uma pessoa que deixa essa primeira impressão? Mas uma coisa acredito que possa ser verdade, ela ficou muito feliz pela filha, Miranda passou por vários momentos horríveis na vida e agora está aqui do meu lado, feliz. Ela está radiante e me fazendo feliz também, nem ela sabe o quanto.

    Deixei a bandeja num canto e a chamei pra se deitar ao meu lado, sentamos na cama e ela encostou a cabeça no meu ombro abraçando o meu braço.

- O que vamos fazer hoje? – Perguntei com um sussurro

- Não sei. – Respondeu com um sorriso que não cabia no corpo.

Miranda me soltou e ficou sentada na minha frente.

- Ah! Quase me esqueço! Mamãe deixou uma carta pra você. Quer lê-la agora?

O que essa mulher quer agora...


O Portador de memórias - Para jovens idososOnde as histórias ganham vida. Descobre agora